sábado, 14 de abril de 2012

Fones de ouvido

Vocês mais jovens nem devem saber o que um dia foi um walkman. Eu tive um, nós usávamos fitas K7 para ficar ouvindo nossas bandas com os fones de ouvido. No início, esses equipamentos eram enormes. Peguem os filmes americanos antigos. Teve um tempo que se usava um minissystem nas costas ouvindo rap. Já fiz excursões levando rádios com CD, o que era uma novidade quando eu tinha lá os 14, 15 anos. Nós dependíamos de pilhas, das grandes. Vocês mais jovens nunca devem ter precisado dessas pilhas grandes.

Já faz dias que vinha pensando nos fones de ouvidos e em como a música me transforma. Sei que isso pode parecer simplório, e no fundo acho que é mesmo. Eu me transporto para outro lugar quando coloco os fones de ouvido. Ali, no meu mundo sozinho, com as canções que eu gosto, me sinto em paz. Não importa se o ônibus estiver lotado, se a viagem vai ser longa ou se nas ruas tem um monte de gente cuidando se meu tênis é de marca. Meus fones de ouvido muitas vezes são mais legais que muitas festas da cidade. Tudo bem que as festas aqui da cidade não podem ser chamadas de parâmetro de diversão, mas enfim. Sei de gente que consegue dançar loucamente só com seus fones de ouvido, e sinto uma inveja enorme porque pessoalmente sinto vergonha de fazer isso, embora a vontade esteja sempre presente (de qualquer forma, não sei dançar, enfim).

O legal é como ficou socializado o lance do uso dos fones de ouvido. Nos transportes coletivos, são muitas as pessoas usando. Aliás, ônibus lotado é um dos lugares mais solitários do mundo. Na maioria das vezes, você não conhece ninguém e viaja ao lado de estranhos por mais de 10 minutos. Sem trocar uma palavra. Nos veículos que pego, acompanho uma desconhecida, uma garota de seus 16 anos, há pelo menos um ano. Sempre que me atraso e perco o ônibus ideal, acabo topando com ela, e já devemos ter dividido assentos pelo menos umas oito vezes. Nossas conversas são sempre iguais: “com licença”, “obrigado”. E só. É a solidão que não oprime, quando você está cercado de gente.

E os fones de ouvido fazem com que essa solidão aumente ainda mais. De certa forma, uso eles para fugir de tudo aquilo que vai me incomodar no ônibus, como alguém empurrando para pegar um lugar próximo à porta, gente gritando ao telefone, alguém que sem querer pisa no seu pé e mais coisas que não lembro. Os fones de ouvido não são nenhuma novidade, mas a portabilidade dos aparelhos mudou comportamentos. Noutras cidades, é lei usar os fones de ouvidos porque muitos simplesmente querem que todos em determinados espaços ouçam as mesmas músicas que ele gosta. Não se trata de privar a liberdade de ninguém, mas as pessoas deveriam saber que sua liberdade no fundo é muito limitada. E transgredir só para incomodar é uma tremenda aberração. Desde os tempos do walkman (aquele equipamento que devia pesar meio quilo com a fita) curto os fones de ouvido. Neles exerço minha liberdade, canto em voz baixa, imito um baterista apesar de nunca ter tocado, mexo os pés no ritmo da música e até, muitas vezes, sinto vontade de dançar loucamente e cantar em voz alta. Mas guardo a vontade só pra mim...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O velho tipo de otário moderno

Compreendo e apoio o cara que trai a mulher que tem em casa porque ela está sempre se queixando da vida, não cuida do corpo, cabelo e ainda rói as unhas. Convenhamos, um cara que pula a cerca por ter uma mulher assim e só não a abandona por pena, ou pelos filhos, merece ser entendido. Aquela esposa, namorada ou rolo que fala pelos quatro cantos da vida dos outros, não abre um sorriso quando sai para um jantar entre amigos e que no sexo se comporta como uma geladeira de pobre não merece fidelidade. Geladeira de pobre porque é fria por dentro e quando se abre está sempre vazia. Não, amigo, você não precisa ser fiel a um monstro desses. Ligue já para um taxista e peça uma corrida para a zona mais próxima.

Agora, vamos ao que realmente quero falar. O velho tipo de otário moderno é um conceito que acaba de ser inventado, embora as características, como o nome já diz, sejam antigas e antiquadas. Parece contraditório e muito provavelmente seja, afinal eu nunca disse que nada disso precisava fazer algum sentido. Mas pensem. Não é incrível o número de homens bem servidos em suas casas, com companheiras amorosas, carinhosas e verdadeiras máquinas de fazer amor que optam por abandonar essas deusas por compromissos questionáveis. Não gosto de julgar (mentira), mas avaliem vocês, leitores queridos. Vocês deixariam de lado uma Angelina Jolie, aquele perfil de mulher moderna, linda, corpaço e que trabalha e resolvida para se dedicar a um treino ou uma luta, por exemplo. Treino esse onde seu corpo vai acabar ficando suado se enroscando com o corpo de outro homem... Não estou sendo homofóbico, muito antes pelo contrário. Só reflitam sobre isso.

O velho tipo de otário moderno dedica horas a um carro, ao futebol, até ao vídeo game, do que a estar ao lado de uma mulher que o torna um cara melhor, menos otário, menos cafajeste. E por incrível que pareça, conheço amigos que têm dentro de suas casas mulheres maravilhosas, mas que mesmo assim seguem frequentando as boates onde trabalham apenas meninas (com pouca roupa). Eu entendo a diversão do lugar, já frequentei nos tempos em que acreditava que toda experiência era válida (viu amor, eu não vou mais à zona). Só ainda não compreendo o que mais, além de amor, atenção, carinho e fidelidade um homem pode querer de uma companheira. Porque antes mesmo de a mulher do cara ser a mulher do cara, ela precisa ser companheira. Rir, discutir, incentivar, questionar, a companheira participa. A amante só abre as pernas.

Será que do alto de nossa estupidez machista acreditamos realmente que temos imunidade total a um par de chifres? Será que de tão otários achamos que elas vão estar lá nos esperando e jamais duvidar de nossa honestidade que chega a ser política? Será que somos seres assim tão estúpidos que só conseguimos dar valor às coisas que perdemos? Sinceramente, o velho tipo de otário moderno está completamente fora de moda. Até porque, acredito eu, hoje as mulheres querem o cara que possui todas as qualidades positivas de um cafajeste, mas que tem olhos, braços e amores apenas para uma mulher. E nada mais.