terça-feira, 28 de maio de 2013

O jeito errado de fazer dar certo


Das diversas estratégias de guerrilha que um cara pode usar pra conquistar uma garota, uma muito efetiva é contrariar as expectativas lógicas dela. Tipo, falar para uma menina que não é admirada pela maioria que ela é linda não funciona. Vai colocar ela em um pedestal, no máximo. Mas ignorar a existência da mais cobiçada na repartição ou na escola tem lá seus acertos. 
Certa vez consegui isso com uma frase sensacional. "Não sabia que você trabalhava aqui", disse, com cara surpresa, para uma garota que estava há, sei lá, quase seis meses na mesma empresa que eu atuava. Resultado? Pois é. 
Não é uma regra, porque nessas coisas de fazer dar certo muita coisa pode dar errado. Acho que tudo na vida depende de esforço e de dedicação, e do tamanho da importância que se dá para as coisas. Como a vida é um jogo de futebol, é preciso a jogada certa para se infiltrar. E às vezes, ir para o ataque não é a melhor forma de marcar um gol. Se retrancar, e sair na velocidade, pode ser uma boa opção. 
O lance é que comparar a conquista com o futebol é meio sem noção, eu sei. O problema de ignorar qualquer pessoa é que isso deve mexer com o psicológico dela, quem manja da área deve ter uma explicação pra isso, imagino. Por isso é que sei, mexer com os sentimentos alheios é algo extremamente delicado e precisa ser feito com sensibilidade. Se os fins forem nobres, justificam-se os meios? Questione-se e decida. 
Porque a vida é como um passeio em um domingo nublado. Pode não ser a coisa mais maneira do mundo, mas tem lá a sua graça. E fazer algo dar certo do jeito errado não deve ser condenado. E quando não se alimentam as expectativas com falsas declarações de amor, também pode se conquistar algo verdadeiro. Ou divertido, por que não? Aliás, relacionamento sério é um dos termos mais estúpidos que a internet já criou para descrever uma relação. Eu queria colocar ali que em vez de relacionamento sério, vivo um "lance legal" com alguém.

sábado, 25 de maio de 2013

Mulher gostosa


Durante essa semana coloquei numa rede social o seguinte pensamento: “Mulher gostosa não é a que tem coxas grossas e seios fartos. É a que sabe ser sensual sem precisar de roupas curtas, que sabe dar um beijo que deixe o cara na posição de sentido. Gostosa é quando suas atitudes são firmes, convictas, é tomar a iniciativa, e nada disso tem a ver com vulgaridade. Entre quatro paredes, toda mulher deveria saber ser gostosa...”

Vai mais além esse lance de ser gostosa. Tem gente que acha maravilhosas essas garotas que vivem desfilando em qualquer coisa de moda porque são lindas e esculturais. São lindas, beleza. E o que mais? Eu acho gostosa demais aquela mulher que trabalha e se dedica à sua profissão, que é destemida, que vence barreiras e que enfrenta a gente. Que discute, e tem opinião e ainda tem tempo de fazer as coisas que nós, homens, cafajestes e não fazemos dentro de casa.

É claro que é muito mais fácil lidar com a mulher miojo, aquela que fica pronta para você em menos de três minutos. Todo homem sabe que tem muita garota por aí que fica cozinhando uma eternidade e na hora acaba sendo indigesta. Ela não é nada gostosa. A gostosa é diferente. Você não precisa ser um príncipe pra conquistar uma dessas. Precisa ser diferente. Eu não levo a sério nem dou muita moral quando recebo elogios sobre beleza ou algo assim (talvez porque seja feio). Certa vez, conheci uma garota extremamente gostosa, Pâmela. Foi a morena dos olhos mais verdes que conheci aos 15.

Pâmela foi a primeira guria a dizer algo mais ou menos assim: “Vini, você é diferente”. Para mim, não existe nenhum elogio mais sincero do que esse. Isso significava, pra mim, que não era como a maioria. A maioria sempre me pareceu estúpida. A maioria escolheu os políticos que temos, inclusive. A maioria não se importa com o que as mulheres sentem, nem com os desmandos e descaminhos do dinheiro de nossos impostos. É motivo de orgulho, para mim, portanto, não ser como a maioria.

