sábado, 24 de dezembro de 2011

Crônica da vida romântica

Na primeira vez, você manda flores para mostrar algum romantismo que no fundo ainda não tem. Mas você precisa apagar a fama que a maioria dos homens possui. Então acaba cedendo a esta necessidade. Até nem se importa de caminhar algumas quadras expondo o buquê ao público. De alguma forma, aos olhares alheios, você até parece sedutor com sua barba por fazer e o casaco do terno da noite passada, simplesmente atirado sobre uma camiseta branca.

Talvez até reparem que você não usa aliança e sintam uma ponta de inveja. Pronto. Levar este buquê já se compara a marcar um gol em final de campeonato, ele realmente chama a atenção. Ainda mais porque você nunca economiza dinheiro nas primeiras flores, por mais que saiba que elas acabarão adornando um canto da casa dela que nem será visitado.

No início, você até abre a porta do carro e conversa com ela com frequência. No fundo, está envolvido tanto quanto aprecia aqueles filmes de ação. Não há esforço para parecer romântico, simplesmente vai acontecendo. Torpedos e mensagens na internet, jantares e festas, risos e você nem se importa se há uma dezena de garotas com shorts minúsculos dançando a poucos centímetros de distância.

Ela não liga muito para toda essa atenção. Experiente, a vida a ensinou que você vai agir assim até arrancar exatamente o que precisa. Talvez seja essa sua vontade, por que não? Um pouco de diversão sem compromisso pode ser muito sadia. Afinal, você se sente mais à vontade quando pode se esbaldar e não precisa acordar cedo no dia seguinte para trabalhar. É uma comparação imperfeita, vamos admitir.

Se o amor fosse um trabalho, namorar seria ter carteira assinada. Viver de bicos seria essa coisa de ficar sem compromisso. O lance é que quando você é demitido, fica aquela dor. Se não se encanta com o trabalho, é fácil procurar outro emprego nos classificados. Ficar desempregado, digo, solteiro, pode ter lá suas vantagens. Bom seria se a crônica da vida romântica não fosse continuada como um livro de um só estilo, mas repleta de nuances como comédia, drama, romance, aventura, suspense. E ela é, mas só no início.

Depois, com o passar do tempo, se você sair para a rua já com sua aliança e seu andar preocupado com um buquê de flores, aquelas mulheres que ainda podem te desejar acabarão pensando que você é um animal. O melhor amigo do homem, mas nesse caso o mais detestado pela mulher: “seu cachorro”, elas vão pensar. No mínimo você só está carregando flores para minimizar alguma burrada que fez. É assim que o mundo acaba se tornando óbvio demais, porque embora você admita que não é perfeito, em nenhum momento prometeu que conseguiria ter um casamento como se fosse um eterno namoro proibido.

Mas e daí, em sua consciência você sabe que as flores estão sendo levadas somente para comemorar mais um ano ao lado do seu amor. E você também escreveu no bilhete um recado apaixonado, e não um pedido de desculpas por uma pulada de cerca. E a sua mulher sorriu, e agora é só isso que importa. Afinal, no início, havia muito romantismo. E você nunca prometeu continuar com ele, mas também jamais parou.

Nenhum comentário: