Ele tem problemas de aprendizagem, talvez seja uma deficiência mental até. Perambula pela cidade todos os dias vendendo algumas coisas que sua única parente, talvez uma tia, prepara para ter renda em casa além da pensão deixada pelo marido falecido. Ele não sacaneia ninguém, pelo contrário, está sempre brincando. Já não é uma criança, mas mantém aquela ingenuidade do olhar curioso pro mundo. Tanta inocência que se deixa ser humilhado às vezes, talvez sem saber, talvez sem se importar. Na lan house pública perto de sua comunidade, ele e todos os amigos acessam a internet. Enquanto os outros fuçam o face e jogos, ele pesquisa sobre coisas que a tia havia lhe pedido. Nunca o vi forçar uma venda, insistir, reclamar de sua condição para comercializar as empadinhas, os doces. Sempre fala que foi a tia quem fez e que ela capricha, ele a chama de tia, mas também me chama de tio, então, não tem como saber se é uma mãe, irmã... Dia desses, ele foi abordado por uma dessas madames, que o tratou muito mal, debochando de sua simplicidade por não saber o que era o tal sushi que ela disse que ele deveria vender, porque ela não comia "aquelas porcarias". Ele saiu, sem entender as risadas que ela deu, e pediu licença, agradecendo. Mas dava para notar sua tristeza pelas risadas que ouvira. Nesse dia fui atrás e comprei toda sua cesta de lanches, distribuí para os colegas. Então ele me olhou e perguntou:
"Tio, o que é sushi?".
"Não é nada, cara. Na próxima, tu diz pra ela comprar sushi e enfiar no cu".
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