Pâmela disse que eu era diferente porque não havia passado a mão por todo seu corpo no primeiro dia que tivemos um lance. Eu tive muita vontade de explorar todo o seu corpo, mas enfim. Ela me fez apaixonar pelo seu jeito humorado, irônico, pela forma como tratava os pais e pelas coisas que descobria conversando com os vizinhos mais velhos que ela cuidava aos finais de semana. Minha vontade não era de tirar as roupas dela, mas tirar suas camadas e conhecer mais detalhes de sua personalidade.

Pâmela me ensinou a beijar porque eu saía de seus lábios e parava vendo seu olhar para mim. E ela sorria, e eu via que era o motivo de sua alegria. Essa garota me ensinou a contestar o mundo, a não aceitar nada em definitivo. E também me provou que esse lance todo de relacionamento perfeito não existe, é coisa de novela – e nelas as pessoas não sofrem.

Porque na vida real choro dói, abandono machuca e terminar uma relação longa machuca, por mais que todo mundo prefira dizer que é forte e absoluta em cima de um salto. Acho mais gostosa mulher que admite sua fragilidade sentimental porque é gostoso ser sincero. Um dia, minha relação com a morena dos olhos verdes acabou. E nem deu tempo de brigar. Pâmela era mesmo muito gostosa. 

Coluna publicada no jornal O CORREIO, 25 e 26 de maio.

sábado, 18 de maio de 2013

Injeções de carinho


Certa vez fui acometido de uma dessas gripes sazonais que nos derrubam completamente. Consultei o médico, que me receitou injeções. Procurei a farmácia mais próxima de casa e lá conheci Mariane. Era uma nova enfermeira, uma garota que nunca antes havia visto nessa cidade. Pele morena, longos cabelos que desciam até a... Deixa pra lá. Mariane me atendeu com um sorriso dizendo bom dia e, educadamente, perguntando “tudo bem?”. Doente, com febre de sei lá quantos graus e com dores por todo o corpo, respondi “estou ótimo”, com claras dificuldades até para falar.

Ela sorriu. Talvez tenha notado a mentira. “Serão cinco injeções, você vai ter que me visitar até o final da semana, está bem?”. Que coisa mais linda de se ouvir. Pensei que seria um prazer revê-la, mesmo tendo que passar pela tortura da injeção. O problema é que garotas simpáticas, e lindas, como Mariane me fazem apaixonar. É como diz a música do Seu Jorge, “se fosse mulher feia tava tudo certo, mulher bonita mexe com meu coração”. Por que tem que ser tão dolorido? Falo desse lance de criar expectativas, não apenas da injeção. A gente sempre espera que as coisas dêem certo, quando deveria se preocupar em aproveitar os momentos.

Dei o braço para que a garota injetasse a “cura” para minha gripe. Notei suas mãos pequenas, macias, as unhas pintadas com decorações de corações com esmalte rosa clarinho, delicado. Reparei que em algumas unhas os detalhes eram diferentes. Nem vi que ela havia aplicado a injeção enquanto me perdia olhando suas mãos. Enfermeiras parecem mais lindas porque sua função é cuidar da gente, e sempre são carinhosas, simpáticas, doces. Acho que as profissionais da saúde são assim (vou fazer uma tese sobre isso outra hora).

No dia seguinte, minha condição já era melhor. Ainda não estava indo ao trabalho, mas a febre havia baixado. Mariane estava na frente da farmácia, aproveitando o sol da tarde enquanto não havia clientes no estabelecimento. “Oi, querido. Se sente melhor?”. Respondi que mais ou menos, e não era mentira. Nesse dia, notei os lábios de Mariane e o batom cor de rosa. Voltei para casa sonhando com um beijo da enfermeira e contando o tempo para fazer outra injeção na quinta-feira. Fui pela manhã à farmácia e Mariane estava atendendo. Outra moça apareceu e perguntou o que eu desejava e pedi para ser atendido por ela. “Tenho confiança só nela pra injeção”. A atendente não gostou. “Se prefere esperar, o senhor que sabe”, e virou as costas me ignorando.

