sexta-feira, 30 de abril de 2010

É tão bom ser brasileiro

Viver no Brasil é sensacional. Aqui, o presidente não tem diploma superior, assim como eu, e mesmo assim é eleito um dos caras mais influentes do mundo por uma revista gringa. Nosso país é de terceiro mundo, e eu aprendi isso em Geografia no segundo grau, mas hoje teimo em acreditar que exista apenas um mundo. Nós vivemos é no submundo. Não temos esgoto, nossa saúde, embora universal, é uma piada, e de mau gosto.

Para piorar ainda mais, aqui pagamos tanto por imposto que trabalhamos metade do ano para encher o caixa do país. E se esse dinheiro fosse bem administrado, mas vai parar em cuecas e paraísos fiscais no exterior e no meio dos seios de prostitutas. Não estou comparando as prostitutas com os políticos, elas não merecem isso.

Mas acho que estou sendo ácido demais. O Brasil é o país do futebol, vamos sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Nossa! Isso é sensacional. Eu fico imaginando quantos políticos malandros encontraram uma chance de superfaturar as obras. Aliás, até onde sei, já apareceram indícios de irregularidades, mas a Justiça fez vistas grossas. Até aí, nenhuma novidade, afinal toda semana eles soltam um traficante e os colocam de novo nas ruas.

Preciso ser mais otimista, afinal este ano tem eleições e... Ah, mais uma porta aberta para a troca de favores políticos, de cargos, de corrupção e de venda de votos que chamamos de democracia. Acho que o certo seria vendocracia ou algo parecido.

E é tão bom ser brasileiro e fazer de conta que nada disso existe e gastar 20 contos para assistir o time do coração no domingo. Comer um churrasco e beber uma cerveja bem gelada e brigar com a sogra. Falar mal do vizinho que fica fazendo barulho. Reclamar da política como se entendesse alguma coisa e depois pedir um emprego praquele doutor que está na presidência. E assim a vida segue cheia de sobressaltos, a igreja lotada, os fiéis pedindo ajuda e Deus pensando: “onde foi que eu errei a mão nesse país”. Me perdoe, senhor, eu não sei o que digo!

O foca com olhar de tigre e apetite de leão

Ainda tem muitas coisas sobre o jornalismo que eu provavelmente preciso aprender e uma delas é a controlar a minha humildade. Acho que essa sempre foi uma das primeiras lições que aprendi no exercício diário de uma das profissões mais fascinantes entre as que exerci (foram poucas, na verdade. Fui recepcionista de hotel, vendedor e professor). Ainda não tenho diploma e há muito tempo passei, assim como o Supremo Tribunal Federal, a desconsiderá-lo para o exercício correto do meu cargo.

Estou prestes a completar três anos de cobertura política no pequeno município de Cachoeira do Sul e continuo me sentindo um foca, mas com olhar de tigre e apetite de leão toda vez que sou tentado a escrever sobre corrupção na política. Não sou exemplo para ninguém, nem posso dizer que sou 100% correto, afinal assisto DVDs piratas, não exijo nota fiscal de muitas coisas que adquiro, mas nunca roubei nada nem acho que seria capaz de fazer isso. Admito me aproveitar da profissão algumas vezes, já vendi ideias e também dei algumas de graça, pensando naquilo que eu acreditava ser o melhor para um todo. Também já repassei informações importantes como forma de trazer benefícios para minha cidade.

E prestes a completar estes três anos de reportagens, algumas polêmicas, cobertura de eventos importantes e de decisões de destaque, a cada dia mais aprendo o quanto nosso trabalho pode ser simples, mas pode contribuir, se o mundo permitir, para que as coisas erradas deixem de acontecer. É uma utopia pensar que a imprensa seja capaz de acabar com a corrupção, mas ela freia muitas coisas. A dificuldade é que ela é testada todos os dias pelas excelências que não merecem mais o crédito da população e tentam desacreditar a imprensa.

