sábado, 22 de março de 2014

Rosas recusadas

Juca abandonou o escritório no meio da tarde e partiu para a floricultura para mandar flores para Cristiane. Ele havia conhecido a garota em uma boate há duas semanas e sentiu que era amor à primeira vista e pelos beijos que haviam dado, já fazia planos de convidá-la para um encontro especial. Não tinha coragem de ligar e simplesmente convidar, e pensou em ser romântico, afinal de contas isso talvez não fosse tão comum hoje em dia. 

"Caras, comprei as rosas mais caras daquela maldita floricultura. Escrevi com as mãos trêmulas um bilhete, onde confessei meu amor por ela. Peguei minha bicicleta e rumei até o prédio onde ela trabalha. Vocês não imaginam como ela estava linda, incrivelmente linda. Ela é um deboche de tão linda, aqueles olhos verdes, aquela cintura perfeita e ainda por cima usando um vestidinho social que... Bem, não preciso dizer o que essas roupas sociais delas fazem com meu coração, né?". Contava a história no meio do trabalho, era incrível como gente de outros setores havia parado para ouvir a história de Juca. Ele continuou, agora interpretando as cenas. 

"Deixei a bicicleta largada na calçada, dei um tapa no visual e bipei em seu celular dizendo que estava ali. Ela não esboçou reação alguma pelas flores. Sabem o que ela fez? Atirou o buquê em mim e virou as costas, sem dar a mínima satisfação. Eu fiquei ali, atirado com as rosas recusadas na mão, arrasado. Sabe quando vocês apostam muito em uma garota? Daí, começou a chover e eu ali, como um imbecil, com aquele buquê, sentado no meio fio. Ainda bem que o Vini passou, colocou a magrela no porta-malas e saímos dali". 

O resto da história não merece ser contada. Juca mudou de nome. Nós o chamamos de presidente. É porque ele dita as regras no clube desde que o tirei da calçada, todo amassado e o fiz conhecer um lugar onde as luzes nunca se apagam. Algumas mulheres recusam flores, outras se apaixonam por buquês enfeitados. O presidente jamais poderia ter colocado sentimento naquelas flores. Aliás, para mulheres como Cristiane, seria mais útil se ele tivesse perguntado quanto ela cobraria pela tarde de sexo. Certamente sairia mais barato que o valor pago pelo buquê, e certamente bem menos do que gastamos naquela tarde, que virou a noite e a manhã seguinte. Mas essa é aquela história interessante, que vai ficar para outra hora. 

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