Eles eram um daqueles casais perfeitos. Do tipo que todo mundo acha isso. Daqueles que as outras mulheres querem separar. Ela sofisticada, roupas da moda, ele simples e bem humorado. Joana era daquelas meninas que precisavam de atenção em tempo integral, uma mulher firmeza, mas problemática. Cadu queria tudo para ontem, viajava em delírios de dias perfeitos e sempre que amanhecia continuava sua busca insana. Ela dizia que o amava, e insistia num ciúme doentio. Ele queria demonstrações de carinho, não de desespero. E foi quando o amor começou a acabar.
Cadu contava para nós que havia se libertado quando percebeu que os problemas de Joana eram no fundo problema dela. E que o amor pode ser romântico e as pessoas devem acreditar nisso, mas avisou, de dedo em riste, olhando fixamente para uma caipirinha trazida por uma garçonete linda: “se não tem tesão, acabou”. Esse era o final feliz de sua aventura amorosa, uma relação de três anos. Bêbado e alucinado, ele só dava risada. “Amor é igual minha paciência, acaba toda hora”, dizia antes de cair na gargalhada pedindo mais um gole de qualquer coisa alcoólica.
Cadu era mais um na rodinha de parcerias no final da festa. Tocava um som e algumas garotas dançavam, mexiam o corpo e seguravam copos. Cadu estava alucinado desde que havia separado. Agora, não passava mais se lamentando pelo fim da relação porque uma noite em que o sexo não era mais aquela parada epidérmica acabou abrindo seus olhos, e fechando pela última vez a porta da casa de Joana. Não importava mais o que ela fazia. Numa dessas saídas à noite, discutimos coisas como traição e por que o amigo agora estava em outra vibe – éramos uns cinco caras com os carros parados em qualquer parada.
Quase todo mundo estava bêbado e foi uma dessas noites pós-eventos depressivos que só cidades pequenas proporcionam. Uma garota apareceu na nossa roda de amigos, provocando mais risadas, era Aninha, completamente fora do giro. Ria de tudo e falava do vinho que havia bebido. Foi ela que disse que todo mundo traía, então questionamos se era uma questão de caráter. Cadu quis dar uma de romântico para Aninha: “Pra que você vai trair e não terminar?”.
Tive que intervir na conversa: “Bobagem, traição acontece. É oportunidade, não questão de caráter”. Todo mundo concordou. E deu risada. E outro amigo dedurou Cadu, que havia traído Joana enquanto namorava. Mas ele avisou: “eu contei tudo pra ela” – dizendo que o objetivo era ser sincero e quando ainda pensava em voltar. Não voltou. Tudo porque o tesão chegou ao fim. E incrível: Joana nos achou na noite. E viu Cadu conversando com Aninha e ameaçou um escândalo, em plena madrugada. Menos mal que o Marques conversou com a barraqueira e acalmou os ânimos.
Das imbecilidades que mulheres largadas fazem, essas ceninhas são as mais lamentáveis ainda mais porque estavam separados. De qualquer forma, a noite acaba não tão melancólica para nosso amigo e herói, que arrasta Aninha, já recuperada, para qualquer canto da cidade, enquanto nós cumprimos o rito de fazer a ceia em algum posto de gasolina, porque não tem mais nada aberto. Conclusão da noite, o amor é lindo. Mas não resiste à falta de uma boa transa.
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