O trabalho do jornalista fica mais fácil quando ele percebe que não precisa mudar o mundo e limpar toda a sujeira que acontece à sua volta, mas que cabe a ele apenas contar a história. Sempre que me empolgo e não tenho humildade com a informação, me lembram isso. Tenho que contar a história. E aqui reside a diferença do bom e do mau ou mal intencionado jornalista. Eu prefiro ir atrás da história, do que atrás daquilo que acredito. Eu prefiro ouvir os envolvidos e provocá-los a dar sua versão, do que usar a minha versão de uma forma a induzir o leitor a acreditar nela. Quando eu quiser isso, posso usar uma coluna de opinião. Quando retratar uma história, sou apenas o cara que mostrou ao mundo o que aconteceu, apenas um jornalista, e com muito orgulho.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Fora da roda social

Não sou popular, em nenhum momento do meu um quarto de século de vida isso aconteceu. No jardim de infância, era o tímido e na escola passei a bagunceiro. Hoje, atuo aqui e nos bastidores das decisões mais importantes e vergonhosas que são tomadas nos cantos do poder em Cachoeira do Sul, a cidade que eu amo (ame você também!). Gosto de me sentir uma personalidade rejeitada e só por isso não faço questão de ser simpático com a nata da sociedade. Até porque sou muito cético quanto à atuação desse pessoal pseudoimportante no crescimento do nosso espaço comum.

Esta semana, me senti importante de verdade porque intermediei – dentro das minhas possibilidades – uma grande conquista para esse município. Não pensei duas vezes antes de repassar uma informação valiosa para que a cidade pudesse ser beneficiada com obras de envergadura. Aliás, o maior investimento que será feito na cidade no atual governo. Ainda assim, não quero reconhecimento. Até fazendo jus ao nome deste blog, prefiro continuar atuando assim nos bastidores da realidade. É até uma espécie de lobby, mas do bem. Fazer isso é quase o mesmo que dar um presente a uma criança carente, doar roupas no inverno, essas coisas. Faz bem. A nata só faz festa para conseguir esse tipo de coisa e enche a cara, enquanto os credores batem à sua porta todos os dias. Não quero uma vida de fachada, não quero ser parte da roda social, que gira em torno do umbigo de cada um.


E estranhamente atuar como editor do Formigão, escrevendo matérias para os jovens, me fez pela primeira vez ser pop – ou quase isso. E ainda que eu não aceite e nem queira me tornar referência para ninguém, até pela complexidade das minhas ideias e da minha personalidade, eu sinto que posso fazer pela galera, por essa juventude que por muitos é desacreditada, aquilo que gostaria que tivesse sido feito por mim. Por isso, não posso integrar a alta sociedade, porque acredito sinceramente que escrevendo matérias que causem divergência, que façam essa molecada opinar e se posicionar, eles podem finalmente ser a mudança que sempre se esperou deles. É por isso que tento filtrar alguns assuntos e dar importância a outros de mais importância. Se eu fosse da alta sociedade, escreveria um monte de futilidade apenas para agradar. Mas eu sei que escritores precisam desacomodar, não colorir o mundo com mentiras que rendem dinheiro.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Até que chegasse um milagre

Não tive como reagir quando a arma disparou, foi uma fração de segundos enquanto tentei ficar calmo e entregar todo o dinheiro. O disparo atingiu minha perna, próximo ao joelho, mas na hora a dor não me atormentava. O medo maior era a iminência da morte, agora que podia ver claramente o rosto do assassino e sua mão tremia enquanto o revólver ainda soltava fumaça do primeiro tiro. Enquanto a arma permanecia na direção da minha cabeça, vi os melhores momentos do meu passado voltando como um filme em meu pensamento.

Senti o cheiro daquela noite que parecia ser a última e nem percebi que havia sido agredido na mesma perna que havia sido alvejada enquanto permanecia sangrando até que chegasse um milagre. O chute me fez acordar e urrar de dor. Ainda não havia entendido que estava realmente tendo meus últimos minutos de vida porque demorei a entregar os 120 reais que recém havia tirado do banco para comprar remédios para minha mãe. Me preocupei com ela e pensei em seu futuro e no que seria de seus dias sem a minha presença e pensei em implorar pela minha vida. Acho que à frente de uma arma, todo tipo de orgulho deveria morrer, mas não foi o que aconteceu.


