Ainda na adolescência aprendi a dividir as coisas e talvez isso seja a reflexão principal deste post, além de relembrar uma data marcante. Durante a juventude, as datas de final de ano eram complicadas. Era um processo de escolha: Natal com o pai, Ano-novo com a turma da mãe e férias com a galera na praia.
Há alguns anos, ouvi de um homem simples que quem perde sempre lembra, e quem ganha acaba esquecendo. Isso faz bastante sentido principalmente pela noite de Noel com meu coroa ter acontecido dentro de um quarto de hospital, um ano antes de ele subir aos céus. Devido à doença, meu pai não falava, nem movia o lado direito do corpo. Os médicos queriam que eu acreditasse que ele não compreendia a realidade também.
No entanto, na noite de Natal, eu me agarrei a ele e chorei, pensando em todos nossos momentos passados e imaginando um futuro melhor. Naquele instante, o velho passou a mão na minha cabeça e me olhou com o mesmo amor de tantas outras vezes. Aquele dia se tornou inesquecível porque a partir dali o Natal ganhou uma magia que vai muito além da mentira que é a existência do Noel.
A verdade é que o sofrimento dessa perda, a maior da minha vida, me tornou uma pessoa absolutamente diferente, que acredita e busca coisas maiores e que abandonou pequenos desejos pessoais. E o aprendizado e crescimento de uma coisa dessas nos dá uma percepção da vida nunca antes pensada. Nosso mundo virou um egoísmo incrível, porque nem derramamos lágrimas com nossos parentes mais, é tudo uma formalidade, um abraço forçado e uma espécie de obrigação de ser simpático. Isso não tem nada a ver com o Natal ou com o que aprendemos sobre Jesus, o homem que morreu para nos salvar.
Para quem não sabe, a economia só existe porque somos individualistas, porque todos querem ter tudo para si. E assim, muitos continuam tendo pouco e pouquíssimos conseguem ter bastante. Minha utopia é a divisão, ou pelo menos uma distribuição mais equilibrada das riquezas. Mas é apenas uma utopia, porque não posso estragar um texto natalino falando de política. Se Jesus estivesse vivo e vendo o auto-aumento que nosso governantes acabaram de garantir como presente natalino, alguém duvida que ele diria "Pai, pedoai-os, eles não sabem o que fazem"?