quinta-feira, 29 de julho de 2010

Garota urbana

Eu a vejo pegando o ônibus, entrando apressada com uns fones de ouvido que tocam uma música que jamais vou saber qual é. Os cabelos morenos e lisos estão amarrados em um rabo-de-cavalo e chama a atenção o colorido leve de suas mechas californianas. As roupas são típicas de uma garota urbana, moletom, calças soltas e um tênis de marca, branco. Nas costas, uma mochila apoiada apenas no ombro esquerdo. Não sei como pode esse estilo despertar assim minha atenção enquanto ela se desloca pelo ônibus praticamente vazio. Desejei que ela sentasse ao meu lado, para analisar suas faces mais minuciosamente. Obra do destino...

Ela escorrega entre um passageiro e outro e mira na minha direção. Seu olhar é despreocupado, ignora tudo, parece muito ocupada com algum compromisso ou completamente absorvida pela música que toca em seu player. Ao notar uma poltrona vazia ao meu lado, ela se aproxima. Seu rosto é arredondado, os olhos são amendoados e o cabelo desalinhado na frente, escorrendo pela testa, é encantador. A garota urbana pede licença para acomodar-se. Nos seus pulsos, consigo ver algumas fitinhas coloridas, uma delas em referência ao reggae, nas cores da bandeira jamaicana. Não há nenhum anel nos dedos, ela também não usa brincos.

Enquanto o veículo cambaleia pelo caminho, ela escora a mão para evitar os solavancos. As unhas são delicadas, curtinhas e delineadas por um esmalte rosa, de um tom quase incolor. Em uma das paradas no caminho, ela puxa a mochila para sua frente e, quando o ônibus arranca, acaba batendo com o objeto em meu ombro esquerdo. Deveria ser um sinal para que eu parasse de decifrar suas feições e atitudes, só que seu olhar meigo e educado, me perguntando se estava tudo bem e pedindo desculpas foi intrigante. Aquela garota urbana dominava meus pensamentos e faltavam poucas quadras para que eu chegasse ao meu destino. Talvez tivesse pouco tempo para falar alguma coisa interessante e, quem sabe, conseguir o número de seu telefone para vê-la novamente.

Respondi apenas "não foi nada", resposta de praxe. Ela voltou a sumir em seus pensamentos que agora eu percebia que eram nas músicas que ouvia. Outro detalhe chamou minha atenção. Seus lábios rosados moviam-se lentamente, dava para perceber que ela cantarolava algo, provavelmente acompanhava a canção que estava tocando. Em mais um movimento brusco do ônibus, a mochila que ela levava no colo acabou puxando os fones, arrancando-os de seus ouvidos. "Redemption song ficou linda na tua voz com a acústica dentro do ônibus", falei. Ela sorriu e agradeceu. Aquela demonstração de simpatia valeu o dia. A garota urbana desceu na parada seguinte e eu segui seus passos com o olhar enquanto o veículo arrancava. Vendo que eu a mirava, ela abanou e retornou para sua meditação com a música. Em outros dias, eu e a garota urbana conversamos dentro do ônibus. Ainda não dissemos nossos nomes um para o outro, falamos apenas de músicas. Nos deslocamos para nossos trabalhos usando os fones de ouvido dela e comentando sobre as canções e hoje eu parei para pensar no quanto simples e maravilhosa uma amizade pode se tornar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A verdade está à venda?

Quando amamos muito uma coisa, a princípio ela não tem defeitos. A gente até discorda de alguns procedimentos, mas faz de conta que eles são normais e que fazem parte do jogo. E vai aceitando, acaba não dando bola. Mas em alguns momentos essa paixão nos cega e nos faz sentirmos um verdadeiro imbecil quando percebemos que as verdades podem ser compradas por um bom preço. O problema é que você não tem condições de contestar ou joga sua vida fora por causa daquele velho ditado “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E aí você é obrigado a silenciar porque tem que pagar as contas de casa.