Minha voz mudou, assumindo uma postura inacreditavelmente desesperada. Eu ordenava à aquele jovem viciado que atirasse logo. “Atira, atira, e estraga a tua vida, filho da puta. Puxa esse gatilho de uma vez, seu covarde. Acaba logo com isso”, ordenei, antes de ser mais uma vez agredido. Desta vez, não gritei de dor. Aproveitei sua desatenção e mesmo com a perna machucada o derrubei no chão, com uma rasteira. A arma novamente disparou dessa vez senti algo arranhar meu braço, que ardia. O revólver estava caído e o rapaz tentou pegar de volta. “Eu vou te matar, desgraçado. Eu vou te matar”, ele gritava.


Naquele momento, alguém falou por mim, aconselhando o bandido a ir embora. “Meu amigo, pega o dinheiro. O que tinha de ser feito, já foi. Não estraga o resto da tua vida, não te preocupa, vai ficar tudo bem, eu prometo. Fica calmo e vá em paz”. Lembro exatamente daquelas palavras e ainda tenho certeza de não ter as pronunciado. De qualquer forma, elas salvaram a minha vida, e também as daquele rapaz. Soube que foi preso dias depois e que, na cadeia, está se recuperando por mais incrível que isso possa parecer.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os últimos dias na minha vida

Eu gostaria que alguém chorasse por minha causa no último dia da minha vida e que dissesse que eu fui importante de alguma forma. Aliás, andei pensando muito nisso agora, nos últimos cinco minutos não cumpri o que escrevi sobre parar com esses textos. E fui aqui e ali no meu passado para ver se encontrava alguma coisa que motivasse as pessoas a chorarem no último dia da minha vida, mas não achei nada de relevante. Descobri que minha vida até agora tem sido vazia, que não fiz nada para orgulhar nem mesmo os meus mais próximos familiares.

Ainda pior, percebi que minha existência já foi motivo de brigas entre meus pais e desejei nem ter chegado até este ponto. Viajei pelo passado e vi ainda que fui sempre um inconsequente que tinha numa frase do Clint Eastwood a inspiração para a vida. Era qualquer filme de faroeste onde ele dizia que importava mais viver do que se preocupar com as coisas mundanas. E por muito tempo eu não acreditei até me tornar alguém. Ou acreditar que havia me tornado alguém. O problema é que nosso mundo é muito pequeno e a gente se engana todos os dias. E a cura para isso é a realidade, é olhar em volta.

E hoje mesmo, eu vejo que teria mais gente feliz pelos últimos dias da minha vida, do que tristes, dipostas a derrubar algumas lágrimas. E o choro só seria importante porque eu ouço agora o Lulu Santos dizendo que “o teu amor me cura de uma loucura qualquer, é encostar no teu peito, e se isso for algum defeito, por mim tudo bem...”. E quando eu limpo o rosto, e olho minhas mãos já manchadas de sangue e não sei se é de verdade essa dor, eu fico me perguntando o que foi que eu fiz...

Então, enquanto escrevo isso eu me olho no espelho e me cobro por tudo que eu não fiz. O que foi que eu fiz? Me perdoem pelo que eu não fiz, mas não chorem por mim nos últimos dias da minha vida quando eles chegarem. Eu prometo entregar a vocês algo realmente valioso e digno de lágrimas antes de me despedir, prometo dar um valor maior a minha vida e deixar o sol brilhar, mostrando a sombra das minhas mãos calejadas que machucavam o teclado enquanto meu coração sangrava.

