sábado, 18 de maio de 2013

Injeções de carinho


Certa vez fui acometido de uma dessas gripes sazonais que nos derrubam completamente. Consultei o médico, que me receitou injeções. Procurei a farmácia mais próxima de casa e lá conheci Mariane. Era uma nova enfermeira, uma garota que nunca antes havia visto nessa cidade. Pele morena, longos cabelos que desciam até a... Deixa pra lá. Mariane me atendeu com um sorriso dizendo bom dia e, educadamente, perguntando “tudo bem?”. Doente, com febre de sei lá quantos graus e com dores por todo o corpo, respondi “estou ótimo”, com claras dificuldades até para falar.

Ela sorriu. Talvez tenha notado a mentira. “Serão cinco injeções, você vai ter que me visitar até o final da semana, está bem?”. Que coisa mais linda de se ouvir. Pensei que seria um prazer revê-la, mesmo tendo que passar pela tortura da injeção. O problema é que garotas simpáticas, e lindas, como Mariane me fazem apaixonar. É como diz a música do Seu Jorge, “se fosse mulher feia tava tudo certo, mulher bonita mexe com meu coração”. Por que tem que ser tão dolorido? Falo desse lance de criar expectativas, não apenas da injeção. A gente sempre espera que as coisas dêem certo, quando deveria se preocupar em aproveitar os momentos.

Dei o braço para que a garota injetasse a “cura” para minha gripe. Notei suas mãos pequenas, macias, as unhas pintadas com decorações de corações com esmalte rosa clarinho, delicado. Reparei que em algumas unhas os detalhes eram diferentes. Nem vi que ela havia aplicado a injeção enquanto me perdia olhando suas mãos. Enfermeiras parecem mais lindas porque sua função é cuidar da gente, e sempre são carinhosas, simpáticas, doces. Acho que as profissionais da saúde são assim (vou fazer uma tese sobre isso outra hora).

No dia seguinte, minha condição já era melhor. Ainda não estava indo ao trabalho, mas a febre havia baixado. Mariane estava na frente da farmácia, aproveitando o sol da tarde enquanto não havia clientes no estabelecimento. “Oi, querido. Se sente melhor?”. Respondi que mais ou menos, e não era mentira. Nesse dia, notei os lábios de Mariane e o batom cor de rosa. Voltei para casa sonhando com um beijo da enfermeira e contando o tempo para fazer outra injeção na quinta-feira. Fui pela manhã à farmácia e Mariane estava atendendo. Outra moça apareceu e perguntou o que eu desejava e pedi para ser atendido por ela. “Tenho confiança só nela pra injeção”. A atendente não gostou. “Se prefere esperar, o senhor que sabe”, e virou as costas me ignorando.

Mariane me viu enquanto pegava qualquer remédio em uma prateleira e me deu um tchauzinho. Acho que li seus lábios dizendo “já vou aí”. Não demorou, nem me importei enquanto olhava a forma como ela atendia uma criança. Logo, ela veio em minha direção. Retirava um prendedor do cabelo e mexia nele, uma das coisas mais sensuais que já vi na vida. Coisa de cinema mesmo. Mariane era realmente linda. E eu só teria mais dois dias. Precisava arriscar. “E hoje, como está meu paciente?”. Era a senha que eu precisava.

“Lamento, guria, mas as injeções não estão funcionando. O que tem me feito melhorar é te ver esses dias todos. Saio daqui com vontade de voltar para ver teu sorriso, tua simpatia. Acho que a gripe me fez delirar, porque vou pedir pro médico me receitar injeções eternas só para te ver. A menos que você aceite sair comigo no final de semana para conversar por aí”. Ela riu e notei que ficou sem jeito. Logo, ela assumiu um perfil diferente e desafiou: “E por que você acha que essa trovinha barata vai funcionar?”.

“Porque é verdade, eu quero mesmo te ver todos os dias. Você me dá injeções de carinho”.

Nenhum comentário: