Tem dias que parece que as portas do inferno estão completamente abertas a nossa frente e o diabo aparece nos convidando para um drinque. Noite passada eu aceitei depois que cansei de escrever um livro. E tomei alguns copos de uísque com ele enquanto decidia sobre o que fazer quanto a minha vida. Eu queria muito escolher sobre uma aproximação com a política e o diabo tentava me convencer das vantagens, explicando a vida de pouco trabalho e muito dinheiro que eu poderia ter. Do alto de sua sabedoria satânica, ele me explicava que não teria mais motivos para me revoltar com a injustiça social do meu país e que eu não tentaria mais entender porque para uns a vida é tão mais fácil do que para cidadãos-escravos do dia-a-dia. Não sei por que ele usou a expressão escravos, mas acho que ficou apropriada de qualquer forma. Eu argumentei com o diabo que desejava participar da política para mudar essa tradição. Ele teve um acesso de riso e confessou que a maioria começa assim, mas acaba fazendo um acordo com ele.
Entre um uísque e outro, eu falava para o diabo sobre a minha inquietação com os políticos por suas falcatruas e pelo fato de jamais receberem uma condenação, usando da astúcia de advogados caros para safarem-se de uma punição. “É assim a vida, meu jovem. Deus mandou seu filho pra sofrer no mundo. Que justiça é esta”, perguntava o diabo. Talvez pelo efeito do uísque que eu realmente bebia, passava a questionar o que o demônio me dizia. Ele tinha razão de certa forma. Enquanto ele tentava me persuadir eu lembrava do que uma amiga havia me dito sobre o exemplo de Jesus, de se sacrificar pelas pessoas. Aquilo me parecia mais racional, mas o diabo começou a prometer a realização de meus sonhos.
Foi quando eu comecei a perguntar qual seria o lado ruim de tudo o que estava me sendo oferecido. “Nada, meu caro. Basta que assine aqui e não terás uma vida maravilhosa, as mulheres mais lindas, carros, dinheiro, fama...”, prometia o demônio, enquanto acendia um charuto. Eu disse que iria pensar no assunto e fiquei com a caneta dele, preta com detalhes em vermelho e havia meu nome gravado ao lado da palavra sucesso. O diabo me convidou para passar a noite ao lado de lindas mulheres, mas acabei adiando lembrando que teria de acordar cedo no dia seguinte para trabalhar. “Até logo, rapaz”, ele disse acenando com o charuto.
No dia seguinte, notei que havia uma carta endereçada a mim de um político me convidando a trabalhar como seu assessor. Até a noite de hoje ainda não havia me decidido, porque não havia contado a minha história a ninguém. Foi quando Deus apareceu e me convidou para um papo. Ao contrário do demônio, ele me ofereceu apenas um copo de água e disse com muita humildade que não poderia me oferecer riquezas, nem mulheres ou algo do tipo. O que Deus fez foi lembrar que foi Ele quem me deu poder para brigar por tudo isso ao me conceder o livre arbítrio e disse que eu poderia até procurar na política. “Nem todos os políticos vão para o inferno”, disse ele apontando alguns senhores na entrada do céu. “Aquele ali conseguiu mobilizar a sua cidade e juntou recursos para melhorar o hospital de lá”, comentou apontando um homem simples. A minha decisão então acabou sendo tomada e me tornei um jornalista formado pela vida.
Um comentário:
acho que tu bebeu um pouco demais...
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