A verdade não deveria jamais ser colocada à venda e é triste demais quando começamos a ver como esse preceito é esquecido no dia-a-dia por uns trocados ou por outro interesse qualquer. O fato é que existe uma série de acontecimentos que acaba gerando a sensação de impunidade, principalmente se você for capaz de pagar um bom advogado. E hoje já não sei até que ponto é errado não vender minhas ideias. Mas sei que o meu compromisso com a verdade e com os fatos não está à venda. Então, acho que sobrou um pouco de moral...

Acho que vou acabar dando um fim trágico em breve na minha vida porque simplesmente não consigo me curvar aos poderosos porque acredito que quem faz isso está mostrando a bunda para a população. E nós temos tantos problemas para nos preocupar. Nós, povão... Enquanto eu escrevo esta besteira para desabafar pela falta de compromisso de alguns, tem gente esperando na fila do SUS para conseguir uma consulta com um médico antes de morrer. E quem deveria se preocupar com situações como esta aparece na mídia com uma desculpa esfarrapada e um discurso cansativo de tão ultrapassado e vazio. Porque aqui, no mundinho, o que interessa é fazer uma boa campanha, ter um bom discurso. Fazer alguma coisa é outro assunto, o que importa é ganhar a eleição e garantir uma renda legal pros companheiros do partido. E repartir a grana pública (o meu dinheiro, o seu dinheiro, o dinheiro do povo) com grandes empresários, desviando licitações e oferecendo bolsa miséria para o cidadão gastar com pinga.

A verdade em que acredito é que a única forma de mudar este quadro é investir em educação e informação. Ou mehor, não apenas a informação porque ela pode ser manipulada. A solução talvez seja investir na educação e no livre pensar e que cada um tire suas próprias conclusões e comece a se decepcionar com a vida como estou fazendo agora...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Se Restart fosse gaudério

A moda parece que é usar roupa colorida, cabelo avacalhado e acessórios femininos chamativos. Mas como seria o Restart em versão agauderiada? Abaixo, um teste. De um lado, a letra original e do lado a versão campeira. Qual será a melhor

E eu sei que assim talvez seja melhor/ Eu tô certo, não grita, china veia
Mas não espero ver você voltar/ Se precisar, te prendo o grito
E dizer que podemos recomeçar/ Pra gente se enroscar de novo

E as noites que em claro eu passei/ Porque a maldita insônia
Só pra entender ou enxergar onde eu errei/ Me dá saudade dos pampas
E de nada valeram depois do fim/ E do mate amargo no fim do dia

E hoje sei (eu sei)/ E agora, acabou-se tudo

E hoje sei, sei, sei/ E agora acabou-se tudo
Não importa mais/ Tô cagando pro lance, bagual
Porque não vai, vai, vai/ Foi-se a minha chinoca
Voltar atrás/ Tô largado e não tem igual
O que restou em mim/ Fiquei só com meu pingo

E não vou mudar e nem tentar entender/ E meu pala contra o frio

O que aconteceu ou vai acontecer/ Larguei dessas frescura
Nossa história teve um fim/ Acabou nosso chamego

E eu sei que assim talvez seja melhor/ E eu tô certo, não grita, china veia
Mas não espero ver você voltar/ Se precisar te prendo o grito
E dizer que podemos recomeçar/ Pra gente se enroscar de novo

E hoje estava pensando em você/ Me peguei contigo no pensamento
Em tudo que eu queria te dizer/ E queria te dar uns amassos
Mas não tive coragem de falar / Porque falta de coragem é coisa do Restart

Um ensaio sobre a despedida

Este não é um texto de despedida, mas sobre as despedidas de um modo geral – até porque espero incomodar por muito tempo com esses assuntos. Pessoalmente, não conheço nada mais dolorido do que dar adeus para um amigo, para um amor ou pessoas que se tornaram importantes ou essenciais na nossa vida. Hoje em dia não deveria ser tão difícil dar aquele abraço demorado com a existência de tantas redes sociais capazes de aproximar as pessoas. Se por um lado essas tecnologias nos tornam vizinhos de ídolos, nos transformando em fofoqueiros e papagaios de pirata, por outro seu poder para amenizar a saudade é muito limitado.

