quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Os crimes e a Justiça



Hoje foi um dos dias mais cansativos dos últimos dias na redação do Jornal do Povo. Depois de acompanhar um pouco da conferência de políticas para as mulheres, voltei para meu computador, baixei as fotos e comecei algumas entrevistas atrás das informações para as reportagens prioritárias do dia. O diferente foi me fechar completamente para o mundo ao meu redor das 16h até as 20h somente escrevendo, colocando nos textos as informações que havia levantado das pautas.


Foram apenas quatro horas de trabalho sem nenhum tipo de distração, parada, conversa ou entrada em rede social – coisas que sempre acabam prejudicando o andamento do dia. E lá pelas 21h, depois de quase tudo feito, fiz uma reflexão rápida com o chefe de redação sobre as diferentes posições da Justiça em relação aos crimes que mais comoveram a cidade. Lembrei de dois casos em que os supostos criminosos ainda respondem em liberdade aos processos, a morte do professor Érico, que foi amarrado em um carro e largado numa estrada no interior, e o assassinato da jovem Adnan, degolada e que teve seu corpo enterrado em um buraco.


Nestes dois episódios havia requintes de crueldade e a negativa por parte dos principais suspeitos sobre a autoria dos crimes. Seus advogados conseguiram fazer com que respondessem em liberdade. Noutro caso, o jornalista Mário Martins assassinou um amigo, avisou a Polícia, se entregou e está preso, aguardando uma possibilidade de ser solto mediante audiência com o juiz. Moral da história, explicou um colega: “negue”.


Parece que basta driblar a competência da Justiça, enrolar, não permitir que o flagrante aconteça, pois as provas poderão ser contestadas e testemunhos comprados. E assim percebi como é falho nosso sistema, ou como é falha sua aplicabilidade. Mas o que esperar se nossas leis, nos municípios, são feitas e aprovadas por senhores que mal sabem se expressar, escrever, e entendem menos de Justiça do que eu próprio. E depois de toda essa reflexão fiquei em um misto de incredulidade e resignação. De que adianta questionar, quando o poder do dinheiro compra os espaços no poder?


Certo é que passou da hora de assistirmos a tudo de braços cruzados. Talvez não precisemos ir às ruas brigar com os policiais que brigam por salários mais justos, nem atear fogo em veículos ou fazer barreiras. Somos patrões dos políticos, mas ainda não desenvolvemos nossa cidadania a pleno, e isso nos impede de tornar a nossa voz mais alta que a desses empregados. Está certo, iniciei por um tema e acabei voltando à política, que na maioria das vezes acaba sendo a responsável por quase tudo que acontece. Pena que não estamos enxergando isso ainda...


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Felicidade

Aos poucos, você vai acabar percebendo que a felicidade não está somente nas coisas que conquista ao longo de sua caminhada. Talvez porque não damos valor para aquelas que sempre estiveram ali do nosso lado e que foram verdadeiramente pilares de nossa alegria e sustentação nos dias mais terríveis. Ou talvez porque o mundo esteja correndo numa velocidade tão surreal que nem percebemos o que nos dá prazer de verdade.


Sempre fico inquieto pensando em tudo que as pessoas sonham acumular: riquezas, reconhecimento, poder e sucesso. É estranho o que a ambição faz com cada um de nós e como esse comportamento de busca pelo crescimento se torna repetitivo em alguns segmentos. Mais curioso ainda são os meios que cada um utiliza para atingir seus objetivos, ilegais, imorais, e o que mais?


Não sei quando foi que a sociedade parou de valorizar aquilo que possui para adorar outros deuses. E mesmo nunca tendo sido o mais fervoroso fiel, não consigo deixar de lembrar os ensinamentos de Jesus, para sermos desapegados das coisas terrenas. Pelo menos era essa a mensagem que eu via os filmes passarem. Porque, se formos parar pra pensar, a mensagem é absolutamente verdadeira. Talvez a única riqueza que não vão nos roubar é o conhecimento.


E é claro que nada do que foi escrito até aqui precisa fazer algum sentido para você. E confesso que nem sempre lembro o quanto isso tem valor também. Mas sei que quando escrevo meus pensamentos eles ficam guardados em um lugar mais seguro do que minha mente egoísta. Não pretendo ensinar a ninguém o jeito certo de encontrar a felicidade plena. Só espero que todos que leram isso tenham condições de notar que ela não está basicamente na casa dos seus sonhos, no carro, nem nas roupas mais caras daquela grife famosa. Se vocês refletirem, vão perceber que a felicidade está em todo o caminho percorrido para que você chegasse aos seus objetivos e nas pessoas que ajudaram nesse caminho...



