Não, este artigo não é sobre a virgindade. Talvez possa ser. A perda da inocência não deixa de ser, de alguma forma figurativa, a perda da castidade, só que moral. Vivo, respiro e acompanho política há exatos sete anos. Ainda lembro o dia que meu antigo editor, o diretor do Jornal do Povo Liberato Dios, decidiu me colocar na cobertura da Câmara Municipal de Vereadores. “Tu vais assumir a Câmara. Eu quero isso”, disse ele. E eu perdi a minha inocência, aos poucos. Lembro de discutir de dedo em riste com vereador, de uma tentativa de humilhação de uma parlamentar, que disse que eu precisava “trabalhar de dia para me alimentar à noite” – o que é verdade, diga-se de passagem (isso quando dá tempo de se alimentar com a correria do trabalho).
Eu tenho um perfil provocador quando o assunto é política. Beira o desaforo algumas vezes a forma como provoco os entrevistados sobre as negociatas políticas. Porque eu sei como elas são feitas. Eu sei que atalhos tomar para obter informação, a experiência nos dá essa possibilidade. Minha maior frustração é nunca ter conseguido provar nada do que normalmente se ouve em torno, por exemplo, dos bastidores de uma eleição para a Câmara de Vereadores. Nesta sexta-feira, me relataram que mais uma vez a negociata por cargos estava rolando à solta para cooptar um voto na eleição da próxima terça. Normal.
Haveria, até mesmo, uma cifra sendo negociada por apenas um voto. O valor que especularam seria de R$ 10 mil. Penso, que se isso for realmente verdade como me contam fontes fiéis de cinco anos, nós temos corruptos mais baratos que os de Brasília. Repito, frustra-me o fato de jamais conseguir provar algo assim. Desde que entrei para a política, sei que não há inocentes nesse mundo, muito menos entre empresários, comerciantes, jornalistas, enfim... Enquanto escrevemos uma reportagem, temos a obrigação ética de descrever os discursos oficiais dos engravatados do poder. Eu faço isso, procuro sempre pincelar as frases exatamente. Não quero deixar nenhum motivo para me condenarem no dia seguinte.
No exercício diário da profissão, a gente erra e precisa ter a humildade de reconhecer quando se equivoca. E eu sei bem a dificuldade que tenho em ser humilde, embora a todo final de mês esteja contando as moedas para saldar as dívidas. Enfim, buscar a verdade dos fatos é cansativo e hoje ainda há jornalistas como Vincent Glass, um americano que inventava reportagens em uma famosa revista política daquele país. A fraude foi descoberta pela Forbes, virou filme – “O preço de uma verdade”. E já que falei o termo verdade, permitam-me um desabafo: não há nada mais frustrante quando você confia em uma fonte e a flagra na mentira. Fica difícil crer novamente. Mas ninguém é inocente. Somos todos culpados, principalmente quando nos omitimos. Não vou provar nada do que especulei, eu sei, talvez seja irresponsabilidade. No entanto, não podia deixar esse sentimento passar batido.
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