
Sempre que vejo pessoas querendo atravessar a rua nas faixas de pedestre, paro o carro. Parei esses dias, indo para o trabalho, já atrasado para iniciar o programa de rádio. Era um casal de idade já avançada, ele um alemão alto, com uma bengala. A mulher agarrada ao seu braço, de um jeito que não se faz hoje em dia. É como se eles dependessem um da extensão do
braço do outro para existirem. Atravessavam a faixa de segurança vagarosamente devido à idade avançada, enquanto uma fila de carros estava atrás de mim. Eu estava com pressa, não queria me atrasar – e pensando bem agora, a culpa do atraso seria minha, não daquele casal. Buzinas começavam porque eu esperei que eles subissem a calçada antes de arrancar o carro.
Foi pouco menos de dois minutos esse ritual. E eu fico pensando agora, o que é o tempo? Todo mundo está preso ao relógio, com pressa. Temos nossas obrigações, as contas para pagar. Uns correm por diversão, outros querem encontrar a morte mais cedo com sua inconsequência. Para aquele casal, o que seria o tempo? Agora, me ponho a imaginar o que estariam fazendo. Qual seria seu destino depois de atravessar a rua. Seriam moradores da zona urbana, pagando as contas do mês e indo em direção à lotérica, ou seriam do interior aproveitando as ofertas que eram faladas no microfone de uma loja qualquer na avenida? Passei cerca de 20 minutos pensando nisso agora. 20 minutos são o que, pouco ou muito tempo?
O meu descanso é sagrado, porque meu trabalho é puxado. Mas preciso escrever para acalmar os pensamentos. Tenho os sábados para ficar comigo e com algumas ideias. E me sinto triste por não descobrir o que aquele casal faria. Será que os verei novamente? Terei tempo algum dia para descer do carro e ajudar alguém a atravessar a rua? Por que a gente não faz mais isso? Porque o tempo nos tornou egoístas? Eu ando notando que minha personalidade aos poucos começa a mudar mais uma vez, embora preserve sua essência. Estou menos convicto das coisas e tenho mais dúvidas. Talvez eu queira aprender mais, talvez eu queira ouvir mais.
Mas poucas pessoas hoje em dia têm tempo para uma conversa. Como falava com uma amiga, estamos operando no automático muitas vezes. E não percebemos isso. Não é proposital, imagino. O que é o tempo? O que ele significa quando você tenta conquistar alguém? E quando está se divertindo? E quando tem um trabalho para entregar? E o tempo que você colocou em um projeto é jogado fora se ele não dá resultado? Eu prefiro não pensar em como nos tornamos reféns dos avanços tecnológicos e de como eles nos fazem perder algum tempo. Ou ganhar tempo?
Não sei, vou voltar a imaginar o que o casal faria depois que atravessou a faixa de segurança. Imaginar que eu lhes ofereci carona e que me contaram sua história. E que apesar de linda, de inspiradora, eu preferi não contar ao mundo. Porque ficou tudo na minha imaginação, eu não tinha tempo para estacionar e descer da minha vida por alguns instantes.
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