Nunca fui bom no futebol, e talvez isso não seja surpresa porque sempre tive um visual alternativo - sou gordo - mas naquele dia fui craque. Porque ela estava do lado de fora do campinho onde a galera se reuniu pra jogar contra a equipe dos bebuns num veraneio qualquer. A gente não faz nada melhor e com mais dedicação nessa vida se não for por e
las, tirando os dias em que só queremos ficar loucos com uns amigos por perto. Eu queria dar uns dribles pra ela ver, arrumar uma jogada bacana, deixar alguém na cara do gol.
Pois aquele dia, dizem, fiz um golaço. Depois de um escanteio, subi pra cabecear e... Bem, não lembro de nada do lance. O fato é que contaram que foi gol, a bola pegou no travessão e nas costas do goleiro e entrou. Só acordei alguns minutos depois porque tomei um cotovelaço na nuca quando saltei, e a pancada me apagou. E quando eu abro os olhos, no colo de quem eu estava? Não, não era minha mãe. Era no colo dela, digamos que o nome seja Caroline, e que ela era uma guria linda e tinha os olhos quase japoneses de tão miudinhos.
Carol me levou até sua casa, me apresentou sua família, ouviu minhas piadas insanas e até achou graça, e no meio da noite, quando todo mundo tomava um trago na pracinha do balneário, nos beijamos. Nunca mais vi Caroline depois daquele verão. Eu deveria ter dito pra ela que a amava. Só por aquele dia, por aquela noite. Não disse, nem no dia seguinte, nem depois. Caroline virou uma lembrança que mais parece um sonho, e acho que todos temos amores assim, que são singulares ao extremo que se tornam incríveis. E não precisa durar pra sempre pra ser perfeito? Ou precisa? Até que a morte os separe será perfeito?
O outro continua vivo e chorando a perda... O amor assim, sinceramente, não me parece nada lindo.
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