Quando eu era como a maioria burra dos homens, eu não ligava para as roupas que
as minhas namoradas (nem foram tantas) colocavam para sair comigo. Aliás,
fazendo um parêntese fora do parêntese anterior, me permitam refletir que
talvez “maioria burra” seja uma tremenda redundância, afinal “toda maioria é
burra”, como dizia o genial Nelson Rodrigues. Já fui burro a esse ponto, de não
perceber o delicado esforço feminino em escolher um conjunto que a tornará
perfeita em uma noite qualquer. Perfeita para mim...
Hoje, gosto de me enquadrar em um grupo reservado de homens que compreendem a importância do rito de escolha da roupa de uma mulher, desde as peças íntimas até a forma como o cabelo será penteado. O desespero delas em frente a um armário com dezenas de sapatos, onde muitas vezes nenhum combina com o vestido longo escolhido para a festa da sexta-feira. Aquele vestido aberto às costas, mostrando os traços delicados de uma mulher que sabe usar a roupa como uma arma de sedução.
Aliás, quanta ignorância nesses machos que reclamam da demora de suas companheiras para um compromisso. Sequer descem das suas camionetas e chegam até ao ponto de buzinar para apressá-las. É muita falta de sensibilidade. Ela quer ficar linda para estar com eles em qualquer ocasião, a janta na casa dos chefes, o encontro de amigos no barzinho, a formatura do sobrinho no clube ou o passeio pelo centro no domingo. E os otários dizem coisas como “anda logo, poxa”. Para esse tipo de homem, nada mais justo que um par de chifres.
É claro que um cara pode, e deve (se for necessário), usar a estratégia de ignorar a beleza da mulher para não permitir que ela esteja mais alta que o salto que usa. Mas atenção! Essa regra só vale se for para a conquista! Está na quinta página do manual dos cafajestes modernos, homens que aprenderam a amar as mulheres em seus mínimos detalhes.
Finalizo esta reflexão enquanto ouço “Linger”, som do grupo The Cranberries, e a minha mente já imagina a noite fora da redação do jornal, em um barzinho qualquer da cidade onde vou admirar vestidos, blusinhas, saltos e detalhes mais delicados como brincos, anéis, colares e correntinhas estrategicamente usados para provocar um dos sentimentos mais humanos que existe, a paixão. Impulsiva, explosiva, desapegada e escancarada paixão em descobrir: "afinal, com que roupa ela vai sair?"
Artigo publicado no jornal O CORREIO de 2 de fevereiro de 2013.
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