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Carta aberta a um político corrupto



Prezado senhor, gostaria que o senhor dispensasse atenção especial a esta carta, muito embora eu tenha certeza que o senhor deva estar ocupado demais com seus afazeres políticas. Meu pedido é simples, senhor, e acredito que o senhor possa se sensibilizar. Não precisa ficar preocupado, não estou lhe pedindo um emprego. Para falar a verdade, o senhor é a última pessoa a quem eu gostaria de pedir um favor.


No entanto, tendo em vista as constantes notícias e denúncias sobre desvio de dinheiro público, gostaria que o senhor refletisse e me respondesse algumas perguntas. Na última vez que o senhor aceitou propina para votar a favor do Governo em determinado projeto, o senhor estava pensando no combustível da Ferrari de seu filho ou no custo de transporte que toda a população precisa pagar dentro dos municípios ou para fazer uma viagem regional?


Tenho certeza que o senhor paga, assim como eu, uma série de impostos. Não acredito que por algum motivo o senhor possa sonegar. Mas pense na seguinte situação: como o senhor se sentiria se eu lhe roubasse um mês de ordenado, escondesse dentro de minhas meias, cuecas, e depois, vai saber, gastasse em alguma festinha com prostitutas? O senhor se sentiria traído? E mais, pense que o senhor confiou em mim, que me assinou um cheque em branco para que eu o usasse para dar empregos para meus parentes todos.


Sabe, doutor, eu gostaria de lhe pedir uma série de coisas para minha cidade, para meu estado e até mesmo melhoria nos atendimentos do país. São coisas básicas: não quero mais ler notícias dizendo que um irmão morreu no hospital público por falta de atendimento. Eu também gostaria que as crianças pudessem ter uma educação de qualidade, tal qual a ofertada nas instituições privadas. Outra situação que não acho justa é a de amigos que vivem em ruas sem calçamento, sem saneamento, sem qualidade de vida.


Sabe senhor, eu também gostaria que mais cidadãos tivessem condições de assistir a uma peça de teatro, comprar sua casa própria e, por que não, adquirir um carro. Talvez isso seja difícil demais, senhor, então me perdoe se estou exagerando. Me perdoe, senhor, mas eu preciso abandonar essa porcaria de educação por uns instantes. A verdade é que cansei de rastejar e de me humilhar pedindo que o senhor faça o seu dever de meu representante. Não pense que não sei que foi meu dinheiro que pagou o tecido deste terno ridículo que o senhor usa tentando ser elegante.


Faça as contas e veja quanto já roubou nos últimos tempos. Já parou pra pensar, seu filho de uma puta, que crianças morreram por culpa sua por falta de políticas contra a mortalidade infantil? O senhor já imaginou que é um maldito assassino por não criar medidas efetivas de combate à violência do trânsito, das drogas, apenas para ficar em alguns exemplos? Agora que vossa excelência teve tempo para refletir em aspectos simples como esse, faça o favor de pegar o seu chapéu e abandonar a vida pública.


Só não esqueça - se não for pedir demais - de devolver com juros o que roubou. Para finalizar, gostaria de sugerir ao senhor a criação de um imposto que poderia ajudar muito nosso país: todo político sujo, ladrão e desonesto como o senhor terá que devolver três vezes a quantia comprovada de seu desvio. Certo de que o senhor irá analisar o pedido, despeço-me lhe desejando felicidades e longa vida... Atrás das grades!



domingo, 14 de agosto de 2011

Emocionar

Uma das coisas mais emocionantes do ser humano é a sua capacidade para se emocionar. Algo como aquele frio que atravessa a espinha, ou então aquele tremor e até mesmo o suor das mãos que aparece em momentos de tensão, expectativa. Outras vezes, a sensação é de que o corpo está levitando, somos surpreendidos por um instante e até mesmo nossos olhos piscam e se entregam a chorar de acordo com a comoção provocada. A origem da emoção algumas vezes é inexplicável, pode vir do passado, pode ser passageira, pode durar só alguns segundos, mas assim como a capacidade de sentir, a de provocar emoções é tão incrível e talvez seja incomparável com qualquer outra.

Há diversas formas de fazer uma pessoa sorrir: o ponto de partida pode ser uma simples piada. Se for realmente boa, é bem possível arrancar uma gargalhada e junto com ela conquistar a simpatia do interlocutor. Até mesmo o ser mais fechado é capaz de deixar seu gelo derreter. Para isso, é preciso provocar uma sensação tão intensa que seu corpo transborde e ele não consiga mais se conter – acabando por revelar lentamente sua emoção, através dos lábios que vão se mover em simetria perfeita com os olhos. Provocar um sorriso, arrancar a alegria de alguém, é uma das coisas incríveis do ser humano.

