quinta-feira, 28 de julho de 2011

A paixão que deixamos de lado


“Antigamente, as coisas eram feitas com mais paixão”. Foi isso que disse um velho senhor que conheci no ônibus a caminho da redação do jornal na tarde desta quarta-feira. Faltava pouco para iniciar a partida amistosa entre Inter e Milan e sentei-me ao lado daquele senhor, que vestia uma camiseta clássica do colorado. E também não havia nenhuma gata sentada sozinha no ônibus, ou talvez a conversa nem tivesse acontecido.


Natural que acabássemos falando de futebol. E daí para a paixão pelo esporte e pela falta de paixão dos jogadores, foi um passo. Passamos pela Copa América e ficamos sem explicação sobre a incapacidade do futebol brasileiro ser lucrativo. Aliás, alguém no país deve lucrar com o esporte bretão, mas duvido que sejam os clubes, que estão sempre reclamando dívidas. O velho me disse que noutros tempos os jogadores suavam a camisa, permaneciam em campo como guerreiros. “Não foi o futebol da Europa que cresceu, foi o salto dos jogadores brasileiros”, profetizou meu companheiro de viagem.


E o que entristece é que não é só nesse ponto que o velho tinha razão. Ele falou da inversão de valores e da predominância do dinheiro sobre tudo. E realmente, não há como fugir disso. Todos buscam uma estabilidade financeira, jogadores de futebol, atores, empresários. E a maioria, disse o experiente viajante do meu lado, usa outras pessoas de escada para chegar ao topo. Não sei que mágoa aquele homem guardava no coração, mas confesso que fui concordando com algumas coisas.


E tudo isso acaba com a esperança, acaba com a paixão que a gente tem pela própria vida, ou pela possibilidade de dar uma guinada nela porque o preço a pagar é alto. Não quero virar um mercenário e se for pra encher os bolsos de dinheiro, não quero que seja algo que não mude a vida das pessoas. Ainda mais quando você abre os olhos e vê que os heróis que vão a campo não estão colocando a chuteira como se brigassem pelo almoço do dia seguinte – como nós fazemos todos os dias contra a carga de impostos deste miserável país onde o custo de vida é altíssimo, se você não andar na linha.


A linha que alguns políticos corruptos estabelecem e que seus asseclas seguem, é uma cartilha que prevê o que eles devem fazer para garantir seus lucros. E como as pessoas podem sonhar com o sucesso profissional? Confesso que não consigo enxergar isso, de tanto ver a dedicação perder espaço para a incompetência – por mais incrível que isso pareça... E mesmo sem fazer as coisas com a paixão que deveriam, prosperam. Alguém me explica por que isso acontece?

terça-feira, 19 de julho de 2011

UFSM em Cachoeira! Mas para quem?

Antes que os críticos pensem, este não é um artigo falando mal da possível instalação da UFSM em Cachoeira do Sul oferecendo cursos superiores para mudar nossa perspectiva de futuro. É um pensamento, uma opinião, uma preocupação. Só isso, mais nada. Desde que se cogitou a possibilidade real da vinda da universidade federal para cá, fiquei agitado, esperançoso, criei expectativas e usei os meios possíveis para buscar informações sobre o que estava sendo trabalhado. Agora, estou apreensivo com os efeitos para depois da UFSM, se ela vir, é claro.


Ser bem informado é uma vantagem nos dias de hoje, você pode acionar as pessoas certas para fazer as coisas certas, mesmo que nem sempre tudo dê certo. Foi assim que o projeto nasceu no Gabinete da Crise e logo estava encaminhado à Prefeitura para os trâmites burocráticos necessários. Enquanto escrevo isso, ainda vivemos a dúvida se afinal o ensino federal presencial vai abrir as portas por esta cidade.


E fico impressionado com as discussões de bastidores onde alguns sentem inveja dos que lideraram o manifesto, ou tiveram alguma participação e serão lembrados por isso. Bem, parem e pensem quanta inveja há em tudo que se faz em nossa cidade. Sei que nossos políticos erram e não é pouco, mas somos tão raivosos que nem quando eles acertam, reconhecemos.


Minha preocupação, no entanto, é outra, mais pontual, talvez algo para pensarmos já, enquanto a UFSM não desembarca trazendo um salto de qualidade intelectual para nosso município. A dúvida que tenho é: para quem estamos trazendo a universidade federal? Não tenho dados estatísticos, mas quem tiver pode me ajudar dizendo se a maioria dos estudantes que são aprovados nos vestibulares das federais não são os oriundos do ensino privado.


