quarta-feira, 9 de maio de 2012

Quando me tornei um escritor famoso


Havia devorado um livro do LF Verissimo pouco antes de pegar no sono. O dia inteiro tinha sido cansativo, daqueles que é proibido desconcentrar para não perder o pique. Só teve uma saída para buscar um lanche e foi quando achei graça da minha estupidez. No mercado, vi uma menina sorrir ao me notar chegando próximo do caixa. Ignorei, não havia por que ficar encarando. O tempo passa por qualquer problema na análise do preço das compras dela e eu fico assistindo àquela cena e de repente ela me dá oi e fala meu nome. O problema era não lembrar nem ter qualquer noção de quem poderia ser a garota. Mas isso tudo foi bem antes de pegar no sono e não tem tanta relevância assim.

De repente percebi que nasci em um mundo onde precisava indicar minhas opiniões, assumir um lado, escolher uma cor e determinar meu padrão de comportamento. Um caminho é o certo, o outro o errado, me disseram. “No primeiro, com muito esforço tudo pode dar certo, mas sempre existe a possibilidade de sair tudo errado. No segundo, tudo está inclinado a dar errado, mas com sorte pode dar certo”. E foi aí que fiquei me perguntando quem afinal determina o que é certo ou errado. Se não há provas reais da existência do Deus que prega o marketing da Igreja, é possível que o certo tenha sido criado por alguém errado. Isso pressupondo que esse Deus seja perfeito e que Ele, sim, poderia dizer o que é certo e quem está errado.

Aí Jesus apareceu na minha frente, disfarçado é claro. Mas eu notei que era Jesus. Como bom jornalista que sou, seria impossível não ver que Jesus estava ali, de pé à minha frente, mandando que eu continuasse escrevendo. “Você escreve o que é certo e você escreve o que é errado, depois lê e escolhe. Isso é a vida, Deus não vai te condenar por nada”. Aí perguntei sobre as leis que preciso cumprir e disse achar exagerado tudo o que a Igreja prega. Jesus só deu um risinho e disse para eu parar de pensar na menina que havia visto no mercado e me concentrar em escrever.

E do nada, ele sumiu e me vi em uma sala repleta de livros. Havia uma fila imensa esperando para entrar onde eu estava. Com livros nas mãos. Era o lançamento de mais um livro, e isso havia ficado tão corriqueiro que nem dava mais importância quando me diziam o quanto as minhas histórias haviam mudado suas vidas. Só assinava o autógrafo e dizia o “obrigado”. Nem mais explicava como havia sido pensar os personagens, estudar os cenários e estabelecer os vínculos e caminhos da história. Eu fiquei preocupado mesmo só em receber o dinheiro.

Agora, acordei e escrevi tudo isso. Acabei de ler. E fiquei com medo de escolher o caminho errado. 

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