quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tipos de mulheres e dúvidas eternas

Era domingo à tardinha, passava um jogo de futebol no boteco. Homens reunidos, fumaça de cigarro, frango assado na prateleira, moscas por todos os cantos. Propagandas de cerveja por todos os lados com corpos de beldades estampados para fazer as loiras venderem mais. Na verdade, os pedidos só aumentavam quando o time dos ébrios marcava um gol. O pior era aquele senhor de radinho de pilha no ouvido, que gritava “gol” cerca de um minuto antes de a televisão mostrar, acabando com a expectativa do pessoal.

Ao meu lado, um senhor elegante vestindo uma camiseta branca, com a frase “I love beer” (eu amo cerveja). Era uma lembrança de Nova Iorque, disse o velho. Depois de racharmos a oitava, ou décima, garrafa de cerveja, o velho disse que iria me falar sobre os tipos de mulheres. “Espera o intervalo. Não se mistura mulher com futebol”, disse ele, inclinando o copo para não fazer espuma na ceva. Nosso time marcou o terceiro gol, praticamente garantindo uma vitória que garantia avançar uma fase no torneio.

Aproveitei o gol para ir ao banheiro e aliviar a pressão que as cervejas provocavam. Quando rompi a porta no retorno, o jogo já estava no intervalo e o velho ergueu a mão para me chamar. Ofereceu um cigarro, recusei e prestei atenção no que ele iria falar. Foi mais ou menos assim: “sabe, guri. Eu já tive muita mulher na minha vida, e nunca enjoei. Porque existem muitos tipos de mulher. Sempre gostei mais das safadas, das que sabem te dar carinho e rezam para te proporcionar 15 minutos de prazer. Aquela ali na rua, passando. Tá vendo?! Aquela é uma safada. Olha o jeito que ela rebola e como mexe no cabelo para desconcertar quem está por perto. Viu só?!”.

“De todos os tipos, as mais difíceis de lidar são as que nos apaixonamos. Não sei você, guri, mas eu jamais me encantei por uma mulher que não tivesse curvas. Mulher feia é como macaco gordo, só serve para quebrar galho. Ou como pantufa, guardada escondida dentro de casa”, disse o homem, antes de eu levantar para buscar outra cerveja.

“Mulher boa é do tipo independente, do tipo forte. Não essas que acham que tem ouro no meio das pernas. Nem nas zonas mais caras, a diferença do quilo da carne de buceta é muito grande. Verdade, não ria, garoto”, falou. “O melhor tipo de mulher é a que te entende e não inferniza seus dias, é a mulher tranquila, mas que vira uma louca se não puder ficar com você. Porque essa é a mulher que te ama, esse é o tipo de mulher pra vida toda. A que se acha gostosa, só vale para uma foda, e nada mais. No máximo uma segunda rapidinha”. Foi aí que apareceu uma garota no boteco e pegou o fim da conversa. Ela perguntou de forma seca: “mas o senhor aí que acha que sabe tudo, me responde uma coisa. Por que homem que pega todas, como o senhor, parecem heróis, e mulher que fica com todos homens é considerada puta?”

O homem largou o cigarro no cinzeiro, apagando a pequena chama e tomou mais um gole de cerveja. Pegou na mão da garota e olhou no fundo dos olhos dela, antes de dizer. “Minha querida, uma chave que abre várias portas é uma chave-mestra. Uma porta que se abre para qualquer chave não serve para nada”. A garota ensaiou uma reação, mas não disse nada. Para completar, o velho encerrou. “Mas este garoto aqui não concorda com nada do que eu digo e estava falando que achou seus olhos lindos. Aliás, ele tinha razão, vou pagar a aposta”. A jovem me olhou admirada e surpresa. Me deixou seu telefone. Depois que ela saiu o velho disse apenas: “essa vale apenas uma foda, foi muito fácil”.

Um comentário:

shalanaes disse...

Vini, demorei pra comentar este teu texto! Mas sem dúvida foi um dos textos que li em que pude rir muito e ao mesmo tempo ter conteúdo.
Esse eu tirei o chapéu oeihaiheaohia