segunda-feira, 28 de junho de 2010

O som da buzina

Uma das coisas que marcaram a minha infância foi o som da buzina do carro do meu pai. Sempre que chegava de uma viagem, uma das primeiras coisas que ele fazia era ir até a casa da minha mãe me ver e convidar para ir para o balneário do Irapuá, o lugar em que passei boa parte da minha infância e adolescência. O pai normalmente saía da cidade com o carro lotado de máquinas de escrever e computadores (ele trabalhava com vendas na época da transição para a era digital) e voltava com o veículo praticamente vazio.

Muitas vezes, cansado de passar horas em frente ao volante, ele me convidava a dirigir e na adolescência uma das maiores taras de um cara é dirigir (isso quando não pensa em mulheres). Sem habilitação e muito menos fiscalização nas ruas, eu assumia o carro e íamos até o supermercado. O pai perguntava o que eu queria e ia enchendo o carrinho de compras, aquilo era uma tradição antes de ir para fora para passar um final de semana tomando banho de rio, revendo amigos, jogar futebol no campinho ou pescar traíras em um açude. Toda essa tradição começava com o som da buzina do carro, e eu saía correndo de casa apressado. Por vezes, nem lembrava de dar tchau para a mãe e, claro, ela ficava triste com isso. Acho que no fundo ela sempre soube que eu era mais ligado com o meu velho do que com ela. E quando ele se foi, ficou um vazio e esse saudosismo estranho no meu coração e no meu pensamento. Muitas vezes me pego assistindo a uma cena que não mais vai se repetir.


Na última noite, sonhei com o barulho da buzina do carro e por incrível que pareça levantei da cama de madrugada e fui até a frente da casa de ver se era ele chegando. Infelizmente, era apenas um sonho e o meu ato insensato ainda me trouxe uma gripe que está aos poucos me deixando sem voz. De qualquer jeito, mesmo cansado no final do expediente me senti obrigado a vir aqui e buzinar estas palavras para me lembrar que não esqueci de tudo que vivi enquanto meu pai estava por aqui para guiar os meus passos. E escrever isso só me faz perceber como é pior não ter ele por aqui agora que a vida prospera mais tranquilamente. E nesse momento, o meu amigão Arthur me interrompe para saber se vou publicar o texto – me fazendo lembrar de sábias palavras dele que publiquei no Formigão: “não vale a pena ficar num canto triste”. É isso mesmo, meu irmão, valeu pela amizade e pela lição de vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

isso ai velho lembra disso q é a mais pura verdade.