quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Meu jeito chato de ser

Faz tempo que não uso o blog para falar de coisas minhas, preocupações, sentimentos, desabafos e revoltas. Embora eu saiba o erro que posso estar cometendo, sinto que é hora de voltar a fazer isso. Talvez seja uma confissão de defeitos e pecados, uma antecipação de tudo que vou acabar falando para São Pedro se algum dia houver uma espécie de bilheteria de escusas para entrar no céu.


Enfim, sou chato, pouco simpático e tenho uma espécie de alergia à futilidade. Gosto tanto de assistir a um bom filme, que se ele assim o for, vai acabar me arrancando lágrimas em algum momento. E sou idiota ao ponto de confessar que amo, mesmo que isso signifique baixar a guarda para tomar um chute como aquele do Anderson Silva. Sou crítico em relação à política, e o descaso do resto do mundo em relação a ela me incomoda demais, só que isso deve ser pelo fato de eu acreditar que nenhuma grande mudança positiva acontecerá sem o envolvimento político.


O certo é que meu jeito chato de ser hoje se confunde com meu passado, quando eu era o gordinho simpático e que passava falando idiotices na escola. E azar o meu que não nasci uma "gostosa" nem filho de alguém importante, embora tenha tido um pai importante (entendam, tá!). E a vida se tornou tão agitada que a gente não para, nem reflete nos erros que está cometendo e, noutros momentos, até se orgulha deles. Orgulho e falta de humildade. Dois pecados. Vou jogar tudo na calculadora e tentar dividir com algo de bom que eu tenha feito para alguém e ver se o resultado ainda será positivo. É um risco. Acho que o Zé, meu amigo, é que tem razão de ver uma coisa boa nessa antipatia: ninguém pede grana emprestada para quem age desse jeito.


Talvez eu devesse fazer análise para confrontar todas as coisas que penso. Sabe aquela coisa de ser rebelde e saber que isso é errado e mesmo assim não se corrigir? É mais ou menos por aí o meu problema. Será tão errado assim não se conformar e ter essa inquietude quando algo incomoda? E por que é tão fácil se posicionar e ajudar os outros com conselhos centrados e não conseguir manter esse distanciamento emocional nos afeta diretamente? Algum psicólogo disposto a uma ajuda gratuita por aí?


... Acho que esse sinal reflete muito da minha vida, as reticências. Elas dão uma ideia de algo que deixou de acontecer. E algumas vezes, lamentavelmente, é assim que me sinto. Mas até inconscientemente, sei lá, percebo que nas pequenas coisas encontro minha felicidade diária. Esse capitalismo acaba me fazendo desejar coisas que não preciso e também não consigo me acostumar com outras teorias que vou conhecendo, porque o sistema não deixa.


Os livros se afastaram de mim. Lembro que durante muito tempo fui um torcedor entusiasmado do Barrichello, que no fim das contas deve ser um cara realizado sem ter vencido o mundo. Mas ele enfrentou o mundo também, e venceu algumas vezes. Acho que me identifico, de uma forma um pouco inexplicável, com a história dele no automobilismo. O Barrichello segue lá, perseverante, e isso serve de exemplo. É claro que eu poderia me espelhar em alguém mais vencedor, mas nesse caso a comparação seria trágica e isso iria me deprimir. Ou não.


O interessante é essa possibilidade que nós, humanos que somos, temos de nos reinventar todos os dias. Eu sei que meu jeito chato de ser prejudica somente a mim, e que eu deveria mudá-lo sob pena de ficar sozinho, discutindo inutilmente com o teclado. Mas a felicidade está nas pequenas coisas e a gente acaba enxergando isso mais cedo ou de madrugada. E tudo fica bem. Tudo vai ficar bem!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Caixinha de reflexões

Não consigo entender por que nossas casas precisam ter muros para nos proteger de outras pessoas. Acho curioso que a falta de oportunidades de uns façam com que outros tenham que usar meios não ortodoxos para sobreviver. E confesso que é estranho enxergar a felicidade dos outros e sentir inveja, até me sinto mal por isso. Se não é errado sonhar também não deve ser desejar a alegria dos outros, ou é? Independente de qualquer coisa entristece quando estes outros não valorizam o muito que têm e não enxergam que do lado tem alguém que se contentaria com as sobras de seu jantar. Não faz muito tempo as teorias socialistas menos exageradas passaram a ter um significado relevante dentro da minha caixinha de reflexões, sempre aberta a novidades.


