Passei as marchas rapidamente porque queria deixar aquela cena lá no passado, enterrada junto das lágrimas que derramei e que por vergonha escondi, fechando as janelas. Acelerei e dobrei rapidamente, mudando de direção para não acabar parando sempre no mesmo destino, perdido e procurando no mapa um lugar onde pudesse encontrar de novo o seu sorriso.
Passei o sinal vermelho e lembrei de quando você dizia que eu fazia tudo errado e arriscava demais em pequenas atitudes. Na esquina seguinte, freei bruscamente e lembrei do nosso primeiro encontro, quando eu simplesmente parei admirado com as curvas do seu rosto. Arranquei novamente, agora mais decidido. Meu rumo foi uma freeway qualquer com um asfalto recapado como meu coração. Pisei fundo no acelerador só para ver o cenário passar mais rápido pelos meus olhos e sentir a adrenalina invadir o corpo, provocando uma sensação de liberdade indescritível. Soltei as mãos do volante para ver se arrancava de vez também aquelas sensações passadas, deixando o carro dar qualquer rumo para a minha vida. O marcador aponta 150 quilômetros, o mesmo número final do seu telefone. Talvez seja chegada a hora de partir, afinal. Passo o cinto de segurança e acelero mais ainda, quero ir mais rápido para me concentrar na estrada e não lembrar de você. Não vou frear na próxima curva e espero que o carro tenha mais estabilidade do que as minhas emoções.
Acordei sem lembrar do que aconteceu, a luz machucou meus olhos quando os abri e a primeira imagem que apareceu foi você, rezando sentada ao meu lado, dentro daquele quarto de hospital. Não lembro mesmo por que saí correndo insanamente daquela forma e por que estava querendo acabar daquele jeito, correndo alucinadamente atrás da morte. E agora estou aqui, escrevendo para agradecer pela dádiva do seu amor, que me fez desviar daquele caminho sem volta para retornar ao convívio do seu abraço e poder, quem sabe, voltar a andar devagarzinho do seu lado.
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