Eu sonhava que podia voar

Hoje, não deveria ter sido um dia com um final tão ruim. O Inter venceu e aquela magia que só um jogo de Libertadores é capaz de acender voltou a aparecer. Mas esse dia não acaba bem e não quero que todos vocês saibam por que, apenas entendam ou interpretem meus pensamentos como for melhor.

Quando eu era pequeno, costumava sonhar que podia voar. E eu acho que todo mundo já sonhou isso um dia, que passava pela cidade e ia a lugares incríveis e planava pelo ar. Às vezes, eram pesadelos e eu morria nos sonhos, mas mesmo assim a sensação de voar era maravilhosa. A liberdade e o perigo juntos davam aquela adrenalina maluca. E quando eu era pequeno, eu sonhava que cresceria e inventaria coisas absurdamente importantes, sonhava que podia mudar o mundo.

E do alto da minha ingenuidade, nunca me passou pela cabeça que muitas vezes as minhas asas seriam cortadas durante muitas fases da minha vida. O destino já me tirou a estrutura e mesmo assim as minhas asas ficavam intactas e eu seguia acreditando que podia voar. Até agora, mais especificamente até alguns dias. Cheguei a sair do chão e acreditei que realmente algumas coisas mundanas podiam mudar. E me agarrei nessas crenças.

Mas a nossa realidade é tão cruel, ela nos aprisiona até o momento que percebemos o quanto é difícil manter sonhos e desejos de um futuro bom vivos. E mudar a vida, mudar a realidade, mudar injustiças é tão difícil, beira o impossível... E eu mandei todas minhas esperanças nessa vontade de voar e de fazer isso acontecer, e tive que me contentar em viver aqui embaixo, junto das coisas normais e erradas. Ainda bem que aprendi a conviver com a decepção, a crescer na adversidade e agora vou empenhar minhas forças para aprender a viver, ao invés de sonhar. E é por isso que vou abandonar esses textos inúteis por um tempo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Minhas definições de amor

Amor é aquele caminho que você segue quando já está perdido. Esse sentimento é o que te faz sorrir no final de um dia extremamente estressante e cansativo. O amor te consome aos poucos, ele tem poder de invadir seu coração e mexer com sua razão. Ele não conhece diferenças de idade ou de classes sociais, nem existe só onde há beleza ou onde sobra inteligência. O amor existe e ponto final.


O amor não acaba como uma chuva de verão, ele se esconde como o sol atrás das nuvens para aceitar quando simplesmente não pode existir. Em outras oportunidades, ele se confunde com a paixão, sua irmã mais nova. Mas queiram ou não, está sempre presente na vida. Se você chorar, é porque tem amor na sua vida, se sorrir, também. Se você sofrer, algumas vezes vai ser por amor, por mais estranho e contraditório que isso possa parecer.


O amor vai te iludir como um truque de mágica, mas a diferença é que você nunca vai saber onde está o segredo dessa magia. Seus olhos vão ver e você vai sentir, mas nunca saberá onde está o grande truque do amor. Aquelas horas simples que parecem maravilhosas, aqueles dias que parecem desenhados, aqueles abraços e beijos de cinema. Amor não precisa ser correspondido, nem alimentado, porque sua essência é imortal, é eterna – mesmo que o vento mude sua direção.


O amor é incompreendido e tem centenas de definições. O amor é fogo, é pedra, é água e espelho do seu coração, é luz, é sol e chuva, o amor é a capacidade que você possui de sentir carinho por algo que ainda nem conhece direito, é gostar do desconhecido. Para um médico, o amor é um sintoma, para o psicólogo, um estado de espírito, para um empresário, um investimento, para um estudante, uma lição. Para alguns é um sonho, uma utopia, algo desnecessário, mas ao mesmo tempo imprescindível em alguns momentos da vida. O amor é remédio, é cura, é um porto-seguro, é um vale de lágrimas e um campo aberto para a felicidade. Mas só se você não fechar a porta para ele.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Eu estava só sonhando

Sonhando, eu estava só sonhando, acreditando que um dia essa vida podia mesmo mudar. Sonhava com um lugar bem longe de onde estou, só pra te encontrar. Voando, eu estava mesmo voando, perto do meu maior sonho, mas você não me via passar. Morrendo, eu me enxerguei morrendo, não te ter aqui comigo, só me faz chorar enquanto uma tempestade sepulta minha vontade de sair para a rua. Escrevendo, fico só escrevendo e despejando sentimentos verdadeiros, enquanto o mundo real me espera do lado de fora da porta.


