sábado, 7 de agosto de 2010

Ainda choro de saudades

Antes mesmo de começar a escrever isso, pai, eu já sabia que ia chorar. Este vai ser o terceiro ano em que eu passo o Dia dos Pais longe de ti, levando a tua presença no meu coração e tudo que me ensinou como lição de vida. Até pouco tempo atrás, eu achava que o amadurecimento iria me fazer não sentir tanta emoção pela saudade das tuas críticas a minha irresponsabilidade e preguiça no dia-a-dia. Bem, velho, já é quase meia-noite e eu ainda estou trabalhando. Talvez isso tenha alguma coisa a ver com a tua maluquice de correr por esse estado afora vendendo computadores e não descansar enquanto não garantisse a grana pra comprar aqueles refrigerantes e porcarias que eu te pedia.

Acho que eu não seria tão gordo se não fosse esse teu esforço trabalhando pra que eu tivesse tudo do bom e do melhor. Desculpa de verdade se eu nunca reconheci isso enquanto tu estavas por aqui, mas eu juro que fiz o que pude naqueles últimos anos... Velho, tu sabes que não gosto de lembrar daqueles dias, e sim dos verões que passávamos no Irapuá, tomando cerveja na beira do rio e pescando nos açudes do Freitag. Ou então, aproveitando as minhas férias escolares pra trabalhar contigo e viajar até São Gabriel para vender notebooks para aqueles advogados que eram teus clientes desde os tempos da máquina de escrever.

Mas domingo está chegando, cara... E eu vou ver todo mundo dando um presente pro seu pai e sei, eu sei, que vou me sentir mal e vou chorar de novo, como agora, em que meus olhos se enchem de lágrimas na frente do computador do trabalho. Foi mal, pai, sei o quanto eu deveria ser mais forte para isso, mas sou um chorão que nem tu. Não pensa que esqueci de quando o senhor chorava assistindo filmes. E nossa, lembra dos finais de semana... Tu eras a alegria da locadora, levava mais de 10 filmes e, não sei como, conseguia arrumar tempo para assistir a todos. E no meio de tudo isso, calculava as coisas do trabalho e cozinhava naquele fogão a lenha lá de casa. Lembro que tu acordavas cedo pra fazer o fogo e o teu filho vagabundo de vez em quando até se prestava a buscar uns gravetos.

Jamais pensei que eu fosse ter todo esse saudosismo, velho, mas é muito bom lembrar desses dias, me faz bem e evita crises de choro compulsivas como aquela da semana passada quando tive que sumir daquele evento. Pensei que estava enlouquecendo, mas era apenas saudade. A saudade que me obrigou a escrever isso e chorar um pouco pra dizer que continuo por aqui seguindo teus ensinamentos. Vou viver, pai, vou me dedicar pra poder chegar ao dia fatídico e dizer o mesmo que ouvi de ti, antes da tua partida. Quero dizer que vivi e que aproveitei e que fui feliz, e danem-se as lágrimas que eu tiver que derrubar de vez em quando. Te amo, velho... P.S. coroa, só escrevi aqui pra todo mundo saber o quanto tu foi, é e sempre vai ser importante na minha vida. Feliz Dia dos Pais, adiantado, como sempre!!!

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