domingo, 19 de janeiro de 2014

Você me ama mesmo? Parte II

Julia voltou para casa aos prantos. No táxi, passando pelas ruas vazias da cidade, o sentimento era de raiva. Foi chegar ao quarto, olhar para o ursinho que ganhou de presente de Cadu, quando fizeram três anos de namoro, para cair no choro. Esperou que tudo o que ele havia dito fosse um delírio, uma brincadeira de mau gosto. Eram três da madrugada, e Julia permaneceu acordada até as 9h esperando por uma ligação. Na internet, não viu em nenhum momento o namorado online. Ou ex-namorado, porque agora não sabia como havia ficado a relação. Pegou o celular pelo menos 12 vezes enquanto o tempo passava. Escreveu uma mensagem, chamando Cadu de cachorro, egoísta, cafajeste e outros adjetivos que caíam bem para a situação.
Mas não enviou nada. Suportou a dor. As lágrimas que insistiam em rolar secaram até que ela adormeceu. Caiu em sono profundo e quando acordou quis acreditar que tudo não havia passado de um sonho. Quando o celular finalmente tocou e ela deu um pulo de esperança, não era ele. Uma amiga convidava para sair, para se divertir porque era domingo e o centro estaria lotado à noite. Ela não queria saber do dia das gurias, não naquele domingo. Durante a relação com Cadu, eles experimentaram se separar naqueles dias. Cada um fazia o que quisesse, com quem quisesse. A ideia havia sido dada pela menina, depois de tantas vezes Cadu a trocar pela cerveja com os amigos.
Ela não se sentiria bem com as amigas enquanto o namorado estivesse noutro lugar. A amiga insistiu, disse que tinha coisas importantes para falar. Não adiantou. Ela teria que retornar à faculdade, certamente viria Cadu e ele a procuraria para conversar. Na segunda-feira, colocou a melhor roupa que encontrou, caprichou na maquiagem, deixou os cabelos cacheados soltos, porque o namorado insistia que assim eram mais lindos. Desceu do ônibus e notou uma aglomeração ao redor de Cadu. Cercado pelos amigos, ela caminhou devagar, esperando que ele a procurasse, a chamasse e dissesse que estava arrependido. Mas nada disso aconteceu. Julia foi ao banheiro. Precisava controlar as lágrimas...
Quando chegou à sala, uma notícia a cortaria o coração. A amiga Andreia contaria o que rolou na boate logo depois que ela havia ido embora naquele sábado. “O Cadu se atracou com outra menina, uma vagabunda. Ficou a noite com ela e depois saíram juntos da boate”. Julia chorou e foi embora. Ligou insistentemente para o namorado. Queria respostas. Ninguém atendeu. Julia insistiu mais dois, três dias. Nada. Na faculdade, não via mais ele, e sua angústia se tornava desesperadora quando ele a bloqueou das redes sociais.
Somente duas semanas depois, quando ela conversava com um amigo no Centro, Cadu ligou. “Ele deve ter ficado com ciúmes, não acredito”, ela pensou.
O jovem então começou a falar. “Amor, eu não te procurei mais porque fiz a maior merda da minha vida. Fiquei com uma guria por puro tesão, você já deve saber. Não me arrependo, não vou mentir. Estava com vontade e rolou. Mas agora, não consigo ficar longe de ti. Não tenho saído mais e não sabia como te procurar, não me perdoei. Sei que você não deve querer saber de mim, mas me dá outra chance”. Julia não respondeu nada. Não era assunto para ser tratado por telefone. Marcaram um encontro. Ela abraçou Cadu. Estava com saudades, não conseguiu reprimir o sentimento. Ainda enxugando as lágrimas, seu olhar ficou obscuro e falou. “Eu só quero saber uma coisa, Cadu. Você me ama mesmo?”.
“É claro que eu te amo, Ju”.
“Pensasse nisso antes”.
E foi embora, engolindo o choro.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

“Você me ama mesmo?”

