Minha adolescência foi recheada de maus exemplos, por isso eu acho
estranho que eu tenha tentado nos últimos anos dar bons conselhos para as
pessoas que conheci. Parece contraditório e talvez seja mesmo. É que pouco a
pouco você vai percebendo que seus erros ensinam quase tanto quanto um bom
livro. Experiência acumulada e a rotina desgraçada. Sim, eu passei alguns anos
de minha juventude me dedicando a uma experiência que me fez crescer
pessoalmente. Mas pouco a pouco nós descobrimos que Papai Noel não existe, que
as verdades que nos venderam tinham prazo de validade e que a vida é uma
brincadeira louca principalmente no dia que você acorda do lado errado da cama.
Eu não sei vocês, mas muitas vezes me fiz a pergunta “por que afinal
estamos aqui?”. Ou seja, existe algum propósito nessa loucura chamada vida?
Viver, amar, trabalhar, acumular conhecimento, riquezas, colecionar amigos,
ajudar a quem puder. Para alguns, provavelmente os fatores estejam em ordem de
importância, como o lead perfeito que nunca escrevi. É, há vários propósitos.
Eu amava a minha vida até ver que ela começou a me trair. Pouco a pouco você começa
a desconfiar que as coisas simplesmente não se encaixam no quebra cabeças. E começa
a questionar sobre valores e sobre a Coca Cola e todo o modelo capitalista que
ela ilustra. E, nossa, eu adoro Coca Cola.
Nós não deveríamos ser obrigados a trabalhar para sustentar a máquina
dos impostos nem a ganância de nossos patrões. Foi pouco a pouco que descobri
que preciso trabalhar é para me sentir bem, em paz, ocupado e que dinheiro não
é tudo, mas um bem necessário. Foi envelhecendo que eu percebi que são os
malucos que curtem maconha que realmente estão protestando por aí. E eles não
querem só a liberdade de fumar o seu cigarrinho, muito pelo contrário. Se você
for inteligente, vai ver que não estou defendendo lado nenhum nesse lance de
descriminalizar a maconha, mas eu acho importante que a gente tenha argumentos
contra e a favor disso. Pouco a pouco, você percebe que suas opiniões precisam
ser sustentadas, e que quando diz que o trabalho sustenta você, não é apenas
financeiramente.
Tenho dito, aliás diversas vezes, que gostaria de ter uma vida adulta
breve. Morrer cedo. Não quero ficar velho, pelo menos não no modelo tradicional
ou no estereótipo que a maioria conhece. Acho que era o Nelson Rodrigues que criticava
as maiorias, e provavelmente ele estivesse certo. Eu gostaria de me tornar um
velho sábio. Porque hoje, não passo de um jovem estúpido que escreve para
entender o que sente. Mas morrer cedo é de um egoísmo que nem escrever me ajuda
a entender nada disso. Pouco a pouco percebi que a maior loucura da vida é
perceber como existem pessoas que realmente se importam com a gente e que
desejam nossa prosperidade. Acho que haviam me prendido e eu não conseguia
enxergar além das grades, e todos pareciam lá na prisão preocupados com seus
umbigos somente. E eu era egoísta e agora, pouco a pouco, vou tentando mudar
isso.
Eu quero ter de novo o olhar de quando era criança, da inocência curiosa que conseguia sorrir com qualquer coisa. Mas pouco a pouco fui envelhecendo e... Opa, eu nunca deixei de sorrir. Porque eu sei que o cara que tirou essa foto ainda está aqui, me ajudando e avaliando meus passos. E a saudade dele não pode ser combatida, e nem preciso que o sol se ponha mais cedo pra mim, porque sei que ele vai me esperar pra gente tomar um trago junto de Deus.

Um comentário:
Cada vez que leio percebo e tenho a certeza que escrevemos para nos entendermos, para matar a saudade do que passou. Achamos que nossos textos são tão nossos, grande ilusão. Teu último parágrafo descreve parte do que vivi e vivo. Textos de revoltas,de desabafos. Histórias que atravessam gerações, tenho certeza que essas não vão envelhecer nunca. Esse ganhou o meu favorito e te juro que não foi só pelo último paragrafo. Sucesso.
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