Prezado senhor, gostaria que o senhor dispensasse atenção especial a esta carta, muito embora eu tenha certeza que o senhor deva estar ocupado demais com seus afazeres políticas. Meu pedido é simples, senhor, e acredito que o senhor possa se sensibilizar. Não precisa ficar preocupado, não estou lhe pedindo um emprego. Para falar a verdade, o senhor é a última pessoa a quem eu gostaria de pedir um favor.
No entanto, tendo em vista as constantes notícias e denúncias sobre desvio de dinheiro público, gostaria que o senhor refletisse e me respondesse algumas perguntas. Na última vez que o senhor aceitou propina para votar a favor do Governo em determinado projeto, o senhor estava pensando no combustível da Ferrari de seu filho ou no custo de transporte que toda a população precisa pagar dentro dos municípios ou para fazer uma viagem regional?
Tenho certeza que o senhor paga, assim como eu, uma série de impostos. Não acredito que por algum motivo o senhor possa sonegar. Mas pense na seguinte situação: como o senhor se sentiria se eu lhe roubasse um mês de ordenado, escondesse dentro de minhas meias, cuecas, e depois, vai saber, gastasse em alguma festinha com prostitutas? O senhor se sentiria traído? E mais, pense que o senhor confiou em mim, que me assinou um cheque em branco para que eu o usasse para dar empregos para meus parentes todos.
Sabe, doutor, eu gostaria de lhe pedir uma série de coisas para minha cidade, para meu estado e até mesmo melhoria nos atendimentos do país. São coisas básicas: não quero mais ler notícias dizendo que um irmão morreu no hospital público por falta de atendimento. Eu também gostaria que as crianças pudessem ter uma educação de qualidade, tal qual a ofertada nas instituições privadas. Outra situação que não acho justa é a de amigos que vivem em ruas sem calçamento, sem saneamento, sem qualidade de vida.
Sabe senhor, eu também gostaria que mais cidadãos tivessem condições de assistir a uma peça de teatro, comprar sua casa própria e, por que não, adquirir um carro. Talvez isso seja difícil demais, senhor, então me perdoe se estou exagerando. Me perdoe, senhor, mas eu preciso abandonar essa porcaria de educação por uns instantes. A verdade é que cansei de rastejar e de me humilhar pedindo que o senhor faça o seu dever de meu representante. Não pense que não sei que foi meu dinheiro que pagou o tecido deste terno ridículo que o senhor usa tentando ser elegante.
Faça as contas e veja quanto já roubou nos últimos tempos. Já parou pra pensar, seu filho de uma puta, que crianças morreram por culpa sua por falta de políticas contra a mortalidade infantil? O senhor já imaginou que é um maldito assassino por não criar medidas efetivas de combate à violência do trânsito, das drogas, apenas para ficar em alguns exemplos? Agora que vossa excelência teve tempo para refletir em aspectos simples como esse, faça o favor de pegar o seu chapéu e abandonar a vida pública.
Só não esqueça - se não for pedir demais - de devolver com juros o que roubou. Para finalizar, gostaria de sugerir ao senhor a criação de um imposto que poderia ajudar muito nosso país: todo político sujo, ladrão e desonesto como o senhor terá que devolver três vezes a quantia comprovada de seu desvio. Certo de que o senhor irá analisar o pedido, despeço-me lhe desejando felicidades e longa vida... Atrás das grades!
Um comentário:
Senhor, o que escreveu é excepcional, perdoe-me se estiver a exagerar senhor.
Li também o "Emocionar" e "A paixão é cega, não o amor" senhor, também muito bons.
Entrei a muito pouco tempo no mundo dos blogs e fico bastante contente quando descubro pessoas a escrever como o senhor, eu tenho muito poucas publicações ainda no meu blog mas seria um prazer ver o senhor por lá.
Vou seguir senhor.
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