E isso não é nenhuma posição contrária aos filhos de pais ricos que puderam proporcionar um ensino de qualidade diferenciado, até porque fui estudante do Colégio Imaculada durante quatro anos. Ou de pais que fazem das tripas coração para que seu filho possa ser um médico, advogado ou alguma daquelas profissões tradicionais que os coroas sempre sonham. Não, senhores! O motivo da minha preocupação é com a falta de investimentos na educação de base. Não adianta sonharmos somente com o ensino federal se nossa educação fundamental e média anda a passos lentos, se nossos professores não são valorizados para fazer com que os filhos de vocês se sintam motivados a estudar. É triste escrever o Formigão, conversar com jovens de escolas públicas e notar que seu planejamento não inclui uma faculdade porque isso ou não é incentivado ou se perdeu em algum lugar qualquer de seus sonhos. A UFSM é o desejo de quem está se formando agora, e de quem está próximo. Mas que educação estamos oferecendo para quem ainda vai demorar para ingressar numa faculdade destas?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rejeitado pela covardia

Todos os dias, ela passava na frente do trabalho de Alex. Sempre sorridente e perfumada, deixava no ar uma mensagem que parecia indecifrável, um cheiro de paz misturado com desejo. Aquela semana começou chuvosa e ela desceu correndo do ônibus sem guarda-chuvas. Era uma senha, uma oportunidade, talvez jamais ele tivesse uma desculpa tão esfarrapada para puxar assunto e emprestar ajuda. Fraquejou, e Paula passou correndo por Alex, molhada e assustada. “Oi, querido, me deixa correr, essa água está gelada”. Nem resposta ele soube dar, nem mesmo um "ok".


Inseguro desde os tempos de escola. Nem agora aos vinte e poucos anos perdeu sua timidez, era como ter sempre a sua frente uma muralha invisível que não permitia que arriscasse. E assim, Paula escapava todos os dias de seu abraço. Um abraço ensaiado quase todos os dias, planejado, pensado, porém nunca executado. Havia dias em que conseguia sentar ao lado dela no ônibus, mas jamais passava de uma conversa formal, sobre trabalho, sobre o tempo. E a única piada que ele fazia era referente ao dia em que ela havia se molhado. Paula sorria, dava pistas, pequenas e discretas. O rapaz não as notava.


Quando voltava para casa, Alex pensava nas roupas de Paula, nas suas calças apertadas, delineando as pernas torneadas. Notava os cabelos longos e levemente dourados, que caíam sobre os ombros. Achava encantadora ainda a forma como ela combinava os sapatos de salto com as bolsas, assim como os brincos com as pulseiras. As mãos eram delicadas sempre com as unhas pintadas com cores suaves e os dedos enfeitados com anéis prateados. A maquiagem também suave e com pequenos traços desenhando o entorno de seus olhos.


Numa semana, Paula não passou por Alex. Ele até fugiu do trabalho na hora do lanche da tarde para passar pela loja de perfumes onde ela trabalhava. Descobriu que a garota havia adoecido. Preocupou-se, mas não pediu o telefone dela. Na internet, achou o perfil da garota em uma rede social, mas nem assim puxava assunto. Um mês se passou e nem mesmo nas festas, em que ele passava escorado no bar com sua cerveja e alguns amigos, ela estava mais.


Na outra segunda-feira, Alex decidiu tomar uma atitude e convidar a garota para sair à noite para jantar. Mas quando a viu tomando o coletivo de volta para casa, teve medo que a ideia parecesse antiquada e desistiu. Pensou que seria melhor um convite para a boate no final de semana, um show de rock e umas bebidas talvez fossem a combinação perfeita para que ele tivesse coragem. E na quarta-feira, depois de meses de adoração quieta, ele a convida: “oi, eu queria... Você gostaria de ir para a festa do final de semana, vai ter um show legal...”.


“Ai, desculpa, Alex... Se você tivesse me falado há alguns dias, não teria problema nenhum de aceitar. Mas estou saindo com um cara”. E o rapaz ficou ali, parado, pensando. Será que era melhor seguir agindo assim ou simplesmente falar, se jogar e correr para o abraço, literalmente? A decisão ele aprenderia ainda antes de a garota romper com o tal cara. Foi no ombro dele que a menina chorou no dia após o fim da relação de cinco meses. Mas para ele, já não fazia sentido esperar por ela. Agora, se dava muito melhor arriscando do que aguardando que as coisas caíssem do céu.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Eu tenho um objetivo


Eu iniciaria esse texto parafraseando Mandela e colocando no título "eu tenho um sonho", mas não sou utópico, por isso a opção pela palavra objetivo. Vivemos um tempo em que é fácil escrever um discurso. Talvez não escrever, mas copiar. Os textos mais importantes da história são descobertos pelo Google em menos de um segundo. A reflexão que me faz escrever isto - a uma hora da madrugada de uma sexta-feira - enquanto a televisão passa o Programa do Jô e tenho uma discussão filosófica com uma amiga, é a respeito do momento de discussões que toma conta de nossa cidade.


