Julia voltou para casa aos prantos. No táxi, passando pelas ruas vazias da cidade, o sentimento era de raiva. Foi chegar ao quarto, olhar para o ursinho que ganhou de presente de Cadu, quando fizeram três anos de namoro, para cair no choro. Esperou que tudo o que ele havia dito fosse um delírio, uma brincadeira de mau gosto. Eram três da madrugada, e Julia permaneceu acordada até as 9h esperando por uma ligação. Na internet, não viu em nenhum momento o namorado online. Ou ex-namorado, porque agora não sabia como havia ficado a relação. Pegou o celular pelo menos 12 vezes enquanto o tempo passava. Escreveu uma mensagem, chamando Cadu de cachorro, egoísta, cafajeste e outros adjetivos que caíam bem para a situação.
Mas não enviou nada. Suportou a dor. As lágrimas que insistiam em rolar secaram até que ela adormeceu. Caiu em sono profundo e quando acordou quis acreditar que tudo não havia passado de um sonho. Quando o celular finalmente tocou e ela deu um pulo de esperança, não era ele. Uma amiga convidava para sair, para se divertir porque era domingo e o centro estaria lotado à noite. Ela não queria saber do dia das gurias, não naquele domingo. Durante a relação com Cadu, eles experimentaram se separar naqueles dias. Cada um fazia o que quisesse, com quem quisesse. A ideia havia sido dada pela menina, depois de tantas vezes Cadu a trocar pela cerveja com os amigos.
Ela não se sentiria bem com as amigas enquanto o namorado estivesse noutro lugar. A amiga insistiu, disse que tinha coisas importantes para falar. Não adiantou. Ela teria que retornar à faculdade, certamente viria Cadu e ele a procuraria para conversar. Na segunda-feira, colocou a melhor roupa que encontrou, caprichou na maquiagem, deixou os cabelos cacheados soltos, porque o namorado insistia que assim eram mais lindos. Desceu do ônibus e notou uma aglomeração ao redor de Cadu. Cercado pelos amigos, ela caminhou devagar, esperando que ele a procurasse, a chamasse e dissesse que estava arrependido. Mas nada disso aconteceu. Julia foi ao banheiro. Precisava controlar as lágrimas...
Quando chegou à sala, uma notícia a cortaria o coração. A amiga Andreia contaria o que rolou na boate logo depois que ela havia ido embora naquele sábado. “O Cadu se atracou com outra menina, uma vagabunda. Ficou a noite com ela e depois saíram juntos da boate”. Julia chorou e foi embora. Ligou insistentemente para o namorado. Queria respostas. Ninguém atendeu. Julia insistiu mais dois, três dias. Nada. Na faculdade, não via mais ele, e sua angústia se tornava desesperadora quando ele a bloqueou das redes sociais.
Somente duas semanas depois, quando ela conversava com um amigo no Centro, Cadu ligou. “Ele deve ter ficado com ciúmes, não acredito”, ela pensou.
O jovem então começou a falar. “Amor, eu não te procurei mais porque fiz a maior merda da minha vida. Fiquei com uma guria por puro tesão, você já deve saber. Não me arrependo, não vou mentir. Estava com vontade e rolou. Mas agora, não consigo ficar longe de ti. Não tenho saído mais e não sabia como te procurar, não me perdoei. Sei que você não deve querer saber de mim, mas me dá outra chance”. Julia não respondeu nada. Não era assunto para ser tratado por telefone. Marcaram um encontro. Ela abraçou Cadu. Estava com saudades, não conseguiu reprimir o sentimento. Ainda enxugando as lágrimas, seu olhar ficou obscuro e falou. “Eu só quero saber uma coisa, Cadu. Você me ama mesmo?”.
“É claro que eu te amo, Ju”.
“Pensasse nisso antes”.
E foi embora, engolindo o choro.
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