Pode ser um filme, uma música ou a repetição diária do carinho de um amor. Até mesmo um texto, com belas, sinceras e delicadas palavras encaixadas através de pensamentos tímidos pode fazer isso. O fato é que em qualquer momento temos a capacidade de provocar a mudança na fisionomia de alguém, transformar seu dia cinza e chuvoso em uma tarde de sol em que até o arco-íris rouba a cena, mesmo que não exista um pote de ouro no final. Nossas ações, frases, movimentos podem ser capazes de arrancar também aquela felicidade contagiante que arranca as lágrimas mais doloridas de nosso coração. Uma das coisas incríveis do ser humano é que as lágrimas não são tão doloridas quando nos machucamos fisicamente, e sim quando nossa alma é quem sofre.

Por mais esforço que se faça, nem sempre será possível provocar as melhores sensações e emoções em quem amamos. Não seremos perfeitos a ponto de evitar que nossos entes queridos fiquem magoados. No fundo, vamos acabar decepcionando provavelmente as pessoas que mais gostam de nós, e isso é natural, talvez inevitável mesmo. Mas uma das coisas emocionantes do ser humano é sua capacidade de mudar e de se transformar. E de ser contagiado pela emoção de quem está ao seu lado e de contagiar quem está a seu redor.

Você já beijou alguém com tanta intensidade que sentiu vontade de chorar? Já ouviu uma música que lembrou alguém que partiu há muito tempo e se emocionou? Ficou pensativo durante um bom tempo após um filme que provocou indignação, admiração ou que abriu seus olhos para uma realidade até então desconhecida? Já foi tocado por uma poesia, um livro ou uma frase que acabou tomando como um lema? Impossível responder não a qualquer uma destas questões, pois uma das coisas mais incríveis de sermos humanos é nossa capacidade de nos emocionarmos a todo momento. E se o sentido da vida não estiver ligado a nada disso, nossa vida não deve ter mesmo muito sentido.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A paixão é cega, não o amor

A realidade é que criatividade foi parar na lixeira. Os outros textos que poderiam trazer alguma frase inteligente foram deletados enquanto a janelinha do MSN piscava e os internautas seguiam suas atualizações no Twitter. Não havia nada de inspirador por lá para servir de base para texto algum, nem mesmo as canções clássicas do rock ajudaram desta vez. Nem o tempo está bonito para inspirar, nem a chuva veio para acalmar...


Passa da uma hora da madrugada, não adianta insistir e tentar emplacar uma boa história, ela simplesmente não irá nascer. O difícil, quase impossível, é aceitar essa incapacidade criativa quando você quer ser capaz de criar mundos incríveis enquanto sonha e dedilha o teclado, seu principal confidente. E a verdade é que está ficando complicado escrever qualquer coisa que não pareça uma mentira ou uma desculpa qualquer sobre nosso mundo egoísta.


Às vezes parece que escrever sobre amor não muda nada e que esse sentimento é apenas uma desculpa usada para agradar aquela gata que estamos trovando. Mas, no fundo, é a falta de criatividade que faz com que a paixão volte à pauta e seja, eternamente, o tema preferido. Porque ela é a irmã mais nova do sentimento mais nobre e não exige nada de excepcional de ninguém, nem explicações ou traços de personalidade marcantes. A paixão é tão simples que nem precisamos conhecer quem a trouxe, mesmo que tenha sido um belo par de coxas ou até mesmo um sorriso absolutamente lindo e revelador. A paixão no fundo é cega, não o amor.


O amor conhece, o amor esquece e até perdoa. A paixão está ali absolutamente despreocupada. Se vai rolar ou não, tanto faz. Estar apaixonado é passageiro mesmo. Namorar é diferente de se apaixonar, e mais romântico também. É sentir amor, não paixão. E mesmo assim alguns insistem em dizer “eu te amo” como quem dá boa noite. Não pode ser assim. Amor não pode ser corriqueiro, tem que ser único e intenso. Se não tem um pouco de sofrimento, seja para conquistar, brigar e reatar, não é amor de verdade. Não acredito que o amor tenha regras, nem acredito que a falta de criatividade tenha sido capaz de produzir algumas frases de efeito que facilmente serão esquecidas por quem as ler.