As lágrimas rolam, não há mais sorrisos e eu olho para o céu e só enxergo uma escuridão, o céu nublado me diz que não há nada para ser visto através dos seus olhos. Minhas palavras deixam de fazer sentido e eu sinto que perdi a memória daqueles dias em que conversávamos durante horas. E parece que eu estava apenas sonhando e o sonho vai morrendo, perco o controle do pensamento.

Mas não estou preocupado em sair para a rua agora porque sei que vou te encontrar em algum lugar do caminho.


Rastejando, todos estão rastejando atrás de futilidades e desejos pessoais de poder, onde foi que jogaram os velhos valores de nossos avós? Quando a chuva parar, será que todos eles vão lembrar dos seus sonhos de criança, quando não pensavam só nos seus desejos? Mas depois da corrupção, parece que não há crenças neste mundo para mim.


O céu parece ter caído no chão e fomos todos convidados a entrar pelos portões de São Pedro. Nos oferecem o perdão e a moradia no paraíso, mas só o que queremos é mais um uísque e a chance de errar mais uma vez, para sermos felizes e abusarmos da nossa liberdade. Sonhando, eu estava apenas sonhando com este texto em um outro lugar, enquanto uma música qualquer tocava na minha cabeça. Cantando, em voz baixa eu ficava só cantando para não deixar meu sonho preso ao meu coração, longe dos seus olhos. Rindo, agora eu estou só rindo, porque sei que você vai ler tudo isto e nada vai fazer sentido. Chorando, por que será que por trás de um sorriso tímido estou chorando?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Falta inspiração

Na verdade, não é assim tão fácil escrever algo que seja digno da atenção de vocês. Por exemplo, sempre falta inspiração. Senão, que motivo eu teria para iniciar um texto de forma assim tão desinteressante? Não sei e realmente espero que me perdoem se esperavam algo melhor do que uma série de desculpas esfarrapadas como essas do primeiro parágrafo. Aliás, eu sempre costumo dizer que a desculpa é uma forma de confessar sua estupidez...

Mas para que serve uma desculpa a não ser para justificar a sua incompetência. Sim, então tudo que eu disse há poucas linhas era justamente para dizer a vocês que sou uma porcaria de escritor. Mas vocês já pararam para pensar no quão fabulosa são as desculpas políticas que ouvimos todos os dias. Vamos recordar, pois alguém já disse que isso é viver.

Lembram-se daqueles escândalos políticos de desvio de recursos na época do mensalão, lá no comecinho do supergoverno Lula? O que dizia nosso líder mundial na época... Ah, sim. Vejamos, o discurso era mais ou menos esse: “não sei de nada, não tenho conhecimento”. E o incrível é que o homem fez escola Brasil afora. O Sarney também não sabia que seus parentes estavam todos trabalhando para o Senado. Agora, sejamos justo, alguns deles se esforçam bastante para nos vender suas verdades. Criam explicações técnicas e até mesmo teorias da conspiração para justificar seus erros.

O que eu mais gosto ainda é aquela velha tática de culpar o governo anterior que não fez isso ou aquilo. Aliás, se você chegar a uma empresa e fizer uma merda (até o Lula já disse merda em um discurso, então não me critique!), você vai pra rua. Não entendo por que eles são seres tão intocáveis que nem a Justiça (que piada!) é capaz de puni-los quando nosso dinheiro fica sujo nas cuecas deles. E aí aparece um juiz com uma ótima desculpa e liberta um cara como o Arruda e vocês colocam de novo no poder caras como o Collor, Sarney... Qual é a desculpa pra fazer uma coisa dessas, prezados eleitores?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

História de amor

Julia disse a Cadu que ia ficar tudo bem pouco antes de se despedir para as férias de verão. “Eu te amo, gurizinho. Não precisa sentir saudades, eu volto logo”. Ele teria que trabalhar e não veria a noiva pelos próximos 20 dias e isso o deixara triste. Para não deixar a amada totalmente sozinha, conseguiu uma dispensa para viajar no último final de semana. Naquele dia, o sol tinha permanecido escondido toda a tarde e quando eles se despediram parecia ainda mais tímido.