A verdade é que o Orkut, MSN, Twitter e o resto destas invencionices modernas não têm o poder de transmitir a sensação de um abraço, de um olhar e de um sorriso... E outro sintoma é que somos egoístas demais e queremos manter as pessoas queridas sempre ao nosso lado, não aceitando que elas vão embora por causa da faculdade, um trabalho ou simplesmente pela única certeza da vida. E o pior da despedida forçada pela morte é a aceitação e a continuidade. As sensações se misturam, a primeira delas é a descrença, porque você simplesmente não compreende e depois o desafio é acostumar-se. Fica um vazio, falta alguma coisa. Imagine a pessoa mais especial na sua vida neste momento. Agora faça um exercício e pense em nunca mais ver o rosto dela, nunca mais escutar a voz ou jamais sentir o abraço carinhoso daquela pessoa. É por isso que reafirmo: a despedida é o que existe de mais dolorido nesse mundo. Se desligar de alguém é triste e penoso, mas acaba se tornando necessário a alguma altura da vida. E você simplesmente precisa aceitar...

Acho que a única coisa importante de uma reflexão como essa é a percepção sobre a necessidade de valorizar o agora e aproveitar para mostrar o quanto você se importa com as pessoas que ainda estão presentes em sua vida. Porque mais cedo ou mais tarde vai acabar acontecendo uma despedida e você não vai estar pronto.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aprenda a conquistar o amor da sua vida

Eu sempre quis dar conselhos sobre o segredo da felicidade, embora nunca tenha curtido aquele estilo de texto de auto-ajuda, aquela mania americana de vender psicanálise em um texto. Mas se existe uma lição que posso dar é sobre como você pode conquistar o amor da sua vida de uma forma simples. Então, preste atenção no que segue, porque o amor pode ser um atalho para a felicidade...

O cupido do amor te flechou, mas você simplesmente não sabe o que fazer, não sabe chegar e demonstrar para aquela menina que passou o dia inteiro sonhando e preparando um discurso lindo. Você não sabe como explicar que está apaixonado, não sabe expressar o que significa para você a paixão ou o amor, mas entende perfeitamente a necessidade que tem de estar ao lado dela. O que muitos demoram a perceber é que existem alguns atalhos que podem facilitar que você chegue ao coração do seu amor.

Leia, devore romances, navegue por blogs, assista a noticiários, veja discussões políticas. Isso mesmo, assista a discursos chatos, leia a página policial do jornal, passeie por frases interessantes postadas no Twitter. Mas leia e perceba como o seu mundo pode mudar. Dê asas à sua imaginação, experimente um bom livro, descubra que tipo de história lhe agrada e dedique alguns minutos do seu tempo a ela.

Você vai aprender a falar, mas com o coração e não apenas despejar palavras pela boca. Vai aprender que ser romântico não se trata de simplesmente mandar flores e entender que na arte da conquista a informação e a versatilidade de assuntos podem ajudar muito. E se for esperto vai descobrir que ler revistinhas com piadas ou assistir a programas de humor são essenciais na insana tarefa de ter um amor correspondido.

Mas se você quiser mesmo conquistar o amor da sua vida vai precisar desenvolver o seu poder de interpretação. E como você pode fazer isso? Adivinha, vai! Lendo. A leitura é a melhor forma de você fazer isso. Leia o seu amor, leia as expressões. Preste atenção se seu amor sorri quando você faz um elogio ou se demonstra admiração com seus comentários. Leia os gestos, leia o abraço que seu amor te dá, leia a forma como o olhar do seu amor brilha quando você está por perto, mas leia.


domingo, 18 de julho de 2010

Amor, paixão, uísque e comparações

É fácil se apaixonar, muito fácil mesmo. Porque a paixão é sempre arrebatadora, direta, forte e consome nas primeiras doses, como goles de um bom uísque. A paixão é como assistir a um bom filme, você fica intrigado, instigado e abobado. Dá risada sem um motivo aparente por uma cena simples, se enche de esperança pelo capítulo seguinte, onde os mocinhos vão terminar juntos. E quando o filme acaba, fica com aquela sensação de que poderia ter durado mais. A paixão é verdadeiramente um amor.

