Não consigo entender por que nossas casas precisam ter muros para nos proteger de outras pessoas. Acho curioso que a falta de oportunidades de uns façam com que outros tenham que usar meios não ortodoxos para sobreviver. E confesso que é estranho enxergar a felicidade dos outros e sentir inveja, até me sinto mal por isso. Se não é errado sonhar também não deve ser desejar a alegria dos outros, ou é? Independente de qualquer coisa entristece quando estes outros não valorizam o muito que têm e não enxergam que do lado tem alguém que se contentaria com as sobras de seu jantar. Não faz muito tempo as teorias socialistas menos exageradas passaram a ter um significado relevante dentro da minha caixinha de reflexões, sempre aberta a novidades.
É engraçado como voltar bêbado para casa após uma festa inesquecível pode ser extremamente recompensador. Pela alegria dos amigos a nossa volta, pela cantada que funcionou com a garota que dançava mais bonito no meio da pista ou simplesmente pela cerveja exagerada e perfeitamente gelada que tomávamos. Essa simplicidade sempre me fez guardar uma verdade incontestável dentro da minha caixinha, a de que, no fundo, precisamos de muito pouco para alcançar a felicidade. Se não a plena, aquela que conforta.
Não fosse assim, eu jamais entenderia como uma criança consegue sorrir enquanto chuta uma bola feita de papel em um campinho de terra batida, com pouca grama onde dois chinelos sinalizam as traves do gol. Talvez porque essa simplicidade represente o sonho inatingível – que seja – de ser um jogador de futebol. Ou no fundo não haja nada dessa inocência infantil e realmente seja o momento de alegria provocado por marcar um gol que faça essa criança esquecer que a janta será pouca, quase nenhuma, no final da noite. “E daí?”, deve pensar o moleque que preferiu ir à escola a pedir dinheiro no sinal. Ele quer se divertir, e não se importar com seu drama.
Até porque ninguém parecia se importar até pouco tempo. O que espero, sinceramente, é que exista alguma política capaz de acabar com a epidemia da miséria. O remédio é insuficiente diante da demanda de feridos, mas é um alento ver que, no fundo, alguma coisa está sendo feita – mesmo que em meio às quedas que a corrupção provoca. Embora se saiba que eles, os que gozam de uma felicidade injusta, não serão devidamente punidos, é recompensador saber que não estarão lá desviando o dinheiro das políticas sociais para os seus bolsos imorais.
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