Eu vou lembrar por muito
tempo do dia 14 de agosto. Primeiro porque conheci e passei a admirar ainda
mais um cara que só via pela televisão e que eventualmente ouvia pelo rádio, o
jornalista Lasier Martins. Acompanhei o Lasier durante boa parte da tarde e
também à noite, quando ele coordenou magistralmente o Debates do Rio Grande,
uma das melhores discussões que já vi na cidade. Não pelos temas levantados,
afinal já ouvi praticamente todos, enfim. Mas pela condução que Lasier deu ao
encontro, com frases bem colocadas, questionamentos provocativos e que fazem o
interlocutor ficar “em xeque”.
A única coisa que ninguém falou
neste Debates do Rio Grande, aliás uma belíssima iniciativa desencadeada pela
Rádio Gaúcha e que contou com a parceria do Sistema Fandango de Comunicação,
foi um dos sintomas que no meu entender contribui para a estagnação econômica
que acometeu nossa cidade nos últimos tempos. Os ranços comunitários. Ora, que
diabos é isso? Esse, prezados cachoeirenses de todos os lugares deste planeta,
é o que mais nos atrasa em relação a municípios desenvolvidos. O ranço
comunitário é quando o empresário A não valoriza o que é bom só porque seu
concorrente, o empresário B, está enriquecendo. O ranço comunitário é quando a
inveja torna as pessoas cegas e as faz pensar que engoliram alguém da família
real, e automaticamente seus narizes são erguidos aos céus.
O Lasier não sabe, mas aqui
em Cachoeira a concorrência muitas vezes não é sadia. Sei de profissionais
liberais que preferem ficar de marcação uns contra os outros do que trabalhar.
Aliás, um bom exemplo atual é o lance dos fotógrafos. Acho incrível a mágoa que
anda rolando por aí porque uma galera começou a trabalhar e fazer seu pé de
meia. E nem estamos falando de cifras altas neste caso. Sei de indústrias
gigantes que sentem invejinha porque empresa de outro ramo é mais exposta na
mídia. Aliás, não foram poucas as vezes que tive que filtrar informações que
tentam plantar na imprensa sobre os erros de determinadas empresas.
O ranço comunitário é também
o motivo pelo qual até hoje nenhum dos projetos de planejamento estratégico desenvolvidos
aqui saiu do papel na prática. O projeto Debates do Rio Grande não foi o
primeiro que radiografou Cachoeira, muitos já fizeram isso antes. Ações foram
propostas, mas como era o fulano que havia levantado a ideia e ele ganharia
algum dinheiro pela iniciativa ninguém apoiava. Eu não consigo imaginar os
grandes empresários cachoeirenses se unindo e fazendo como os santa-cruzenses
que mensalmente pagam a uma empresa de consultoria especializada para pensar o
futuro e o desenvolvimento daquela cidade, que aliás é um dos principais
destinos da galera que sai aqui de Cachoeira.
Até porque, os grandes
empresários cachoeirenses, que adoram criticar os políticos, são no fundo como
eles, vaidosos demais. Sei que parece que estou generalizando, mas não é bem
assim, já que há uma série de boas iniciativas que são tocadas por aqui. E tem
também iniciativas sacanas que o povo admira e que as pessoas nem imaginam que
são, na verdade, uma sacanagem tremenda. E aí, muitos dos que mais contribuem
com o ranço comunitário querem falar em renovação de lideranças. Como se eu não
soubesse que somente as vozes que habitam as casas de bairros nobres da cidade
acabarão sendo respeitadas. Ah, talvez essa última ponderação seja um ranço
pessoal, perdão. É que lembrei que nos bairros nobres há um nível elevado de
inadimplência de IPTU...
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