Amar é muito complicado. É como uma novela porque se arrasta por um longo tempo, mas quando termina parece que não teve a mínima graça. E novela sempre acaba do mesmo jeito: casamento, gravidez e o bandido morto ou preso (desde que não seja um político, claro). O amor também acaba sempre igual: normalmente por uma bobagem que toma dimensões maiores do que se pode suportar. E simplesmente acaba como uma garrafa de uísque. Você bebe todo seu conteúdo, se ilude pela sensação que isso tudo te proporciona e termina bêbado escrevendo coisas que não têm nenhum sentido, como comparar a bebida ao amor.


Tudo na vida pode ser comparado, mas mesmo assim é difícil explicar a diferença entre a paixão e o amor. O segundo precisa do primeiro para nascer e também precisa que ela dure para que possa continuar. Também não existe paixão sem amor, seria o mesmo que imaginar beber uma garrafa de uísque e não se embebedar. A diferença não é a intensidade, mas o tempo. Você pode se apaixonar em apenas um dia e isso pode simplesmente passar, como uma chuva de verão que você esquece. O amor é como uma tempestade que deixa a calamidade espalhada por onde passa, porque você demora a conseguir reconstruir o seu mundo. O amor pode te destruir, assim como o uísque, se você decidir sair pela rua com o carro. E o amor também pode servir eternamente de inspiração, assim como uns goles de uísque para escrever um texto inútil em um dia chuvoso.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A estagiária

Esta semana apareceu no Jornal do Povo uma nova estagiária. Cabelos lisos, curiosa, normalmente sorrindo, pedindo ajuda... Deve ser complicado ser estagiário, eles começam tropeçando, mas ela não. Mesmo com o mau tempo (horrível mesmo, faz um frio terrível), ela encarou o desafio de produzir reportagens e começou emocionando Cachoeira escrevendo uma matéria sobre o manifesto do Imama. Poderia ser apenas mais uma reportagem sobre uma caminhada, mas não é que a estagiária em seu terceiro dia surpreende a todos e apresenta um texto leve, bem escrito e detalhado, que transborda emoção para quem lê.

Foi uma surpresa, mas não apenas por esse desdobramento. Inicialmente, o desfile de roupas elegantes, com botas da moda, lenços extravagantes, acessórios como anéis dourados e unhas no estilo francesinha, a impressão que deu, exibindo seu quiche (que diabos é isso?), era de que não passava de mais uma patricinha mimada.

Extrovertida, como toda mulher bonita, também surpreendeu por seu jeito delicado, educado e suas caretas indecifráveis, que mostrava enquanto tentava desvendar os mistérios de uma pauta qualquer. Não dá para entender por que essas meninas chiques subestimam a nossa inteligência. Acreditam que ela disse que a maioria dos homens não sabem o que é uma francesinha... Não sei com que tipo de homem ela está acostumada a conviver, mas nós notamos, sim.

De qualquer forma, a estagiária deu um novo colorido ao ambiente cinza que pairava nos últimos dias sobre a misteriosa e meticulosa redação do Jornal. E para a tristeza daqueles que se emocionaram com o texto sobre o câncer de mama, provavelmente a estagiária não deve continuar na área do jornalismo. Não posso deixar de lamentar, ainda mais porque ao contrário deste que escreve a estagiária possui toda uma base teórica para emplacar na profissão. Mas tomara que assuma tribunais e não tire bandidos ou traficantes da cadeia.

A estagiária está nos abandonando. E embora sua passagem meteórica, conseguiu deixar sua marca e pessoalmente posso dizer que vou sentir falta do seu sorriso e seu olhar de indagação e dúvida e do seu aguçado faro jornalístico, que ela nem sabia que tinha. Boa sorte, Flávia.

domingo, 11 de julho de 2010

Agora fica quieto e me beija

Rodrigo sabia que não seria nada fácil conquistar aquela menina. Nova na escola, os boatos davam conta de que era uma verdadeira patricinha. Nos primeiros dias de aula, essa impressão não foi se desfazendo, mas Paulinha não se importava nenhum pouco com o julgamento que os colegas de turma faziam dela. Mesmo despreocupada, seu estilo despojado misturado com um jeito de menina indefesa fizeram com que Cadu se interessasse em conhecer a verdadeira menina por trás daquele jeans desbotado.

