sábado, 10 de maio de 2014

Quem sofre mais?

Na guerra dos sexos, no meio das opiniões sobre quem tem mais razão, a única coisa boa é a transa – que normalmente encerra discussões homéricas. Ninguém gosta muito de amorzinho, tem que ser relação epidérmica, aquela coisa de suar o corpo e se perder num desencontro. Era assim com Aninha e Cadu, o amigo nosso, tradicional figurinha dos barzinhos da cidade. Cadu teve um relacionamento amoroso e confessou que sofreu. Sim, quando tudo se acabou Cadu sofreu.
Mas não foi de imediato. Cadu sofreu depois. Bem depois, dá para se dizer. Foi quando a ficha caiu, e ele não se importava mais com as calcinhas que caíam a cada final de semana. Aninha amava Cadu, a ponto de não permitir que ele saísse com a gente, agitadores e amantes da vida noturna (lembra da música “Doente de amor, procurei remédio...”). Pois é. Aninha prendia Cadu. Mas o amava. Ela fazia tudo para vê-lo feliz. Assistia aos filmes de guerra que ele amava no cinema, acompanhava o namorado nos encontros de dos grupos de carros rebaixados e até aprendeu a jogar sinuca.
Cadu, claro, também amava Aninha. Só que a relação foi se desgastando porque a vida é assim. Você briga com seus pais, então não pode imaginar que vai ter um relacionamento extremamente perfeito. E sempre é bom lembrar que uma das histórias hollywoodianas de maior sucesso acaba em tragédia, o filme “Titanic”. Jack morre no final. Esqueçam o filme, temos que falar do que aconteceu com nosso casal de amigos. Aninha percebeu que Cadu andava estranho e suspeitou de traição. O rapaz, desta vez acreditem, era inocente.
Mesmo assim, tiveram uma dessas briguinhas que casais adoram. E terminaram. Pra valer. Cadu nos ligou e disse que precisava sair. Aninha ficou em casa. Olhava para o telefone, chorava. Pensava em ligar para Cadu, desistia toda vez. Chorava mais. Telefonava para uma amiga, para outra. Pedia opiniões. E chorava. Cadu se apaixonava a cada boate em que parávamos. Aninha ficava sabendo porque os meios de comunicação são impressionantes neste século. Lógico que muitas informações eram mentiras das amigas de Aninha que estavam ficando com Cadu (sim!).
Dois meses depois, Cadu havia sumido. Não queria mais sair. Apenas falava em Aninha. Ela agora desfilava, voltara à academia, postava fotos com o corpo desenhado. Nós não comentávamos nada, mas Aninha estava espetacular. Separar de Cadu havia feito bem pra ela. A mulher sempre sofre mais. Só que elas estão acostumadas com a dor, não é por acaso que nos colocam no mundo suportando algo inimaginável. Apenas por serem mães, elas nos vencem nesta batalha da guerra dos sexos. Aliás, um feliz Dia das Mães pra quem permitiu que eu me tornasse um escritor, ou coisa parecida.

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