terça-feira, 29 de maio de 2012

Esconder sentimentos não te faz fortaleza


Talvez nem precise que eu escreva mais nada além desse título. Ele é a tradução do que eu penso em relação a sentir e a ser verdadeiro. Mascarar o que você sente, suas dores, suas desilusões, seus amores, não vai fazer você parecer forte. No máximo vai fazer as pessoas terem uma ideia errada de quem você é, para depois se surpreenderem (ou nem tanto) percebendo que você é de carne e osso, lágrimas e raivas. Acho que todos que tentam demonstrar isso no fundo estão forçando uma mentira a seu próprio respeito.

Não entendo essa necessidade que as pessoas possuem de esconder o que sentem, ou de tentar parecer um robô, uma máquina calculista e que jamais erra. É a cultura do “não parecer fraco” porque a sociedade vai fazer a seleção natural e só vão sobreviver os fortes. Pro diabo com isso. Acho surpreendente que todo mundo, hoje em dia, é bem resolvido, não derrama lágrimas, não tem dúvidas, não quer demonstrar que gosta de alguém e nem se sente pra baixo se toca uma música triste. Um homem confessar isso é como se assinasse um atestado de veado. Mulheres até podem se apaixonar, mas não demonstrar. Pro inferno com suas regras globalizadas de convenções formais. Eu não quero me enquadrar em nada disso. Quero ser simples, quero existir e não fazer parte do grupo das aparências.

Ora esconder sentimento! Se você ama, fala! Se está sofrendo, compartilhe. Se errou, confessa... Quer consertar as coisas? Enviar um torpedo custa centavos, pegar um táxi, poucos reais e caminhar alguns minutos só gasta a sola do sapato. Ficar com ar de superior não adianta nada. Eu amo, eu sinto, eu erro, eu choro, eu passo a noite acordado sem conseguir dormir, eu sou humano e sinto dor. Por favor, parem com essa conversa ridícula de dizer que vocês não sentem saudades, que nunca vão ficar mal por ninguém ou que o passado não importa. Só por falarem disso já estão mostrando que não superaram e nem é preciso ser esperto pra sacar isso. 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Coragem é não desistir


Ela riu e eu deveria saber que era uma senha. Deveria saber que era uma oportunidade. Precisava pensar rápido: continuar encaixando frases engraçadas ou partir para um papo mais sério. E não conseguia tirar o olhar de sua boca, os lábios delineados por um batom rosa claro e é claro que eu ia me perder. Ela mexe no cabelo, massageia atrás da nuca e pergunta qualquer se acho mais legal preso como estava antes. “Não, assim está lindo. Antes também estava, mas fica mais sensual”, respondi.

“Obrigada”. Só isso. Mais nenhuma palavra. E parecia que todo o encanto havia morrido. Será que ela não está gostando de mim? Talvez, eu pudesse ter dito algo melhor. Ou devesse continuar encaixando mais elogios até amolecer seu coração. “Gostei muito de conversar com você...”, ela disse. O tom era de despedida. Ficou mexendo na ponta do casaco, e em seguida em um lenço que aquecia o pescoço que eu queria beijar. Parecia esperar uma atitude.

“Posso te beijar”, pensei. Mas não rolou coragem. Eu deveria lamentar o resto da vida por aquela noite, aquela falta de atitude. Na manhã seguinte, acordei e mandei uma mensagem “Posso te ver de novo?”. Mandei um abraço. Ela respondeu somente à tarde, pediu desculpas e perguntou se poderia ser outro dia. Telefonei, mas ela não atendeu. Fui até a sua casa. Ela abriu a porta. “Desculpa, isso não pode esperar mais nenhum dia”. E nos beijamos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A minha versão sobre a inversão