Atento a cada pequeno movimento e escutando com atenção as palavras da jovem, ele notou uma garota inteligente e de personalidade marcante. Mas por que Paulinha teria olhos para ele, que provavelmente era apenas um playboy a mais na escola.

Ele ainda não tinha resposta para isso, mas o destino se encarregou de dar uma mãozinha quando a professora ordenou que fizessem um trabalho juntos. A tarefa era complicada, escolher um tema polêmico para defender para os colegas.

Marcaram um encontro à tarde, na biblioteca da escola, para discutir o assunto que iriam abordar.

Rodrigo queria defender a pena de morte, mas Paulinha achou que seria mais interessante colocar em discussão o aborto e sua proibição. Para piorar, eles divergiam em todos os temas que estavam sendo sugeridos. “Se eu soubesse que você seria tão teimosa, teria pedido para a professora para fazer o trabalho com um dos guris”, disse ele. “Quem está sendo intransigente é você, Rodrigo. Como você pode defender a pena de morte?”.

“O que tem de errado nisso?“, perguntou ele.

“Ora o que tem de errado. É frio, é típico de alguém que não tem um pingo de sentimento”, disparou a garota. Foi então que ele enxergou uma oportunidade para mostrar que sentia algo especial por Paulinha: “Se você soubesse o que sinto quando te vejo, não diria nada disso”.

No exato momento em confessou o que há tempos sentia, viu-se envergonhado e sentiu nas bochechas um calor tão grande quanto o de suas mãos, que estavam suando frias, fazendo com que ele percebesse que estava apaixonado.

Depois de ouvir aquelas palavras de forma tão inesperada e direta, Paulinha não pensou em nada, permitindo que o silêncio tomasse conta do momento. O garoto ficou visivelmente perturbado com a reação intrigante de Paulinha, não sabia o que fazer, seu olhar demonstrava sua aflição. Ela percebeu então que por trás daquele playboy que se vestia com roupas de marca e era conhecido por toda a escola, havia um garoto romântico e tímido. “Olha, Paulinha, me desculpa... Eu não queria...”. Paulinha não deixou que ele terminasse aquela frase e apenas disse “Agora fica quieto e me beija”.

Por Priscila Goulart e Vinícius Severo

terça-feira, 6 de julho de 2010

Frases de efeito e um pouco de amor

O meu cotidiano é cercado de mistério, de perguntas urgentes que precisam de respostas imediatas, de novidades que precisam ser desvendadas, de assuntos velhos que precisam de respostas inovadoras e de pessoas repetitivas e cansativas. Os meus dias sempre são recheados de frases de efeito, normalmente proferidas pela mente sagaz e inescrupulosa de um político. A arte da mentira, a tática da manipulação da verdade, a demagogia pura, a repulsa à crítica e a tentativa de censura prévia fazem parte do meu trabalho.

Sinto que infelizmente estou me tornando um produto do meio onde vivo. Porque estou cada vez mais amargo com relação à política por causa do noticiário que cubro e das pessoas que preciso entrevistar e conviver. Parece que na verdade não existe nada bom na política e em alguns momentos acabo desmerecendo até aquilo que realmente é feito em prol da sociedade. Assim, também construo as minhas próprias frases de efeito, adornadas com ironia e sarcasmo, com o deboche e o desdenho. E vou colecionando inimizades, dissabores, críticas e olhares tortos.