Essa conversa foi entre um casal de amigos, na faixa dos 20 e poucos anos. Três anos de namoro, planos de casamento e filhos da parte dela, vontade de viajar e se divertir na cabeça dele. Foi num bar que ele me contou essa história.
“Vini, tudo começou quando ela me fez essa pergunta. Pra que ela precisava disso. E eu não quis mentir, estava cansado, com vontade de tomar uma cerveja gelada que nem essa e de olhar, sem culpa, mulheres gostosas como aquelas ali”. O desabafo do meu amigo, enquanto segurava o copo e mirava um grupo de quatro garotas, rindo, com suas bebidas exóticas nas mãos.
“Mas que pergunta foi essa, Cadu?”.
Ele contou que estavam passando a noite em uma boate, e ela o abraçou inesperadamente, olhou no fundo de seus olhos e lançou: “Cadu, você me ama mesmo?”.
Meu amigo baixou o olhar. Maldita hora que ele abaixou o olhar. A namorada percebeu na hora que ele se fez de louco.
“Cadu... Estou falando contigo”, insistia Julia.
Ele ali paralisado, querendo dizer “é claro que te amo meu benzinho, pra que perguntar uma coisa dessas”. Mas não saía, não adiantava. Ele parecia um bobo parado à frente da companheira, tentando encontrar algo que o tirasse daquela situação.
Foi quando passou uma morena. “Não qualquer morena, Vini. Tu tinha que ver aquela mulher. Aquele olhar, minha nossa. E aqueles cabelos compridos. Tu tinha que ter visto, cara”.
Pois Cadu desviou o olhar e sua namorada o beliscou.
“Carlos Eduardo! Você não vai me responder?”
Então, ele olhou para a namorada. Se soltou do abraço dela. Olhou novamente para a morena, que agora estava no bar, pedindo uma caipirinha. “Caipirinha, Vini. Imagina ela brincando com o canudinho da caipirinha”, exaltava-se.
E nesse momento, a morena sorriu para ele. Foi aí que tudo acabou e ele decidiu dar a real para a garota.
“Não!”
“Não? Não o que, Carlos Eduardo?”
“Não, eu não te amo. Eu amava o que eu idealizava. Amava como você se esforçou pra me conquistar lá no início, como me encantava mudando de planos a todo momento. Era bom, era amor mesmo. Hoje não. É só costume. Estou apaixonado por outra mulher”.
Logicamente, Julia não acreditou e quis saber: “Quem é a vagabunda?”
“Não importa. Ela me faz não pensar mais em você. E eu quero viver de novo sem ter de dar satisfações, quero um tempo. Não, não. Quero terminar a relação. Isso, vamos acabar, aqui e agora”.
A garota se enfureceu, virou as costas e se mandou. Cadu correu pela boate, como um louco. Encontrou a morena. Ela sorriu. Ele entendeu. Beijou-a e disse para si mesmo que estava apaixonado. “Não era a cerveja, Vini, não era”.
Fiquei entusiasmado e pedi: “Conta o resto. Levou ela pra cama?”
Ele não terminou a história. Julia telefonou e ele teve de se mandar. Pelo som do celular pude ouvir. “Vem logo pra casa, Carlos Eduardo, ou quer que eu te busque aí?”. Faz dois meses que não vejo Cadu.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Aquela curva


Tem que ter aquela curva, aquele desenho entre a barriga e as pernas. Não pode ser reta, não pode ser uma curva muito acentuada, ou corre-se o risco de acelerar demais. Tem que ser delineada. Aquela curva pra ficar admirando, quando ela dorme, de costas pra gente, como quem convida para um passeio até a eternidade. Aquela curva onde a marquinha do biquini por vezes aparece, onde nossa mão vai repousar, respeitosamente ou não. Tem que ter suavidade, tem que ser macia. Aquela curva é inestimável, inigualável, quase tão perfeita quanto a curva de um sorriso, mas quem se abre para ela é você. E conta promessas que talvez não vá cumprir, só porque viu ela desfilando na sua direção, roupinha branca solta, shortinho jeans curto, aquele umbigo à mostra, delicado. 

A cada passo, um suspiro. Naquela curva, um delírio. Aquela curva faz a personalidade não importar, faz o amor começar ali mesmo, em uma dança, uma troca de olhares, com um romantismo raro para os dias atuais. Aquela curva é a perdição, é seu último desejo, é a morte, é veneno vestido de saia, é uma tempestade, um furacão, vai arrasar a sua vida, vai mexer com sua paixão. E você vai tentar, não vai resistir. Vai cair em tentação. Que seja feita a sua vontade. Entre naquela curva, aprecie com moderação.