Estou viciado. Sim, eu assumo e me envergonho porque não consigo mais largar a droga. A droga do Facebook. Já tentei tratamento, mas o máximo que consigo é ignorá-lo completamente por no máximo três dias. E preciso me viciar em algo ou apelar para os livros, que sempre cumprem sua missão. Esta é só a minha versão sobre a completa inversão de valores pela qual muitos de nós podemos estar passando. Pode ser uma versão, ou melhor, visão distorcida da realidade já que sou parte interessada no assunto. (Aliás, vocês já notaram que todos, quando são parte interessada em algo, fazem de tudo para convencer vocês que aquele caminho que escolheram, por mais absurdo que seja, é o único que existe no mundo?) 
Enfim, chega de justificativas. Se eu quiser que vocês leiam isso até o final preciso ser objetivo. Vamos começar por partes, mas sem a piada do Jack Estripador.
O que parece, frise-se parece, é que passou a ser necessário na vida de alguns que muitos cliquem no “curtir”. Não é a primeira vez que vejo isso, mas estamos virando massa de manobra de nós mesmos. Chega a ser mais importante ser curtido por uma foto tirada na festa do que ter curtido tirar a foto na festa. Não sei se vocês vão me entender. Aliás, eu posso estar querendo somente um curtir com esse texto aqui, mas no fundo não. A ideia é formar opinião, provocar a discussão, que é uma prática enriquecedora, na minha humilde opinião, ou não tão humilde assim. Mas pensem: se fosse só por um curtir eu poderia simplesmente colocar uma foto com uma mensagem engraçada. Só acho que esse nosso vício pode ser educativo e esses argumentos descabidos possam, sei lá, ser úteis. Acho que estamos sofrendo de uma síndrome de pavão, sabe. É aquele bicho que adora aparecer.
Mas a minha versão sobre a inversão de valores vai mais além, porque também sou viciado no Twitter, é... Eu fui percebendo que isso tudo só serve pra nos alienar e me envergonho de enxergar isso só agora que estou já com 27 anos. Lamentavelmente, mas pelo menos estou retirando os tubos. Talvez tudo isso pareça insano no fundo, e não me tratem como um maluco que prega a internet como o demônio, não. Longe disso. Até porque foi por ver um dos assuntos mais comentados do dia no microblog que me surgiu a ideia pra tudo isso aqui que estou escrevendo. Bem, como vamos começar a nos preocupar com questões importantes acerca do desenvolvimento de nosso bairro, cidade, estado, país se o tema mais repercutido na internet continua sendo a novela das oito?
Eu sei que muita gente me detesta porque sou um imbecil com mania de ter opinião sobre todo tipo de assunto. Principalmente aqueles que eu não entendo. Juro que não é para sacanear ninguém, e juro também que estou tentando diminuir drasticamente isso. Eu só tenho uma vontade verdadeira de ajudar as pessoas a formarem opinião, é por isso que dou palestras falando sobre a importância da leitura, é por isso que escrevi um livro onde o último objetivo era ficar rico ou famoso e é por isso que escrevi isso. Eu já usei até a teoria da pegação para incentivar o pessoal a ler, e funcionou e sinto um puta, digo, baita orgulho disso. Pois é. Se você leu isso até aqui, muito obrigado, acredito que não tenha perdido seu tempo. 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Quando me tornei um escritor famoso


Havia devorado um livro do LF Verissimo pouco antes de pegar no sono. O dia inteiro tinha sido cansativo, daqueles que é proibido desconcentrar para não perder o pique. Só teve uma saída para buscar um lanche e foi quando achei graça da minha estupidez. No mercado, vi uma menina sorrir ao me notar chegando próximo do caixa. Ignorei, não havia por que ficar encarando. O tempo passa por qualquer problema na análise do preço das compras dela e eu fico assistindo àquela cena e de repente ela me dá oi e fala meu nome. O problema era não lembrar nem ter qualquer noção de quem poderia ser a garota. Mas isso tudo foi bem antes de pegar no sono e não tem tanta relevância assim.

De repente percebi que nasci em um mundo onde precisava indicar minhas opiniões, assumir um lado, escolher uma cor e determinar meu padrão de comportamento. Um caminho é o certo, o outro o errado, me disseram. “No primeiro, com muito esforço tudo pode dar certo, mas sempre existe a possibilidade de sair tudo errado. No segundo, tudo está inclinado a dar errado, mas com sorte pode dar certo”. E foi aí que fiquei me perguntando quem afinal determina o que é certo ou errado. Se não há provas reais da existência do Deus que prega o marketing da Igreja, é possível que o certo tenha sido criado por alguém errado. Isso pressupondo que esse Deus seja perfeito e que Ele, sim, poderia dizer o que é certo e quem está errado.

Aí Jesus apareceu na minha frente, disfarçado é claro. Mas eu notei que era Jesus. Como bom jornalista que sou, seria impossível não ver que Jesus estava ali, de pé à minha frente, mandando que eu continuasse escrevendo. “Você escreve o que é certo e você escreve o que é errado, depois lê e escolhe. Isso é a vida, Deus não vai te condenar por nada”. Aí perguntei sobre as leis que preciso cumprir e disse achar exagerado tudo o que a Igreja prega. Jesus só deu um risinho e disse para eu parar de pensar na menina que havia visto no mercado e me concentrar em escrever.

E do nada, ele sumiu e me vi em uma sala repleta de livros. Havia uma fila imensa esperando para entrar onde eu estava. Com livros nas mãos. Era o lançamento de mais um livro, e isso havia ficado tão corriqueiro que nem dava mais importância quando me diziam o quanto as minhas histórias haviam mudado suas vidas. Só assinava o autógrafo e dizia o “obrigado”. Nem mais explicava como havia sido pensar os personagens, estudar os cenários e estabelecer os vínculos e caminhos da história. Eu fiquei preocupado mesmo só em receber o dinheiro.

Agora, acordei e escrevi tudo isso. Acabei de ler. E fiquei com medo de escolher o caminho errado.