“Antigamente, as coisas eram feitas com mais paixão”. Foi isso que disse um velho senhor que conheci no ônibus a caminho da redação do jornal na tarde desta quarta-feira. Faltava pouco para iniciar a partida amistosa entre Inter e Milan e sentei-me ao lado daquele senhor, que vestia uma camiseta clássica do colorado. E também não havia nenhuma gata sentada sozinha no ônibus, ou talvez a conversa nem tivesse acontecido.
Natural que acabássemos falando de futebol. E daí para a paixão pelo esporte e pela falta de paixão dos jogadores, foi um passo. Passamos pela Copa América e ficamos sem explicação sobre a incapacidade do futebol brasileiro ser lucrativo. Aliás, alguém no país deve lucrar com o esporte bretão, mas duvido que sejam os clubes, que estão sempre reclamando dívidas. O velho me disse que noutros tempos os jogadores suavam a camisa, permaneciam em campo como guerreiros. “Não foi o futebol da Europa que cresceu, foi o salto dos jogadores brasileiros”, profetizou meu companheiro de viagem.
E o que entristece é que não é só nesse ponto que o velho tinha razão. Ele falou da inversão de valores e da predominância do dinheiro sobre tudo. E realmente, não há como fugir disso. Todos buscam uma estabilidade financeira, jogadores de futebol, atores, empresários. E a maioria, disse o experiente viajante do meu lado, usa outras pessoas de escada para chegar ao topo. Não sei que mágoa aquele homem guardava no coração, mas confesso que fui concordando com algumas coisas.
E tudo isso acaba com a esperança, acaba com a paixão que a gente tem pela própria vida, ou pela possibilidade de dar uma guinada nela porque o preço a pagar é alto. Não quero virar um mercenário e se for pra encher os bolsos de dinheiro, não quero que seja algo que não mude a vida das pessoas. Ainda mais quando você abre os olhos e vê que os heróis que vão a campo não estão colocando a chuteira como se brigassem pelo almoço do dia seguinte – como nós fazemos todos os dias contra a carga de impostos deste miserável país onde o custo de vida é altíssimo, se você não andar na linha.
A linha que alguns políticos corruptos estabelecem e que seus asseclas seguem, é uma cartilha que prevê o que eles devem fazer para garantir seus lucros. E como as pessoas podem sonhar com o sucesso profissional? Confesso que não consigo enxergar isso, de tanto ver a dedicação perder espaço para a incompetência – por mais incrível que isso pareça...
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