quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Ranços comunitários



Eu vou lembrar por muito tempo do dia 14 de agosto. Primeiro porque conheci e passei a admirar ainda mais um cara que só via pela televisão e que eventualmente ouvia pelo rádio, o jornalista Lasier Martins. Acompanhei o Lasier durante boa parte da tarde e também à noite, quando ele coordenou magistralmente o Debates do Rio Grande, uma das melhores discussões que já vi na cidade. Não pelos temas levantados, afinal já ouvi praticamente todos, enfim. Mas pela condução que Lasier deu ao encontro, com frases bem colocadas, questionamentos provocativos e que fazem o interlocutor ficar “em xeque”.

A única coisa que ninguém falou neste Debates do Rio Grande, aliás uma belíssima iniciativa desencadeada pela Rádio Gaúcha e que contou com a parceria do Sistema Fandango de Comunicação, foi um dos sintomas que no meu entender contribui para a estagnação econômica que acometeu nossa cidade nos últimos tempos. Os ranços comunitários. Ora, que diabos é isso? Esse, prezados cachoeirenses de todos os lugares deste planeta, é o que mais nos atrasa em relação a municípios desenvolvidos. O ranço comunitário é quando o empresário A não valoriza o que é bom só porque seu concorrente, o empresário B, está enriquecendo. O ranço comunitário é quando a inveja torna as pessoas cegas e as faz pensar que engoliram alguém da família real, e automaticamente seus narizes são erguidos aos céus.

O Lasier não sabe, mas aqui em Cachoeira a concorrência muitas vezes não é sadia. Sei de profissionais liberais que preferem ficar de marcação uns contra os outros do que trabalhar. Aliás, um bom exemplo atual é o lance dos fotógrafos. Acho incrível a mágoa que anda rolando por aí porque uma galera começou a trabalhar e fazer seu pé de meia. E nem estamos falando de cifras altas neste caso. Sei de indústrias gigantes que sentem invejinha porque empresa de outro ramo é mais exposta na mídia. Aliás, não foram poucas as vezes que tive que filtrar informações que tentam plantar na imprensa sobre os erros de determinadas empresas.

O ranço comunitário é também o motivo pelo qual até hoje nenhum dos projetos de planejamento estratégico desenvolvidos aqui saiu do papel na prática. O projeto Debates do Rio Grande não foi o primeiro que radiografou Cachoeira, muitos já fizeram isso antes. Ações foram propostas, mas como era o fulano que havia levantado a ideia e ele ganharia algum dinheiro pela iniciativa ninguém apoiava. Eu não consigo imaginar os grandes empresários cachoeirenses se unindo e fazendo como os santa-cruzenses que mensalmente pagam a uma empresa de consultoria especializada para pensar o futuro e o desenvolvimento daquela cidade, que aliás é um dos principais destinos da galera que sai aqui de Cachoeira.

Até porque, os grandes empresários cachoeirenses, que adoram criticar os políticos, são no fundo como eles, vaidosos demais. Sei que parece que estou generalizando, mas não é bem assim, já que há uma série de boas iniciativas que são tocadas por aqui. E tem também iniciativas sacanas que o povo admira e que as pessoas nem imaginam que são, na verdade, uma sacanagem tremenda. E aí, muitos dos que mais contribuem com o ranço comunitário querem falar em renovação de lideranças. Como se eu não soubesse que somente as vozes que habitam as casas de bairros nobres da cidade acabarão sendo respeitadas. Ah, talvez essa última ponderação seja um ranço pessoal, perdão. É que lembrei que nos bairros nobres há um nível elevado de inadimplência de IPTU...

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