O advogado andava apressado pela Rua 7 de Setembro, havia descido do carro rapidamente e deixado a carteira sobre o teto do veículo. Um moleque, de pés descalços vendendo lanche no Centro, o parou e avisou sobre a carteira, entregando. Depois de contar se não faltava nada, o homem agradeceu e ia saindo. Foi quando o pequeno garoto se colocou à sua frente.“Moço, quer comprar uma rapadura?”.“Não, garoto, eu detesto rapadura”.O menino não desistiu. Há três dias ele circulava pelo Centro vendendo as rapaduras, de leite e de amendoim. Já era sexta-feira, e ele ainda não havia conseguido juntar os 70 pilas que precisava para comprar um ventilador para sua avó, que padecia com o calor dos últimos dias. Talvez seja por isso que ele insistiu, deixando nervoso o advogado.“Olha, moleque. Você quer dinheiro por ter achado a carteira? Toma aqui”, disse tirando algumas moedas do bolso.“Não, moço. Não pedi recompensa. É estranho o que o senhor disse sobre as rapaduras. Por acaso o senhor já provou uma rapadura na sua vida? Porque eu garanto, essa aqui é a melhor rapadura do mundo. Foi minha mãe quem fez, hoje logo depois do meio dia. Eu adoro, mas só pude comer uma porque estou vendendo para conseguir um dinheiro, sabe?!”.O advogado não sabia por que, mas continuava ouvindo a história do garoto. Em seu íntimo, notou também que realmente jamais havia provado uma rapadura na vida.“Eu nunca experimentei rapadura, mas não gosto muito de doces, garoto. Quanto que custa essa aí de amendoim?”, quis saber. Na verdade ele queria se livrar do garoto e partir para o compromisso, que nem lembrava mais qual era. “É baratinha, moço. Só um real. Mas se o senhor comprar três, eu consigo bater a meta que tenho”. Foi então que o rapazinho surpreendeu aquele advogado. Como assim meta. Um garoto que não tinha nem seus 12 anos falando em meta, em alcançar uma meta. Decidiu questionar o garoto e soube da enfermidade da avó do menino, que padecia em cima de uma cama e criava feridas pelo corpo devido ao calor e à dificuldade que o menino, sem muita força, tinha para movimentá-la no leito.“Então toma aqui, são 10 reais, me dá essas cinco que tu ainda tens aí e fica com o resto do dinheiro”, falou o homem, agora com a certeza que o menino se despediria contente. A surpresa então foi maior.“Não posso aceitar, tio. Cada rapadura é um real, eu lhe dou esses cinco aqui de troco, olha. E muito obrigado. Mas, por favor, experimente a rapadura. Eu lhe garanto, o senhor vai gostar”.
Com lágrimas nos olhos, surpreso pela honestidade e pelo gesto do pequeno vendedor o homem aceitou e experimentou a rapadura na sua frente. Então, eles sentaram na calçada e continuaram o papo.“Garoto, por que você insistiu que eu experimentasse a rapadura”, disse, oferecendo para o menino um dos doces também. O garoto sorriu, experimentou. Olhou fixamente para o horizonte e respondeu.“É que eu aprendi que as pessoas costumam falar as coisas sem experimentar, ou criticar aquilo que não conhecem. E também insisti porque eu sabia que o senhor ia gostar da rapadura”. Gargalharam juntos. Depois, o advogado foi com o menino até uma dessas lojas do Centro. Não deixaram o garoto entrar por causa de seus trajes. O homem pegou o dinheiro do menino e comprou o ventilador para ele.Às vezes, parece que vejo essa cena acontecendo no Centro, mas talvez tenha sido só o espírito natalino que fez isso acontecer.
Com lágrimas nos olhos, surpreso pela honestidade e pelo gesto do pequeno vendedor o homem aceitou e experimentou a rapadura na sua frente. Então, eles sentaram na calçada e continuaram o papo.“Garoto, por que você insistiu que eu experimentasse a rapadura”, disse, oferecendo para o menino um dos doces também. O garoto sorriu, experimentou. Olhou fixamente para o horizonte e respondeu.“É que eu aprendi que as pessoas costumam falar as coisas sem experimentar, ou criticar aquilo que não conhecem. E também insisti porque eu sabia que o senhor ia gostar da rapadura”. Gargalharam juntos. Depois, o advogado foi com o menino até uma dessas lojas do Centro. Não deixaram o garoto entrar por causa de seus trajes. O homem pegou o dinheiro do menino e comprou o ventilador para ele.Às vezes, parece que vejo essa cena acontecendo no Centro, mas talvez tenha sido só o espírito natalino que fez isso acontecer.
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