O que acredito é que um pouco mais de amor poderia mudar os rumos de toda uma sociedade. Amor ao conhecimento, a única riqueza que não pode ser furtada. Amor à vida, que no final das contas acaba sendo uma passagem louca e agitada ou plena de complicações e dificuldades de acordo com seu ponto de vista, e não suas experiências. Amor às suas dificuldades, que quando vencidas se transformam em um momento saboroso do passado – como a crise criativa do início de tudo isso.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Exploração

Quanto mais eles ganham, mais eles querem. É uma dificuldade para as classes trabalhadoras assegurarem boas remunerações, porque entram invariavelmente em terríveis brigas com os sindicatos patronais. Perseguições, líderes que nascem e entortam para a política, onde esquecem os princípios da classe que antes defendiam para servir aos interesses dos que agora enchem seus bolsos.



Parece heresia para os patrões quando um funcionário decide se rebelar, questionar, se indignar. Por que eles agem assim, quem ensinou a tática da opressão? Se o camarada reclama das condições de trabalho ou salariais, uma das respostas mais recorrentes é dizer que a porta está aberta para que saia. Pelo menos funciona assim nas sociedades não evoluídas. E se o profissional decidir mobilizar os colegas para uma greve, um protesto, será o primeiro nome na lista dos dispensáveis, independente de sua competência ou dedicação.



Avaliação de dedicação não é subjetiva, assim como a qualidade do produto final pode facilmente ser notada. Mas nada disso muda a visão dos senhores feudais do capitalismo moderno. O suor vale menos do que a peça estragada da máquina. “Maltratem seus funcionários, façam com que percebam que no fundo eles não são necessários. E quando um se rebelar, coloque-o na rua para que sirva de exemplo aos demais”. Isso deve ter sido dito nas palestras onde estes senhores aprenderam a conduzir seus empreendimentos.



O problema é que todos estão preocupados demais em encher somente a sua sacola com as moedas de ouro que ficam no final do arco-íris. E não importa se na corrida para chegar lá, eles precisem humilhar empregados, assassinar os sonhos de outros, sonegar e roubar.



Talvez por tudo isso, reconheço mais méritos no filho empreendedor que não quis seguir na empresa do papai abastado do que no seu irmão que ficou com um cargo de chefia. Enquanto o primeiro inova e cria um novo nicho de mercado, gerando novos empregos e movimentando outra cadeia produtiva, o outro se acomoda para garantir a continuidade do modelo que vai destruindo sonhos de trabalhadores ao longo dos anos. Trabalhadores sem partido, sem ideologia, sem sonhos. Para o povo trabalhador, que realmente produz a riqueza do país, a ideologia é garantir diariamente seu sustento e pagar seus impostos – diferente do que muitas vezes faz o seu patrão.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Coisas de homens



Das coisas idiotas do mundo masculino, talvez a necessidade de contar sobre suas conquistas seja uma das mais interessantes. Para um cara, às vezes, é mais importante contar que ganhou uma garota do que ter a conquistado efetivamente. Ficar com uma modelo, atriz ou uma dessas capas de revistas não teria nenhum sentido se o homem não puder divulgar seus feitos, só pra contar vantagem. Não tem graça levar a Megan Fox para uma ilha deserta – a menos que o celular funcione lá e possamos ligar para alguém e contar como foi.


É uma prática antiga, é um costume que passou de pai para filho e que foi se perpetuando ao longo dos anos. Não que as mulheres não façam isso, até porque elas vêm até tomando a dianteira das ações ultimamente e até a iniciativa, mas segue sendo mais comum entre os caras. E existe um ritual todo especial para contar os grandes feitos, é como passar conhecimento, é como detalhar a jogada que culminou em um gol. Na maioria das vezes, inventamos algumas coisas, aumentamos detalhes que com certeza tornam a história mais interessante.


Todo cara pegador tem um pouco de cineasta, com sua capacidade de criar falas, lugares inusitados e situações cômicas que acabam se transformando em momentos marcantes. Esse tipo de história só pode ser contada entre amigos, e normalmente em mesas de bares, com algumas garrafas decorando o ambiente. No meu passado, há algumas histórias que renderiam um livro, aliás renderam o “Santo Cafajeste” (comprem!). E se muitas delas não foram como vencer a Copa do Mundo, valeram a pena pela dificuldade do jogo, se é que vocês me entendem.


Outra coisa idiota que o mundo masculino cultiva é que a trova, muitas vezes, é mais importante do que a sua consequência. Não para a maioria, mas nem toda regra deveria ser baseada no comportamento da maioria. Até porque a maioria elegeu o Tiririca. Mas concordo com quem disser que os homens têm manias engraçadas, confusas e nada ortodoxas. Só que por mais malucas, estúpidas e incríveis que essas coisas de homens sejam, elas sempre funcionam e estão resistindo ao tempo e às críticas femininas e feministas.