À noite, quando chegou à praia a menina ligou para ele. Falou do cansaço e da expectativa para o banho de mar do dia seguinte, o primeiro depois de sete anos que não passava o veraneio no litoral. Cadu quase dormia no telefone, pois trabalhara o dia inteiro vendendo na loja. E o movimento no final do ano tornava a função mais difícil. Disse que estava com saudades e repetiu três vezes que amava Julia. A menina sentiu um aperto forte no peito naquele momento, sentindo-se culpada por deixar o amado sozinho por tanto tempo.

Os dias foram passando e falta um do outro aumentava ainda mais. Com o final de semana em que estariam juntos se aproximava, o rapaz preparava as malas enquanto falava com Julia ao telefone, que contava as idas ao shopping com as amigas e que ganhara um bronzeado naqueles dias. Cadu partiu na sexta-feira, à noite, pegando um ônibus na rodoviária. Estranhou o fato de poucos viajarem naquele horário, ainda mais no verão. Imaginou que o veículo estaria lotado. Mandou uma mensagem para Julia: “estou no ônibus amor, em algumas horas vou estar contigo”. Adormeceu na poltrona logo depois que o veículo partiu.

Julia recebera a mensagem enquanto estava no banho. Saiu enrolada em uma toalha rapidamente pois tinha certeza que era de Cadu e sua ansiedade aumentava só para ver as palavras do namorado. Estava ansiosa para vê-lo novamente e louca para enchê-lo de beijos. Tentou se distrair, escovou o cabelo e a janela aberta enviou um vento muito frio para o quarto. A sensação foi sombria, tão forte que ela deitou para assistir televisão, levemente sobressaltada. O noticiário mostrava um roubo que acontecera a um ônibus que se deslocava ao litoral. “O comerciário Carlos Eduardo foi baleado no peito porque resistiu ao assalto, ele carregava um porta-joias. Após o disparo, o bandido fugiu do local”, dizia o repórter na televisão.

Julia sentou e chorou, desesperada. Não teve reação com o choque. Seu namorado provavelmente estava morto. Depois de alguns minutos foi ao hospital indicado pela reportagem para ver o namorado. Incrivelmente, Cadu estava no corredor, falando com várias pessoas e concedendo entrevistas. “Ah, ela está ali. Foi por causa dessa menina que não morri”, disse ele, mostrando o colar com a foto da namorada em um pingente, agora perfurado pela bala. Ele mostrou o porta-joias, de onde tirou uma aliança para pedir a menina em noivado.

domingo, 4 de abril de 2010

Como morre um revolucionário

O mundo é responsável pela morte silenciosa de revolucionários todos os dias. Eles nem sempre integram grupos da alta sociedade nem mesmo estão investidos em cargos que lhes propicie a concretização de seus sonhos e ideais, mas insistem na sua ideologia de otimizar o espaço onde vivem. Não é a morte natural que o mundo provoca, mas do espírito de mobilização e entrega por um objetivo que muitas vezes se confunde com uma utopia. O dia-a-dia faz com que os revolucionários se entreguem e abaixem suas bandeiras e suas armas.


Os revolucionários vivem às sombras. São encontrados em grandes empresas e trabalham nos cubículos, entregando sua capacidade e garantindo lucros absurdos a seus patrões com seu trabalho. Outros estão na parede que fica ao lado da sala de um político influente ou nos campos de batalha mundo afora. E muitas vezes não são reconhecidos ou valorizados, são obrigados a encarar a rotina de pagar contas, ir para o trabalho e retornar para casa, apenas. Abandonam suas tropas e recuam para a sociedade capitalista, buscam uma qualificação para melhorar simplesmente o seu bolso.