Mariane me viu enquanto pegava qualquer remédio em uma prateleira e me deu um tchauzinho. Acho que li seus lábios dizendo “já vou aí”. Não demorou, nem me importei enquanto olhava a forma como ela atendia uma criança. Logo, ela veio em minha direção. Retirava um prendedor do cabelo e mexia nele, uma das coisas mais sensuais que já vi na vida. Coisa de cinema mesmo. Mariane era realmente linda. E eu só teria mais dois dias. Precisava arriscar. “E hoje, como está meu paciente?”. Era a senha que eu precisava.

“Lamento, guria, mas as injeções não estão funcionando. O que tem me feito melhorar é te ver esses dias todos. Saio daqui com vontade de voltar para ver teu sorriso, tua simpatia. Acho que a gripe me fez delirar, porque vou pedir pro médico me receitar injeções eternas só para te ver. A menos que você aceite sair comigo no final de semana para conversar por aí”. Ela riu e notei que ficou sem jeito. Logo, ela assumiu um perfil diferente e desafiou: “E por que você acha que essa trovinha barata vai funcionar?”.

“Porque é verdade, eu quero mesmo te ver todos os dias. Você me dá injeções de carinho”.

sábado, 11 de maio de 2013

O que é o tempo?


Sempre que vejo pessoas querendo atravessar a rua nas faixas de pedestre, paro o carro. Parei esses dias, indo para o trabalho, já atrasado para iniciar o programa de rádio. Era um casal de idade já avançada, ele um alemão alto, com uma bengala. A mulher agarrada ao seu braço, de um jeito que não se faz hoje em dia. É como se eles dependessem um da extensão do

braço do outro para existirem. Atravessavam a faixa de segurança vagarosamente devido à idade avançada, enquanto uma fila de carros estava atrás de mim. Eu estava com pressa, não queria me atrasar – e pensando bem agora, a culpa do atraso seria minha, não daquele casal. Buzinas começavam porque eu esperei que eles subissem a calçada antes de arrancar o carro.
Foi pouco menos de dois minutos esse ritual. E eu fico pensando agora, o que é o tempo? Todo mundo está preso ao relógio, com pressa. Temos nossas obrigações, as contas para pagar. Uns correm por diversão, outros querem encontrar a morte mais cedo com sua inconsequência. Para aquele casal, o que seria o tempo? Agora, me ponho a imaginar o que estariam fazendo. Qual seria seu destino depois de atravessar a rua. Seriam moradores da zona urbana, pagando as contas do mês e indo em direção à lotérica, ou seriam do interior aproveitando as ofertas que eram faladas no microfone de uma loja qualquer na avenida? Passei cerca de 20 minutos pensando nisso agora. 20 minutos são o que, pouco ou muito tempo?
O meu descanso é sagrado, porque meu trabalho é puxado. Mas preciso escrever para acalmar os pensamentos. Tenho os sábados para ficar comigo e com algumas ideias. E me sinto triste por não descobrir o que aquele casal faria. Será que os verei novamente? Terei tempo algum dia para descer do carro e ajudar alguém a atravessar a rua? Por que a gente não faz mais isso? Porque o tempo nos tornou egoístas? Eu ando notando que minha personalidade aos poucos começa a mudar mais uma vez, embora preserve sua essência. Estou menos convicto das coisas e tenho mais dúvidas. Talvez eu queira aprender mais, talvez eu queira ouvir mais.
Mas poucas pessoas hoje em dia têm tempo para uma conversa. Como falava com uma amiga, estamos operando no automático muitas vezes. E não percebemos isso. Não é proposital, imagino. O que é o tempo? O que ele significa quando você tenta conquistar alguém? E quando está se divertindo? E quando tem um trabalho para entregar? E o tempo que você colocou em um projeto é jogado fora se ele não dá resultado? Eu prefiro não pensar em como nos tornamos reféns dos avanços tecnológicos e de como eles nos fazem perder algum tempo. Ou ganhar tempo? 
Não sei, vou voltar a imaginar o que o casal faria depois que atravessou a faixa de segurança. Imaginar que eu lhes ofereci carona e que me contaram sua história. E que apesar de linda, de inspiradora, eu preferi não contar ao mundo. Porque ficou tudo na minha imaginação, eu não tinha tempo para estacionar e descer da minha vida por alguns instantes.