Eu não sei vocês, mas de vez em quando me sinto à beira de abismos. Não por decisões que precisam ser tomadas, quando não devemos seguir em frente pra não se arrebentar no chão. Mas quando basicamente alguma coisa nos empurrou para o precipício e um movimento errado nos faz escorregar. E daí é preciso encontrar algo para se segurar e não despencar. São os abismos da vida. Tem uma piada recorrente que afirma que nos momentos de desespero, todo ateu se converte em fiel e passa a gritar “Meu Deus, me ajuda”. Houve um tempo que não acreditava nisso, nem mesmo na existência Dele. A vida deixa algumas cicatrizes e acostumamos a lembrar que precisamos de um salvador de vez em quando.
Com o passar do tempo, aliás o maior professor da nossa vida, fui percebendo que talvez Deus saiba confortar nosso coração nas horas mais doentias pelas quais precisamos passar. E se seguimos é porque nos agarramos numa fé tão inabalável que impede que nossas lágrimas rolem e que nos mostremos derrotados. Porque há uma força interior que nos impulsiona para longe do abismo, e ele vai ficando distante e mais distante. Mas na nossa ignorância, por vezes pensamos que foi nossa coragem ou forma de resolver nossos medos que saímos sozinhos de nossos abismos - sem nenhuma intervenção divina. Bobagem. A vida todos os dias me prova que Deus nos dá na hora certa as conquistas.
Por muito tempo, acreditava que seria egoísmo conversar com Deus e pedir qualquer ajuda quando na minha vizinhança tinha gente passando fome, ou quando noutra rua o pessoal havia tido a casa destruída pela chuva. Então, não conversava com Ele. E teve um período que precisei e me agarrei muito na fé, clamando para que um tormento se encerrasse e quando não houve mais volta, decidi virar-lhe as costas. Eu simplesmente não aceitava que existiam algumas provações que todos nós precisamos passar. E não sei se era esse o propósito, mas a armadura ficou mais resistente depois de alguns episódios que hoje não provocam mais rios de lágrimas.
Tenho estado mais poético e menos invocado ultimamente. Aliás, dá para afirmar que de pouco tempo para cá. Duas pessoas basicamente ajudaram nesse processo. Amigos, sempre amigos. Amigos são, vejam que clichê, anjos que provam a existência de Deus na terra. Um certa vez me ensinou sobre fé e como deveria respeitar essa parada. Tive um aluno, um milagre, pode-se dizer, que também abriu meus olhos para a presença dEle aqui entre nós. E por fim, uma menina que conversou comigo em um momento difícil e que somente quis meu bem, nada mais. E me ensinou que falar com Ele não era somente para pedir para sair de algum abismo emocional particular, mas agradecer pelos caminhos que trilhamos nessa jornada insana chamada vida. Não frequento igreja, nem tenho imagens de santos dentro de casa, aprendi a ter fé em ideais de vida por muitos anos. Coisas como espalhar sorrisos, ajudar e buscar convergência. Mas tem dias que o abismo nos chama, escorrego bem na beira e me agarro numa confiança que não preciso provar para ninguém a existência de nada. E então, em vez de me afastar do abismo eu me jogo e tomo o banho de Cachoeira mais gostoso do mundo.
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