Só quando volto ao convívio dos meus amigos é que essa mesmice passa, mas o incrível é que passo a formular teorias para assuntos que não deveriam ser explicados, como o amor. Ah, sim, eu sempre amei falar de amor e nunca entendi por que a gente sofre tanto por amor. É incrível a ambiguidade que esse sentimento provoca, ela sempre me fez parar e pensar em frases de efeito ou lembrar de trechos de música que sejam capazes de expressar aquilo que não consigo sozinho. É intrigante como conseguimos chorar quando estamos apaixonados ou vislumbrar momentos perfeitos ao lado de quem sonhamos. E acho que toda a projeção que fazemos é que acaba tornando um simples beijo em um momento inesquecível, e talvez isso seja mesmo amar.

Já tive amor que durou apenas um dia, lembro dos olhares e da frase que falei antes do primeiro beijo. Lembro de onde e como tudo aconteceu e de como estava frio e de como nada importava naqueles momentos. Lembro de ficar abraçado e não pensar em explicações para o que acontecia, lembro de entregar meu carinho sem imaginar como seria o dia seguinte, sem cobrar nenhuma jura de amor ou telefonema no dia seguinte. Volto a perceber outro motivo que torna o amor tão importante, pois não há como aturar uma vida extremamente cansativa se não tivermos um pouco de amor pra contrabalancear.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sou do tempo do Guns

Eu sou do tempo que as gurias se rasgavam para ver as fotos dos caras do Backstreet Boys enquanto a gurizada ficava em casa com o som alto tocando Nirvana, Metallica e Guns N Roses. Ainda lembro de quando o Justin Timberlake era só mais um em um grupo de band boy, as bandas de mauricinhos que eram febre no início dos 90s. Acho que ele fazia parte do N Sync ou Five. Ah, naquela época, também surgiu o fenômeno das Spice Girls, que eram cinco garotas com um corpo bonito onde apenas uma ou duas cantava realmente bem. Neste período a Shakira começou a aparecer direto no programa do Gugu - sim eu já perdi tempo assistindo aquela porcaria, mas era só por causa da prova da banheira com umas gostosas catando sabonete.

O interessante é ver que a maioria daqueles artistas desapareceu com o tempo. Os que eram realmente bons, caso da Shakira, permanecem no cenário do mundo pop. Aliás, hoje vivemos o momento Beyoncé e Lady Gaga e ainda tenho que aturar o talento indiscutível (??) do Justin Bieber. A primeira dessa lista está há bastante tempo no cenário pop, já que era uma das integrantes do extingo grupo Destiny’s Child. Gaga apareceu e parece que está reinventando a música, bombando exatamente no momento em que o mundo pop ficou órfão de seu maior ídolo – o Michael Jackson, que faleceu há um ano e alguns dias. Acho que a Gaga vai precisar passar pela prova do tempo, mas por enquanto é incrível o fato de conseguir emplacar uma música em cima da outra.

Aqui pelo Brasil, eu vejo as gurias chorando vendo o pessoal de bandas como a Fresno e NX Zero, que abriram caminho para novidades como Restart e Fake Number. Essas últimas deram uma mexida e coloriram o visal, mas mantiveram um pouco da tendência das músicas exageradamente românticas e chorosas, que marcaram o grupo cult. Se é bom, avalie você mesmo, porque eu ainda continuo ouvindo as músicas do Guns N Roses, pelo menos as clássicas, entre outras bandas que foram pintando nos últimos anos. Eu me alimento das músicas que tenham alguma mensagem e não aquelas que só repetem a mesma inutilidade do Rebolation, Rebolation, Rebolation, tion, tion...

Ultimamente, parei de ouvir músicas. Até arrisco a dizer que estou desatualizado. Na verdade, sempre gostei de fuçar pela internet e descobrir bandas que prometiam algum sucesso, como aconteceu quando ouvi um single do Nickelback há alguns anos. A banda era desconhecida. Ali em 2008, se consagrou entre os ianques. Foi só aí que eu parei e conheci os clipes, e passei a gostar ainda mais do trabalho dos caras. Agora, vou escutar alguma coisa do Capital Inicial e lembrar do tempo em que eu cantava as músicas da Legião Urbana. Aliás, o Renato Russo é um fenômeno. Hoje eu vejo uma gurizada que nem viu ele vivo e anda por aí cantando “Faroeste caboclo”.