E, depois, os jornais têm a incrível ignorância de criticar a falta de lideranças de uma cidade – quando a própria sociedade os oprime, os inibe e os ignora. Um bom revolucionário precisa de uma grande causa, algo que valha a pena lutar. Ele não pode esperar jamais apoio, compreensão ou um simples parabéns por suas batalhas. Jesus queria salvar o mundo, madre Teresa ajudava aos pobres, Mahatma Ghandi pregava a paz, Martin Luther King não aceitava a segregação racial e até mesmo Lula defendia os operários...



Além destes há uma série de personagens e personalidades que tiveram coragem para enfrentar batalhas épicas, lideraram multidões em busca de uma terra prometida ou simplesmente organizaram uma greve para ter melhores condições de trabalho. Hoje, há guerras pelo domínio do petróleo e os altos escalões da sociedade lideram iniciativas com uma propaganda de desenvolvimento de toda a sociedade, quando na verdade só abraçaram as ideias porque teriam uma fatia do bolo do pregado crescimento. E quando os revolucionários percebem estes episódios e encaram a vida de forma crítica, eles começam a morrer, vítimas do mundo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Confusão de ideias

Essa noite eu queria apenas passar pelo corredor da empresa e pegar um ônibus pra voltar pra casa, depois de contar quantas moedas sobraram no bolso depois que comprei aquela água mineral. Hoje eu realmente não queria me preocupar com o mundo e esquecer que ainda não consegui dinheiro suficiente para comprar o meu carro. E enquanto percorresse o caminho, iria pensar no sofrimento das outras pessoas e minimizar essa necessidade absolutamente supérflua que acabo de reclamar. E iria pensar também no quanto a vida de cada uma dessas pessoas poderia melhorar se a política fosse levada mais a sério por nossos governantes, ao invés de negociatas misteriosas que me deixam intrigado.


Essa noite eu queria muito sentir o abraço da minha namorada e contar para ela todas as coisas que eu fiz durante o dia e assistir qualquer filme ao lado dela. Também queria aprender qualquer coisa nesse filme e esquecer um pouco do trabalho que me faz pensar nos problemas da cidade e não pensar que domingo é Páscoa e as emissoras vão passar vários filmes sobre a história de Cristo, nosso salvador. Aliás, acho que Deus e seu filho jamais estiveram tão presentes nos meus textos como atualmente.



Quero chegar a minha casa e comer qualquer porcaria e tentar não brigar com minha mãe, porque embora eu a ame ela não entende que as críticas que faço são para o bem dela. Mas não sei se vou conseguir mudar esses pequenos defeitos. Será que essa noite vou conseguir não prever nada do que vou fazer em todo o final de semana? Ou será que simplesmente vou adormecer exausto, reclamando desse cansaço e assim irritar minha namorada, que mesmo assim não vai reclamar porque me ama de verdade?



Aliás, é incrível vir aqui e ver como esse amor tem transformado para melhor a minha vida e até mesmo a minha personalidade. Não abro mão de ser um cara turrão e cheio de ideais e ideias, assim como não consigo passar um dia sem falar pra ela “eu te amo, bebê”. Ah, ela acaba de ler essa frase, pois escrevi no MSN. E ela me retribuiu. É como se fosse um sorriso de volta quando a gente tenta conquistar alguém muito especial. Acho que é por isso que não consigo e nem quero deixar ela, porque ela não consegue e nem quer me deixar. E deve ser por causa dela que minha cabeça não se transforma em uma confusão ainda maior de ideias, porque o amor invade e me derruba, me deixa bêbado e eu começo a falar como um idiota apaixonado e só penso em abraçar e adormecer mais uma vez ao lado dela. Me espera, amor. Estou indo ficar contigo essa noite.