terça-feira, 28 de setembro de 2010

Amanhã não vai ter festa

Se o meu coroa ainda estivesse vivo, amanhã completaria 68 anos. Sim, ele já tinha uma idade avançada, mas tudo que eu lembro dele hoje são os momentos de quando ele parecia um guri ou um adolescente sem vergonha. Meu pai foi exemplo bom pra muitas coisas e eu tenho certeza que alguns dos meus defeitos também são por influência dele, e nem precisei ler nenhum livro de psicologia pra entender isso. A gente se molda pelo que a gente admira.

Deve ser por isso que as pessoas mais vazias que conheço admiram a si próprias. Mas o meu coroa não está mais aqui entre as pessoas que trabalham e pagam imposto para morrer um dia e não levar nada junto (você também já pensou na complexidade maluca da vida?). E é por isso que diferente de hoje, aniversário da minha mãe, que amanhã não vai ter festa nenhuma. Aliás, tenho certeza que vou ter muito mais motivos para ficar chateado do que para comemorar. Mas ao invés de pensar no quanto vou chorar de saudade e lembrar dos melhores momentos que passei do lado do meu velho, preferi fazer um exercício de como seria o dia de amanhã se ele ainda estivesse por aqui entre nós pobres brasileiros, aguardando o resultado de mais uma roubada (eleição).

Acho que eu acordaria por volta das 10h, como acontece quase todos os dias. Provavelmente, o veria com uma cara de pau tentando justificar de alguma forma o fato de ter esquecido de comprar um presente. Ele me deixaria dar um abraço de qualquer jeito, porque nunca ligou para coisas materiais, e me convidaria para uma aventura à noite, junto com seus amigos em um clube noturno. Meu pai gostava mesmo de uma festa. Mais do que isso, gostava de mulheres ao seu redor. Acho que muitos traços da minha canalhice vêm dele, e para a sorte da minha namorada essas características hoje estão adormecidas.

Tudo provavelmente aconteceria depois de um churrasco, que ele faria questão de preparar. E como sempre acontecia quando ele assava a carne (ou o fogo, mas enfim), ele apenas beliscaria uns pedaços de ovelha, e daria a desculpa que não conseguia comer quando cozinha. Isso era muito engraçado e eu não herdei essa mania (porque eu não gosto de cozinhar). Finalmente, iríamos para a zona, onde ele aproveitaria o clima de festa para dividir seu dinheiro e pagar uma puta para mim, ao invés de entrar na velha competição de ver quem conseguiria convencer uma das garotas a transar sem ter que gastar um tostão ou no máximo pagando um Keep Cooler. Depois de umas sete cervejas, ele estaria na fase do brilho e me daria a chave do carro pra nos carregar de volta para casa. E no dia seguinte, falaria que me ama, como eu gostaria de dizer para ele agora. É pai, eu te amo, Sinto tua falta.

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