sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sociedade adoradora de imagens

Ele não fazia parte daquele círculo social da cidade interiorana, embora tivesse capacidade de articular diálogos inteligentes e até mesmo propor soluções administrativas para o desenvolvimento de sua cidade. Ele não se vestia de terno, nem tinha carro para passear na rua principal da cidade como faziam os outros jovens. Não tinha dinheiro para gastar descompromissadamente como muitos conterrâneos e o irritava aquela ostentação de imagens daquela sociedade adoradora de imagens.

Nos últimos anos, assistira a verdadeiros castelos começarem a ruir e isso o inquietava, pensava em abandonar sua terra. Ele não se sentia parte nem da própria família, dividida por ganâncias e disputas fúteis de poder em uma empresa falida. Ele não teve possibilidades de cursar uma faculdade, trabalhava e recebia o suficiente para se sustentar. Mas ele tinha muita vontade de fazer parte daquele círculo de pessoas admiradas.

Um dia desistiu, cansou de querer que o futuro chegasse num estalar de dedos e permitiu-se aproveitar a vida a cada segundo, a cada sorriso, sentindo amor em cada abraço, notando cada sentimento como se fosse realmente o último. Acompanhava a vida através de uma janela e diariamente revelava suas angústias ao mundo, sendo admirado por poucos, mas verdadeiros amigos.

A sociedade adoradora de imagens e ostentadora de castelos prestes a ruir deixou de lhe interessar, não queria mais ser reconhecido como um sábio quando percebeu que na verdade era governado por um bando de ignorantes. Permitiu-se ajudar, embora discordasse de muitas iniciativas das esferas do poder. Não fez nada pensando em retorno, apenas em um lar melhor para seus poucos, porém verdadeiros amigos. Ele não teria dinheiro, nem seria reconhecido, mas seu nome, mesmo assim, seria lembrado um dia. Mas não pela sociedade adoradora de imagens, e sim por seus valorosos amigos.

2 comentários:

Vivi Herrmann disse...

Viiini, o que o Green Day não faz hein ;). Huashuas... simplesmente adorei o texto.
"Ele não teria dinheiro, nem seria reconhecido, mas seu nome, mesmo assim, seria lembrado um dia", lindo lindo lindo.
Beijão

Telmo Padilha Cesar disse...

Continue escrevendo, um dia vai fazer sentido.