segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O sorriso de Paulinha


Foi no bar, não lembro o dia, mas a cerveja era bem gelada. Falávamos de coisas como a política e a sujeira da cidade. Ah, sim, eu estava acompanhado de um amigo. Ele era meu amigo, pelo menos. Até que ela apareceu. Morena e olhos verdes. Grande coisa, pois tinha as coxas mais sensuais que já havia visto. Olhei para outro ponto do corpo dela, mas não convém destacar, porque vou ficar com a pecha de machista.
Sentou-se próxima de nossa mesa, rodeada por outras amigas. Todas sem sal. Aliás, as mulheres precisam ter atenção ao sair com suas amigas. Cuidado com a princesa, o sapatinho de cristal dela sempre chama mais atenção do que as pernas das outras. Se a intenção for caçar (mulheres se pintam antes de sair), melhor telefonar apenas para as amigas de segunda linha – estou falando de beleza. O Vinícius mais famoso disse uma vez que beleza é fundamental, então quem são vocês para discordar.
Mas de repente, a nossa conversa acabou. Meu amigo só falava do corpo daquela morena, enquanto ela brincava com o canudinho do copo de caipirinha e ajeitava o cabelo. Táticas de sedução. Como se mulher linda precisasse disso para seduzir um homem. Basta existir e pronto, já seduz. Pedi outra cerveja. “Gelada, amigão, que nem a última”, falei para o garçom. Meu companheiro de mesa não notou que mandei anotar na comanda dele a bebida. Também não mandei não prestar atenção.
“Cara, eu preciso falar com essa mulher”, disse. “Vai ali e pede pra ela te pagar uma bebida”, brinquei, ironizando e achando que o assunto não era sério. Era. Que coisa. Ele queria a minha ajuda. Na guerra, às vezes os soldados começam a atirar para proteger o companheiro que vai invadir um ponto. Se chama dar cobertura. Quando você sai para beber com um amigo, pode ser preciso sacar as armas em um determinado momento. “Vou te ajudar”, falei, antes de vestir a farda da canalhice.
Fui até o balcão e ordenei que o garçom levasse uma rodada de caipirinhas para as garotas da mesa. Comprei a minha entrada. “Oi, gurias, estou em missão de reconhecimento”, falei.
Fui logo dizendo para elas que um amigo estava interessado numa delas e apontei quem era. Elas disseram ter percebido os olhares dele para a mesa. A morena ignorou solenemente. “Ele só quer um pouco do que move o mundo”, falei. Foi nesse instante que a dona das coxas perfeitas se manifestou “pra que ele quer dinheiro agora?”. Foi nesse momento que outra das meninas sorriu, e fez um sol nascer naquele início de madrugada. “Ele quis dizer que o amigo dele está buscando amor, amiga”. Conexão instantânea. Esqueci a morena, deixei meu amigo ali e convidei a dona do sorriso mais lindo da noite para conversar noutro lugar. Perguntei seu nome. Paula, ela respondeu, os lábios se mexendo em câmera lenta. Disse que os amigos a chamavam de Paulinha. “Perdão. Mas não pretendo ser teu amigo”. 

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