Aquele lance começou de um jeito completamente inesperado. Ele bêbado, ela cansada das piadas sem graça. Um jantar na casa de amigos, algumas trocas de diálogos provocativos e sem nenhuma intenção de agradar de nenhum lado. E eles não saberiam explicar como o desenlace ocorreria, como a noite seguiria e como seus lábios se encontrariam. As meninas arrumavam a mesa e conversavam sobre a faculdade e a marcação dos professores. Os guris comentavam sobre o último campeonato de futebol e discutiam que time, afinal, era o melhor.
Até que Paulinha resolveu quebrar o ambiente entrando no papo deles. “Não sei o que vocês querem discutindo. Vão falar disso para o resto da vida e não vão convencer ninguém a mudar de ideia”. Marcos sorriu ironicamente e debochou: “mas pelo menos não falamos de roupas de outros guris nem criticamos que a maquiagem da fulana estava horrível numa festa. Fica na sua aí, vai”. Ela se desconcertou, pensou em faltar com a educação com o rapaz, mas ele já havia se voltado para os amigos mais uma vez, a ignorando completamente.
Paulinha sentiu que precisava retrucar e esperou o momento certo. É engraçado como estas cenas se desenrolam e como o desejo de vingança nasce de situações praticamente banais. Logo, os rapazes passaram a falar de tipos de mulheres e Marcos não se pronunciava sobre o tema, só ia ouvindo as opiniões que pintavam. Foi então que Paulinha aproveitou para machucar, dizendo entender por que ele estava em silêncio. “Não deve ter experiência nenhuma para falar nada, porque mulher não gosta de homens grosseiros”. Mais uma vez, ela não esperava que ele rebatesse com desdenho. “E quem disse que estou querendo agradar alguém aqui essa noite? Já disse, fica na sua aí”. A menina resmungou algo do tipo “o que você pensa que é”. E essa frase é bastante comum nesses momentos.
Após a janta, não trocaram mais nenhuma provocação. Mas ela agora estava atônita com a forma ele bebia, os palavrões que dizia e os olhares que dava para suas amigas. Quando saíram dali para ficar em uma pracinha próxima, ela notou que havia passado a noite inteira pensando nele. E de uma forma completamente inesperada, ele aproximou-se e disse “e aí, tudo bem? Acho que podemos começar de novo. Tentei a noite inteira chamar a sua atenção do jeito errado, evitando até mesmo falar contigo. Agora, venho aqui desarmado, para você se vingar de tudo e me dar um fora bem legal”. Ela parou, não falou, não sabia o que dizer. Pronunciou de forma quase imperceptível um “olha”, mas não prosseguiu. Ele olhou para o chão, olhou para o rosto dela, indecifrável. Resolveu arriscar e se aproximou. “Pode ser um lance inesperado, mas preciso beijar você. Não me pede pra explicar por que, eu só preciso beijar você”. Ela sorriu e desarmou sua fisionomia, olhou para ele e respondeu apenas: “então beija”.