É engraçado como voltar bêbado para casa após uma festa inesquecível pode ser extremamente recompensador. Pela alegria dos amigos a nossa volta, pela cantada que funcionou com a garota que dançava mais bonito no meio da pista ou simplesmente pela cerveja exagerada e perfeitamente gelada que tomávamos. Essa simplicidade sempre me fez guardar uma verdade incontestável dentro da minha caixinha, a de que, no fundo, precisamos de muito pouco para alcançar a felicidade. Se não a plena, aquela que conforta.


Não fosse assim, eu jamais entenderia como uma criança consegue sorrir enquanto chuta uma bola feita de papel em um campinho de terra batida, com pouca grama onde dois chinelos sinalizam as traves do gol. Talvez porque essa simplicidade represente o sonho inatingível – que seja – de ser um jogador de futebol. Ou no fundo não haja nada dessa inocência infantil e realmente seja o momento de alegria provocado por marcar um gol que faça essa criança esquecer que a janta será pouca, quase nenhuma, no final da noite. “E daí?”, deve pensar o moleque que preferiu ir à escola a pedir dinheiro no sinal. Ele quer se divertir, e não se importar com seu drama.


Até porque ninguém parecia se importar até pouco tempo. O que espero, sinceramente, é que exista alguma política capaz de acabar com a epidemia da miséria. O remédio é insuficiente diante da demanda de feridos, mas é um alento ver que, no fundo, alguma coisa está sendo feita – mesmo que em meio às quedas que a corrupção provoca. Embora se saiba que eles, os que gozam de uma felicidade injusta, não serão devidamente punidos, é recompensador saber que não estarão lá desviando o dinheiro das políticas sociais para os seus bolsos imorais.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Aparecer


Uma coisa que me intriga e causa, digamos, repulsa é a necessidade humana de aparecer, de estar na vitrine do mundo. A coluna social é o ambiente mais desejado das dondocas principalmente, mesmo que para isso muitas vezes se exponham ao ridículo e não sintam nem vergonha de chorar por uns 12 minutos de fama. Eu não vejo os bichos se atirando num açude para deixar os pêlos do corpo em estilo moicano ou arrepiadinhos só para que o resto da raça os notem. Também nunca percebi esses animais concorrendo a títulos de beleza que podem ser comprados ou coisa parecida. Para os animais, o rei da floresta é o leão e o assunto está encerrado. Não tem democracia. Prevalece a lei do mais forte. Nenhum bicho sai por aí formando sindicato para aparecer e depois se candidatar para tirar o lugar do leão, no mundo animal as relações são muito racionais.


Não sou desses engajados defensores de animais, nem tampouco um esquisito que se fechou para o mundo e que decidiu brigar com o ele agora. Muito pelo contrário. Acho que todo aquele cidadão que desenvolve algo em prol do desenvolvimento do seu espaço merece reconhecimento e, logicamente, a necessária divulgação. Tenho aversão à futilidade e quem se ofendeu, pega o rabinho que está sentado na frente do computador e vai abanar ele em outro blog ou ver as fotos da última festa que “bombou” na sua selva. As pessoas não entendem, mas eu sinceramente não estou ligando para quantas garrafas elas beberam e quantas vidas poderiam ter tirado voltando para suas casas nos carrinhos potentes de seus pais ou fruto da exploração de seus empregados.


A verdade é que simplesmente não entendo a necessidade de estar em exposição que algumas criaturas possuem, como um pedaço de carne no açougue. É demais para minha compreensão da vida, é algo que simplesmente não se encaixa, sei lá. Mas o mundo se aproveita disso, inventando roupas que beiram o ridículo (embora essa análise seja subjetiva...), programas que exaltam esse comportamento e uma rede de divulgação e exaltação dessa “moda” que só torna as pessoas mais estúpidas. Mas por que ter uma discussão que provoca feridas na grande maioria das pessoas, já que isso as atinge? Não sei, para provocar, talvez. Se a futilidade só cresce é porque ela encontra abrigo no seio da maior parte da população.


Gosto de ler o comportamento humano e suas diversas reações diante do que acontece. Por exemplo, uma cena clássica é ver a pose daqueles grupinhos de “amiiiiiiiiigas” em uma boate quando uma câmera está prestes a disparar. É automático: todas elas colocam a mãozinha na cintura e fazem aquela pose caneca. Isso quando não ficam empinando a bunda (homens e cachorros adoram bunda...). E até a economia se beneficia de tudo isso, vide books fotográficos em crescimento inigualável, redes sociais e afins...