São assuntos que provocam manifestações de toda sorte, de todas as formas, apaixonadas, exaltadas, mal-educadas, sinceras, mentirosas, políticas... De tanto acompanhar a política, por vezes, fico com a impressão, provavelmente errada, de que um prefeito, vereador, deputado sempre terá um argumento capaz de sustentar qualquer tese, desde que tenha alguma vantagem em cima disso, seja eleitoral, seja um carguinho ou dinheiro no bolso. Talvez, e muito provavelmente, eu esteja errado. Mas é um pensamento de momento.


Sou criticado se disser que sou colorado, sou criticado se tiver opinião em relação a um tema de repercussão comunitária, independente da posição que assuma. E serei xingado se disser que votei no José Otávio Germano, mesmo depois das acusações sofridas por ele em torno do caso da fraude do Detran. Não provaram nada contra ele, que segue sendo uma saída para minha cidade sempre que se precisa de uma briguinha para receber um pouco de atenção de Brasília. O que acho interessante é que perdi a coragem de expor essas opiniões, independente de quem estarei desagradando.


Talvez porque eu goste de rock e o estilo tenha me ensinado a ter atitude e até mesmo objetivo – não um, mas vários que convergem em uma mesma direção. Por mais atraente que tenham sido propostas para sair da cidade para outros rumos profissionais, não consigo me afastar da experiência de escrever literalmente a história todos os dias. Escrevi sobre eleições, sobre brigas, relatei decisões importantes e no momento acompanho de perto e, quando posso até opino, sobre duas das principais discussões comunitárias da cidade que me ensinou a ser o que sou até hoje – um cara que anda de ônibus, e que acha o preço caro, mas que tem um objetivo, único e singelo: contar histórias.


E se não consigo escrever verdades, ouvindo mentirosos às vezes, pelo menos, quando deito a cabeça no travesseiro, tenho sempre a certeza de ter me esforçado ao máximo para chegar o mais próximo possível dela. É a paz que encontro em minha vida e que não vejo do lado de fora da minha casa. E só para não terminar isso sem copiar alguém, justifico com uma frase do eterno Bob Marley: “sou louco porque vivo em um mundo que não merece a minha lucidez”.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sem brigas, não há paz no amor

De todas as teses loucas que defendo, talvez, essa seja uma das mais polêmicas ou controversas. Não gosto da polêmica apenas pela discussão, mas para dar um ângulo diferente e simplesmente fazer alguém refletir e, vá lá, pensar que tenha algum sentido por trás de um pensamento distorcido. E fazia tempo que não iniciava um texto me justificando, e também há alguns dias não atualizava este blog, portanto, leiam à vontade e formem suas opiniões.




Sou um defensor que todo casal que se ama, ou onde um ama e o outro mente porque ainda está em dúvida, ou que nenhum ama e os dois estão apenas curtindo... Enrolei de novo, está difícil seguir um raciocínio, mas entendam, a vida não é um filme e as coisas não são programadas, embora tentemos decorar algumas frases só pra agradar de vez em quando! Ah, bem. É preciso brigar, é preciso uma ceninha de ciúmes de vez em quando e apontar defeitos no outro sempre que enxergar algum. Não dá para simplesmente conviver com uma coisa que lhe incomoda em algo tão próximo, é como aquelas gripes sazonais que ficam incomodando e tiram a sua paciência. E por falar em gripe, que frio.



Então, se você quer realmente ter paz, precisa brigar. E a história prova isso, embora todas as guerras tenham sido iniciadas por motivos sádicos ou uma busca incessante por dinheiro, poder e mulheres. Mas alguém realmente provoca uma guerra por causa de mulher? Claro que sim, a primeira a provocar uma cisão de mundos foi Helena, de Tróia! Tudo bem que a infidelidade da moça que provocou a cisão e que a guerra foi motivada pelo orgulho ferido, enfim. O importante é que nesse caso o amor foi o vilão e normalmente ele assume esse papel. Não porque o amor é ruim, muito pelo contrário.



Mas sinceramente, não acredito em um amor onde não exista o confronto, onde os dois se entendam em todos os sentidos e nem sequer admitam pontos de vista contrários. Quem disse que precisa ser igual pra dar certo? Isso não significa que você vai passar a vasculhar defeitos no seu amor, porque se fizer isso, o que deseja é trair e sair por aí. Mas quem ama se importa, logo vai querer brigar para estar junto, vai discutir porque achou uma mensagem muito carinhosa no celular ou por um recado mais íntimo na rede social ou algo do tipo. Amor não precisa ser perfeito, mas para ter paz nele, é preciso brigar, insisto. Porque pensem na profundidade disso: você ama tanto uma pessoa que é capaz de provocar uma briga para que ela perceba que você gosta dela. Ok! Parece estupidez na verdade, mas pense... Você já brigou com seu amor hoje? Vai lá, discute um pouco. E mais um conselho, não há nada melhor do que um beijo depois de uma briga. Até existe, mas o texto não precisa descambar para o erotismo.