quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Jornal do Povo mente?

Quando os assuntos são polêmicos, a credibilidade do veículo parece ser desafiada

O episódio envolvendo a vinda do governador Tarso Genro a Cachoeira do Sul é o principal assunto da semana. O feedback que vem do Fórum do Leitor até desafia a credibilidade do JP, devido às versões que se multiplicam. Não é raro levantarem suposições questionando a veracidade das informações publicadas neste veículo de imprensa.

Imagino que alguém, em algum lugar, possa ficar contente se a pergunta que fiz no título pudesse ser respondida com um sim. Pois sendo um dos profissionais que trabalham diretamente na redação do JP digo que não. Por ser um dos profissionais da redação do JP que já depôs para a juíza quando o jornal foi acusado de ser tendencioso – em pleno período eleitoral – digo e reafirmo que não. Por ser um dos jornalistas que sempre procuram ouvir o outro lado das histórias, repito que não.

Mas será que o JP conta a verdade? Existe muita diferença entre contar a verdade e mentir. Muita. O esforço do repórter sempre será no sentido de espremer como uma laranja um assunto, e tentar tirar um único caldo dele – a verdade. Uma das primeiras coisas que aprendi com o Liberato aqui mesmo foi sobre isso: sempre existem três verdades. A minha verdade, a sua verdade e a verdade.

A nossa missão, enquanto jornalistas, é contar histórias e tentar chegar o mais próximo possível da realidade. E para isso, ouvimos diversas fontes, insistimos com os entrevistados, perguntamos. E se esquecemos de um detalhe que possa ser ínfimo, ligamos ou procuramos de novo, para ter certeza de oferecer um bom produto ao nosso principal cliente, os leitores. Eu não me sentiria bem vendendo nada estragado, é uma questão ética que aprendi dentro de casa.

A VISITA CANCELADA DO GOVERNADOR

O que vou oferecer aqui a vocês é o que acompanhei diretamente sobre a vinda do governador, com algumas interpretações pessoais e reflexões adicionais. Reservo o meu direito de preservar algumas fontes confiáveis que ajudaram a chegar a esse roteiro que segue.

Na segunda-feira à noite, integrante do alto escalão do Governo Tarso contata com integrante também da linha de frente do Governo GG, agendando a vinda a Cachoeira. “Pode ser que o governador também nos acompanhe na ida à cidade”, adverte o homem do Estado.

O INÍCIO

Na terça pela manhã recebo uma ligação em meu celular comunicando a vinda de Beto Albuquerque e a possibilidade de Tarso também passar aqui. Ao chegar à redação à tarde, fui informado de que o deputado Marlon também repassou esta informação para nossa equipe, neste momento já com a confirmação de que Tarso viria. Além de Marlon, pelo menos outros dois deputados sabiam da visita e haviam sido avisados pela assessoria do governador: Heitor Shuch e Marcelo Moraes.

A VISITA

A visita de Tarso seria rápida. Estaria na cidade às 9h30min, somente no Aeroporto. Provavelmente, posaria para fotos com GG. Em seguida, o roteiro seguiria para a localidade de Capão do Valo – onde verificariam a obra da RS 403, outra importante ação que deslanchou no Governo Tarso.

CANCELAMENTO

Recebo novo telefonema, no meio da tarde. “A vinda do governador foi cancelada”, avisa minha fonte. A pauta está com a colega Patrícia Loss, que é a setorista da Prefeitura na redação. Em seguida, Marlon também telefona para informar que Tarso não vem mais.

INFORMAÇÕES

Começa o trabalho de busca de informações para checar o que ocorreu. Informação dada pelo chefe de gabinete de Tarso, Vinicius Wu, à repórter é de que o cancelamento teria sido motivado por GG. Por precaução, checo a informação com algumas fontes.

NOTA OFICIAL

A nota emitida pelo governo Tarso no dia seguinte não desmente a notícia do JP. O assessor Wu, da confiança de Tarso desde que este era ministro da Justiça, também não desmente suas informações – o que normalmente aconteceria em um episódio dessa dimensão. Pelo contrário, ele reafirma o que disse em novo contato com a repórter.

REPERCUSSÃO

É claro que não é interessante para ninguém manter o clima de atrito que estava instalado entre os governos municipal e estadual. Se pararmos para pensar, os motivos que teriam motivado GG a não receber Tarso até podem fazer sentido. GG queria notícias melhores que um recapeamento da pista do aeroporto. Mas daí dizer para Tarso não vir... Notícias como o desenrolar da área do porto, prorrogada o ano inteiro pelo Estado, seria um belo anúncio a ser feito, por exemplo.

MALANDRO

O deputado Marlon não é nenhum ingênuo. Ele também sabe que quanto mais impactante a notícia fosse, mais retorno eleitoral ele poderia ter. Adversário político e desafeto de Ghignatti, ele costurou nos bastidores do Estado para que o jornal tivesse facilidade de confirmar o cancelamento da agenda do governador.

TWITTER

A afirmação anterior, que é só de minha responsabilidade, pode ter a ver com uma frase de Beto Albuquerque enviada para mim pelo Twitter: “o governo foi usado por uma disputa local”. Beto não quis continuar quando o questionei por quem o governo teria sido usado. Então, tirem suas conclusões.

GG EM SILÊNCIO

Enquanto escrevia isso, telefonei para o celular de GG algumas vezes e também para sua casa. O celular estava desligado e ele ainda não havia retornado - como disse a sempre simpática primeira-dama Jussara. Hoje à tarde, eu havia ido buscar alguns documentos na Prefeitura.

RECADO

Sabedor de que eu iria lá, GG deixou um recado para mim. Uma folha de ofício com uma edição impressa do JP de 26 de maio de 2008. Numa pequena nota, o jornal conta sobre episódio quando Marlon foi deselegante com a Fenarroz, em sua abertura de 2008. Naquela oportunidade, Marlon não foi ao evento, que teve a vinda da então governadora Yeda Crusius.

GG tem razão na dimensão das duas notícias, se esta foi sua intenção deixando a folha com o dizer à caneta "deselegância?". Mas a governadora não deixou de vir à cidade naquela oportunidade. Coisas de uma cidade que já impediu Olívio, um ex-governador, de sentar-se numa mesa de autoridades durante um desfile.

Um comentário:

edson bonine disse...

Vinícius já coloquei minha opinião do fórum : Sou cético em relação a própria noticia, a agenda do governador é organizada antecipadamente e fazem dois dias que sei por meio do email do Marcio Espíndola que ele hoje estaria em Tio Hugo, como as correspondências anteriores não falavam nada da terrinha continuo cético.
Lambança, se esta é a palavra que pode definir esta confusão de informação, vamos a ela, foi uma lambança os assessores organizarem a visita do governador sem em primeiro lugar não a articularem com o secretário Neiron; se eles ainda não sabem que o prefeito foi corrido da reeleição pelos próprios correligionários de partido estão patinando na vida, qualquer articulação do governo do estado tem que passar necessariamente pelo secretário pois ele é candidato do partido a eleição no ano que vem.
Não acredito que macacos velhos na política tenham erros tão primários.
Abraços
Bonine