Tenho mais facilidade de me relacionar com gente simples, pessoas que sabem manter uma conversa inteligente sem apelar para frescuras triviais como a festa do sábado passado ou as compras no shopping. Mas não apenas isso, gosto de educação e simpatia, e também de um pouco de mistério. Gosto de papo de bar, de falar de futebol e de política, gosto que as pessoas concordem comigo, mas que também me questionem e por isso gosto de ouvi-las. Um corpo bonito é só uma imagem, alguém para compartilhar problemas, alegrias e aventuras, pra você contar uma história legal ou ouvir, isso é raro encontrar.
Hoje em dia as pessoas andam sempre com pressa, correndo atrás de suas obrigações para ganharem grana e comprar as coisas que possam trazer felicidade. Só que elas nunca abrem os olhos para enxergar que essa misteriosa felicidade está muitas vezes escondida em coisas simples da vida.
Todos os dias, quando vou até a parada de ônibus para ir ao trabalho, passo por um cara, que deve ter os seus trinta e poucos anos. É um cara humilde, acho que trabalha em uma oficina perto da minha casa. Eu não sei o nome dele, nem ele o meu. Mesmo assim, coisas de cidade pequena talvez, nós nos cumprimentamos sempre que nos vemos.
Eu sinto falta de coisas assim no dia-a-dia e me sinto incomodado quando preciso estar na companhia de pessoas com as quais não gostaria de manter o que chamo de amizade. Aposto que no seu cotidiano, há muita gente que você precisa tolerar. Um professor da escola, um colega xarope ou até um tio chato que fica sacaneando por qualquer coisa. Eu tenho que conviver normalmente com gente dissimulada e que sempre quer tirar alguma vantagem. Gente que quer aparecer e faz de tudo por isso, ou quase tudo. Por causa disso, aprendi que a vaidade dá lucro, mas mesmo no meio dessa laia, eu continuo o mesmo cara simples, que conversa uns minutos com o entregador de pizza, que gosta de falar e interrogar o menino que pede moedas na rua, talvez por mania de jornalista ou simplesmente um traço da minha personalidade.
Eu não me importo de elogiar um amigo ou puxar, do nada, papo com um desconhecido. Mas nem sempre as pessoas se acostumam com isso, elas estão perdidas na indiferença do resto do mundo, que parou de se enxergar nas ruas para se ver através do Twitter. É incrível, mas a globalização nos faz perder um tempo precioso e nos dá prazeres novos que antes não tínhamos, como essas inúmeras redes sociais. Lá, nós temos vários amigos desconhecidos... Assim como o tio que vou ver amanhã, pouco depois do meio-dia e para quem vou dizer: “opa, tudo bom”. E depois volto à rotina de convivência, de competição do mundo moderno (ou seria atrasado) e de exigência quase que integral do nosso tempo para que possamos sustentar nossos chefes e um governo que nos retorna pouco menos da metade de tudo que investimos, através dos nossos impostos. Pois é, a vida é bela.
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