Por Vinícius Severo, reportagem publicada no jornal O Correio
A noite cachoeirense ganhou mais opções em barzinhos com música ao vivo nos últimos anos, criando uma cena cultural diferenciada e abrindo espaço para todos os estilos musicais se apresentarem. Tanto que, após muito tempo sem uma casa para o gênero, o rock tem seu ponto de encontro na cidade, no bar Porto 21 Pub. A variedade de opções beneficia não somente a população que curte o happy hour com um bom som de fundo aos finais de semana, mas abre as portas também para o trabalho de músicos cachoeirenses.
Apesar de terem espaço para o trabalho, os artistas ainda não são valorizados em sua terra-natal, tanto que a maioria dos profissionais que trabalha na noite cachoeirense precisa ter outra profissão para garantir sua renda. Há uma cultura de não valorização dos músicos que parte não diretamente dos proprietários de estabelecimentos, mas até da própria população, que em parte se recusa a pagar o couvert artístico cobrado pelas casas. Os valores variam de R$ 2,00 a R$ 5,00, dependendo do estabelecimento, mas muitas vezes não é pago – prejudicando o artista que tem inúmeros custos para se apresentar.
ROTEIRO DA NOITE – Aos finais de semana, os principais lugares em que há música ao vivo são em pontos como os barzinhos Bangalô e Bora Bora, os restaurantes El Fogón e Supremo, a pizzaria Ponto de Cinema, além do próprio Porto 21, todos eles concentrados na região central da cidade. Em comum, a mistura de ambientes agradáveis com gastronomia e petiscaria.
Diógenes, música pop na noite cachoeirenseO jornal O Correio conversou com dois músicos que seguidamente se apresentam na cidade. Diógenes Begnis, 35 anos, trabalha em um escritório durante o dia, e sua vida artística nos finais de semana é dividida com as apresentações ao estilo pop. Músico desde sempre, como gosta de dizer, ele começou a tocar à noite na década de 1990, mas comenta que intensificou as apresentações há cerca de quatro anos. Sobre a cena musical da cidade, ele afirma. “Melhorou em local para se apresentar”, diz, ele que roda por praticamente todos os pontos anteriormente citados. Diógenes lamenta que ainda alguns cachoeirenses não tenham a visão sobre o trabalho do músico, citando que é bastante comum alguns clientes se recusarem a contribuir com o couvért artístico.
“É praticamente impossível viver da música em Cachoeira. No inverno, diminui muito o público e o ganho varia de acordo com o valor cobrado pelo estabelecimento. O que muitos não percebem é que acontece uma troca entre o bar e o músico. Eles nos cedem o ambiente para tocar, e nós fazemos as pessoas ficarem ali, tanto que é comum os bares esvaziarem quando acaba a música ao vivo”, comenta.
CUSTOS – Muitos não têm noção dos custos que um músico tem para trabalhar, situação também comentada por ele. “Um violão bom custa entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. Só encordoamento sai por cerca de R$ 30,00, o que é considerável para quem faz shows todos os finais de semana”, explica. Além disso, há custos com som, microfone e cabos. Ou seja, o músico fez um investimento para levar entretenimento ao público, que às vezes acaba não pagando pelo que recebe. A falta de valorização entristece Diógenes. Ele inclusive lamenta uma apresentação recente, quando recebeu um bilhete em uma comanda. Estava escrito: “não gostei do estilo das músicas”. Quem não se chatearia?
Daniel Gomes, filho de peixe roqueiro éCom passagem como fotógrafo do jornal O Correio e hoje atuando no Instituto Geral de Perícias, o músico Daniel Gomes, 37 anos, começou a “carreira” logo cedo, na infância. A paixão pelo som veio de casa, já que foi o pai quem o ensinou a tocar violão, quando ele ainda tinha 12 anos. Entre o trabalho e a estadia em Cachoeira, Daniel encontrou no Porto 21 um local para apresentar a sua música, no projeto que tem em parceria com Diego Alemão, um som acústico rock and roll, com sons de bandas clássicas.
Sobre os espaços para se apresentar, até pelo estilo musical, Daniel tem mais dificuldades. “A música sempre foi complicada em espaço, é difícil ver uma melhora, só mudou de endereço. O rock agora conseguiu as portas abertas. Cachoeira nunca teve um bar de rock, apesar do público ser fiel porque o rock não é um modismo”, comenta.
“Cachoeira não aprendeu a valorizar a arte, a música. As pessoas vão ao cinema, pagam o ingresso e não reclamam”, disse, comparando com a valorização aos músicos. Daniel diz conhecer a cena em cidades universitárias como Santa Cruz do Sul e Santa Maria, e inclusive comenta que nestes municípios há artistas que conseguem tirar uma boa renda somente com as apresentações. Até mesmo por isso, ele vê com esperança que a transformação de Cachoeira em polo universitário possa ajudar a cena cultural a ter um salto de qualidade.
Aposta no rock dá certo
Sócia-proprietária do Porto 21 Pub, Ana Eliza Domingues comemora o resultado da aposta no estilo que ela e o marido curtem e que vem dando certo na cidade. O espaço abre nas quartas, sextas e sábados e nos últimos meses tem apostado em bandas e nomes do rock gaúcho, como Alemão Ronaldo e Tchê Gomes Trio, que estão assegurando a lotação da casa. Além da música, petiscaria como iscas de carne, frango e peixe, fritas e sanduíche aberto são oferecidos aos clientes. Dependendo do show, comenta Ana, são cobrados ou não ingressos. A cobrança ocorre normalmente quando há uma contratação prévia dos artistas, caso contrário os músicos são pagos pelo couvert.

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