segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rejeitado pela covardia

Todos os dias, ela passava na frente do trabalho de Alex. Sempre sorridente e perfumada, deixava no ar uma mensagem que parecia indecifrável, um cheiro de paz misturado com desejo. Aquela semana começou chuvosa e ela desceu correndo do ônibus sem guarda-chuvas. Era uma senha, uma oportunidade, talvez jamais ele tivesse uma desculpa tão esfarrapada para puxar assunto e emprestar ajuda. Fraquejou, e Paula passou correndo por Alex, molhada e assustada. “Oi, querido, me deixa correr, essa água está gelada”. Nem resposta ele soube dar, nem mesmo um "ok".


Inseguro desde os tempos de escola. Nem agora aos vinte e poucos anos perdeu sua timidez, era como ter sempre a sua frente uma muralha invisível que não permitia que arriscasse. E assim, Paula escapava todos os dias de seu abraço. Um abraço ensaiado quase todos os dias, planejado, pensado, porém nunca executado. Havia dias em que conseguia sentar ao lado dela no ônibus, mas jamais passava de uma conversa formal, sobre trabalho, sobre o tempo. E a única piada que ele fazia era referente ao dia em que ela havia se molhado. Paula sorria, dava pistas, pequenas e discretas. O rapaz não as notava.


Quando voltava para casa, Alex pensava nas roupas de Paula, nas suas calças apertadas, delineando as pernas torneadas. Notava os cabelos longos e levemente dourados, que caíam sobre os ombros. Achava encantadora ainda a forma como ela combinava os sapatos de salto com as bolsas, assim como os brincos com as pulseiras. As mãos eram delicadas sempre com as unhas pintadas com cores suaves e os dedos enfeitados com anéis prateados. A maquiagem também suave e com pequenos traços desenhando o entorno de seus olhos.


Numa semana, Paula não passou por Alex. Ele até fugiu do trabalho na hora do lanche da tarde para passar pela loja de perfumes onde ela trabalhava. Descobriu que a garota havia adoecido. Preocupou-se, mas não pediu o telefone dela. Na internet, achou o perfil da garota em uma rede social, mas nem assim puxava assunto. Um mês se passou e nem mesmo nas festas, em que ele passava escorado no bar com sua cerveja e alguns amigos, ela estava mais.


Na outra segunda-feira, Alex decidiu tomar uma atitude e convidar a garota para sair à noite para jantar. Mas quando a viu tomando o coletivo de volta para casa, teve medo que a ideia parecesse antiquada e desistiu. Pensou que seria melhor um convite para a boate no final de semana, um show de rock e umas bebidas talvez fossem a combinação perfeita para que ele tivesse coragem. E na quarta-feira, depois de meses de adoração quieta, ele a convida: “oi, eu queria... Você gostaria de ir para a festa do final de semana, vai ter um show legal...”.


“Ai, desculpa, Alex... Se você tivesse me falado há alguns dias, não teria problema nenhum de aceitar. Mas estou saindo com um cara”. E o rapaz ficou ali, parado, pensando. Será que era melhor seguir agindo assim ou simplesmente falar, se jogar e correr para o abraço, literalmente? A decisão ele aprenderia ainda antes de a garota romper com o tal cara. Foi no ombro dele que a menina chorou no dia após o fim da relação de cinco meses. Mas para ele, já não fazia sentido esperar por ela. Agora, se dava muito melhor arriscando do que aguardando que as coisas caíssem do céu.

Um comentário:

paulo garske disse...

Parabéns pelos textos! Abraço