A primeira reportagem que assinei teve chamada de capa no jornal, mas a foto da capa não foi batida por mim, e sim por um colega (hoje, meu amigão) que estava me ensinando a profissão de repórter. Cidade do interior é assim, tu vai pra rua e tem todo um glamour, um lance de correr atrás da informação, fotografar cenas interessantes e depois juntar tudo aquilo e transformar em uma manchete, sentado à frente do computador, sozinho com meus pensamentos procurando encaixar cada palavra com perfeição e a declaração mais importante no lugar certo. Escrever é uma intervenção cirúrgica e quanto mais bem feita a operação, mais fácil será para o leitor compreender a mensagem.
Apesar de sentir vontade de admitir que aquela primeira matéria fez com que eu me apaixonasse pelo jornalismo, é preciso dizer que a correria diária torna tudo encantador. É telefonema para tudo que é lugar, uma busca incessante por informações confiáveis e o confronto final de versões, alheio à preocupação de apenas contar a história sem tomar um partido.
Lembro de ter ficado frustrado justamente porque a foto não era minha, a primeira matéria e não fui capaz de apertar o botãozinho da câmera pra fechar a matéria com barba, cabelo e bigode – quanta incompetência. De qualquer forma, a foto se enquadrou perfeitamente com a matéria e foi estampada na capa. Foi com o tempo que aprendi a captar com as câmeras o momento certo de uma boa foto, com o ângulo certo. Na verdade, sempre me dediquei mais ao texto do que às fotos, embora registrar um momento seja importantíssimo no jornalismo.
Sei que uma boa foto tem o poder de atrair os olhares para a reportagem e muitas vezes, dependendo do contexto, elas podem acabar eternizadas e se tornarem retratos históricos de um fato importante. Mesmo assim, essa magia de ficar horas à frente de uma máquina pressionando as teclas com cuidado, contando histórias da política, acidentes ou episódios do cotidiano popular é o que mexe comigo, é o que me faz querer sempre mais, explorar novos mundos e chegar a uma reportagem digna de troféu para pendurar em uma estante cheia de pó... Não, não é isso o que me encanta. O melhor prêmio que recebi até hoje como jornalista foi ter retratado o drama de uma mulher que não possuía casa.
Depois de publicada a reportagem, as autoridades entregaram um lugar para a mulher viver com seus dois filhos pequenos. E um dia, passando pela rua, ela me agradeceu com lágrimas nos olhos. É isso o que quero como jornalista, melhorar a vida do povo com meu trabalho.
3 comentários:
sério, emocionante! Parabéns *-*
Tá lindo mesmo... adorei!!!
Viu como a gente sempre acha uma inspiração? Huashuas...
Beijos ;*
Se todos os jornalistas tivessem esse mesmo desejo que tu tem, o mundo com certeza seria melhor!
Belo texto :D
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