A morte da mãe transformou a vida do ainda jovem Eduardo. O câncer se transforma numa doença tão aterrorizante que é capaz de contagiar todos os familiares da vítima. E aos 19 anos, já na transição da adolescência para a maturidade, isso afetou diretamente o comportamento pessoal do garoto. Foi obrigado a interromper a faculdade para se dedicar ao trabalho como garçom em uma pizzaria. O pai, viciado em drogas, roubou as economias da família e foi embora da cidade com uma prostituta.
Durante um ano, Eduardo se interessou por uma menina que ia até a pizzaria com os amigos e o noivo – um sujeito da alta classe da cidade. Eduardo não conseguia esconder o interesse pela beleza ultrajante da garota, decorada por um sem número de acessórios, entre colares, anéis e pulseiras. Quando a servia, mesmo nos dias mais cansativos, ele conseguia manter sempre um sorriso estampado no rosto.
Em um dia, o noivo de sua musa deixou uma gorjeta maior junto com o pagamento. Era uma nota de 100 reais para uma conta de pouco mais de 30. O rapaz estava abrindo a porta do carro quando Eduardo foi devolver o troco. A resposta: “não precisa, garoto. Guarda pra comprar uma bebida”. Eduardo agradeceu e disse que não era necessário. Arrogante, o noivo pegou o dinheiro e foi até a gerência da pizzaria e pediu a demissão de Eduardo por que estava se sentindo ofendido.
No dia seguinte, Eduardo ouviu do chefe que deveria aceitar as próximas gorjetas em seu novo emprego. O gerente se desculpou por não poder mantê-lo para não perder um bom cliente.
Um mês depois, o garoto se arranjaria como serviços-gerais em uma grande empresa. Pensou em sair logo no quinto dia, ao descobrir que a empresa era comandada pelo pai do homem que o demitiu do último emprego. Aconselhado por um colega, acabou não o fazendo.
Em seu primeiro mês de trabalho, Eduardo se destacou como o melhor vendedor e seria premiado em uma reunião tradicional da empresa. Coube ao seu desafeto entregar o prêmio. “Parabéns, você mereceu”, disse o homem, claramente por obrigação. Naquele momento, uma força inconsciente se manifestou, fazendo com que Eduardo iniciasse um breve discurso. “Eu mereci. Em um mês de trabalho, superei minhas metas, ajudei meus colegas e dei o melhor de mim pela empresa, enquanto o senhor criticava seus funcionários, chamava-os de incompetentes para que vendessem mais e ameaçava-os de demissão. Eu mereço este prêmio, mas não quero atuar em uma empresa onde os chefes de outros setores não merecem nem as cuecas que usam, abusando de seu poder para prejudicar pessoas que nem conhece. Então, muito obrigado”. A garota por quem Eduardo havia se apaixonado estava presente e assistiu a cada pequena palavra. Dias depois ela soube que Eduardo fora demitido por causa de seu noivo e rompeu o relacionamento. Ela foi procurar por Eduardo em sua casa, mas uma vizinha falou que ele estava no cemitério. “Nossa, não acredito que ele se suicidou”, pensou a garota, virando as costas. A morte inesperada da mãe fez com que o rapaz nunca desistisse quando uma oportunidade batia à sua porta.
Meses depois, a garota encontra Eduardo como gerente de uma empresa de informática noutra cidade. Ela pede desculpas, ele não aceita. “Você nunca teve culpa da minha demissão. Mas se quiser almoçar comigo hoje eu aceito”.