Essa história real, por questões pessoais, não foi para o
jornal no dia seguinte, como acontece com os fatos do cotidiano cachoeirense.
Fiz a opção de não transformar o ocorrido em fato jornalístico. Trago agora
para que vocês possam conhecer um pouco do que vi da atuação da secretária de
Trabalho e Ação Social, Fátima Lamb. A atitude que ela teve no dia em que isso
aconteceu rendeu minha admiração.
Eu não conhecia a secretária. Para falar a verdade, ela era
do serviço de orientação estudantil do Borges de Medeiros quando lá estudei, no
início dos anos 2000, então logicamente eu a temia sempre que fazia coisas que
não devia na escola. E sim, eu fiz muitas coisas na escola que não devia. Mas
ainda assim, não conhecia a secretária. Eu também sabia que ela é esposa de um
dos melhores professores que tive na vida, o Carlos Henrique Lamb – com quem a
hoje vice-prefeita Mariana Carlos, na época minha colega, discutia afiadamente
nas aulas de geografia.
Estive na Prefeitura fazendo a cobertura do anúncio da
nomeação de Fátima como secretária municipal para uma área em que (devo
reconhecer) não acompanho o trabalho de forma tão próxima como deveria. Vou
parar de enrolar vocês e contar logo a história, e vocês depois julgam como
acharem melhor. Para mim, a atitude da secretária Fátima e da assistente que
estava com ela naquela noite fria de inverno cachoeirense foi um gesto raro de
humanidade nos dias atuais.
Um senhor de idade avançada havia se postado à porta do
Sistema Fandango de Comunicação, estaria embriagado. Imagino que ele sofra de
alguma doença e dava para perceber que era depressivo. Faz muito tempo que
entendi que alcoolismo não é sem vergonhice, e sim uma doença séria e que
precisa de muita ajuda para ser vencida. Este senhor, a quem omito o nome de
propósito, parecia não ter familiares em Cachoeira e insistia em passar a noite
ali, no chão, numa das noites mais frias do ano.
A secretária e a assistente apareceram, na calada da noite,
fora de seu horário normal de trabalho, para ajudar aquele homem. Aliás, um
senhor cuja sabedoria e conhecimento imagino que eu jamais alcance. Um homem
letrado, destruído pelas circunstâncias da vida. Numa sacola carregava pequenos
objetos, pude notar que não levava esperança em nenhum dos bolsos do casaco que
vestia. E elas ouviram aquele senhor, lhe deram atenção. O convidaram para sair
dali e ir para o hospital, se alimentar. Quem conhece os males da bebida sabe
que o doente normalmente não quer ser ajudado.
Aquele senhor não queria, disse que ficaria ali, que não
temia o frio. Não imagino cidadãos que não se emocionariam com aquela cena. Com
tamanha insistência, o senhor acabou aceitando a proposta de sair para fazer um
lanche acompanhado das profissionais da Prefeitura. O nosso colega de Sistema
Fandango de Comunicação, o seu Airton Lima (que tem o costume de me chamar pelo
sobrenome), também se comprometeu e acompanhou o grupo, já que esse era um
pedido daquele homem. Muitos podem julgar e dizer que era obrigação da
secretária e da profissional fazerem isso, afinal até para gestos bonitos há
alguém para criticar. Mas eu vi o que ela fiz e falei para meus colegas naquele
dia de como havia ficado impressionado com aquilo. Aquele dia, preferi não ser
jornalista e não escrevi nada do que havia ocorrido para não expor aquele senhor
sem necessidade. No entanto, precisava fazer de alguma forma o reconhecimento
da atitude destas três pessoas, a secretária Fátima, a assistente Mariele Lopes
e o seu Airton. Ainda há pessoas carregando um pouco de esperança para nosso
mundo.
Artigo publicado no jornal O Correio, dos dias 31 de agosto e 1º de setembro de 2013.