Assunto foi massificado nos últimos dias
A invasão do Instituto Royal em São Paulo, que fazia testes
em cachorros da raça Beagle, se tornou mais um assunto massificado nos últimos
dias, levantando a polêmica sobre estes experimentos envolvendo os bichos. Afinal,
é correto usar animais para este fim? No final de semana, o programa
Fantástico, da rede Globo de televisão, pautou o tema e colocou todos os lados
envolvidos na discussão, inclusive a questão além do território nacional, como
a postura europeia, que proíbe experiências para cosméticos, mas reconhece como
necessária para a produção de medicamentos.
Enquanto se formou nos últimos dias uma onda viral de
discussão sobre o assunto, a mídia vem explorando o tema frequentemente. Não há
consenso em torno do assunto, mas há sinais de projetos proibitivos começando a
serem pensados em âmbito nacional por parte de alguns deputados, ainda que a
legislação acerca do tema seja recente, de cinco anos somente.
LOCAL - Em Cachoeira do Sul, os animais são um tema
recorrente em virtude da superpopulação nas ruas e também pelo trabalho
dedicado desenvolvido pela Associação Cachoeirense de Proteção Animal (Acapa).
A entidade abriga centenas de bichos no distrito de Três Vendas e conta com o
apoio de voluntários e do poder público para se manter. Se as ruas de Cachoeira
hoje não são tomadas por cães e gatos, como ocorria há cerca de 10 anos, essa realidade
é fruto principalmente do trabalho desta associação.
O conflito dos profissionais da área
Trabalhando e amando os animais, os profissionais da área
médica e veterinária são os que vivem mais diretamente uma relação de conflito
com relação a este assunto. A definição inclusive foi usada pela veterinária
Rosa Helena Bredow, formada há 27 anos. “Só de ver as imagens dos animais, já
nos sentimos mal e nos posicionamos contra os testes. Mas dali mesmo é que saem
os medicamentos que vamos usar”, comenta, detalhando essa relação.
Até mesmo para o aprendizado, os bichos precisam ser usados
como cobaia. “Não sou a favor dos testes, mas muitas vezes o aprendizado é
necessário, não somente em medicina”, diz ela, salientando ser esta uma relação
bastante dúbia. “A gente jamais quer ver, mas muito do que aprendi foi com os
animais, procedimentos que hoje me ajudam a salvar vidas”, relata.
BEAGLES – A médica explicou ainda que o uso dos cachorros da
raça beagle ocorre porque estes possuem células muito similares às dos seres
humanos. Segundo ela, algumas amostragens que os animais menores, como
roedores, não apresentam, precisam ser testadas em bichos de maior porte, e os
beagles se assemelham em “celularidade” aos humanos.
“Infelizmente, é necessário”
Um dos veterinários mais experientes de Cachoeira do Sul,
Edson Salomão também aceitou falar sobre a polêmica que se intensificou nos
últimos dias. “Infelizmente, é necessário ainda fazer os testes. Em primeiro
lugar está a vida dos homens. As pesquisas são aprovadas, e no caso do
instituto, dava para notar pelas imagens que era uma firma séria, que não havia
nada de maus tratos”, comenta.
O veterinário ainda acrescenta que falta “bom senso” em
casos como o que acabou ficando conhecido nacionalmente. “Invadir, quebrar um
laboratório e destruir uma pesquisa de sabe-se lá quantos anos que pode salvar
vidas. Me impressiono que não levaram ratos nem os cães vira-latas, somente os
beagles”, comenta o profissional. Salomão comenta que o homem ainda não
inventou a vida, e que não é possível testar de outra forma. “A medicina
avançou graças aos sacrifícios dos animais”, completa.
DECISÃO – O profissional, declaradamente um apaixonado por
bichos, comentou que recentemente em Santa Maria um juiz atendeu a um pedido de
um grupo de ativistas e mandou cancelar o uso de animais no centro de cirurgia
experimental da universidade de Santa Maria. “É um absurdo. Os bichos servem
para os estudos e neste centro muitas vezes são adotados posteriormente pelos
próprios acadêmicos e quando isso não ocorre, são encaminhados para adoção,
tendo uma vida mais feliz do que aconteceria se estivessem nas ruas”,
finalizou.
“Precisamos desta abordagem científica”
O colunista do jornal O Correio, médico oncologista Sören
Sutmöller falou sobre o assunto polêmico e afirma que as experiências com os
animais ainda são indispensáveis. “Do meu ponto de vista médico, certamente
precisamos deste tipo de abordagem científica. Sou amante dos animais e por
isso tenho opiniões conflitantes no meu foro íntimo”, cofessa. “Mas certamente
experiências em animais são indispensáveis antes de serem feitas em humanos, em
função de diversas convenções internacionais, como a Declaração de Helsinki, os
GCP, Good Clinical Practice (boas práticas clínicas). Por este grupo de
diretrizes, existe um respeito pelo uso de seres humanos no sentido amplo do
que se refere a experimentação. Os animais não precisam dar consentimento
informado e eles podem ser feridos durante os experimentos, o que não pode mais
ser feito e nem cogitado em seres humanos, em função destes aspectos relativos às
Boas Práticas Clínicas. desta forma, é sabido que experimentarmos em animais é
necessário, na medida em que não temos como medir se determinada substância ou
produto pode ser danosa ou prejudicial ao ser humano e pelas convenções
internacionais isso é proibido”, explica.
O colunista ainda pondera sobre uma outra alternativa, para
que os bichos não precisem ser utilizados. “Meu lado amante dos animais sofre
ao vê-los sendo maltratados, porém não posso ter essa postura quando um bem
maior, que é a vida humana, está em jogo constante”. Por isso, Sören entende
que seria válido, e inclusive seria favorável, que criminosos reincidentes, em
crimes bárbaros, por exemplo, podessem ter suas penas atenuadas se
participassem de pesquisas primárias. “como estudos de fase pré-clínica e
estudos de fase I. É uma ideia que poderia ser aplicada e oferecida a este tipo
de ser humano que somente destrói a sociedade, mas é uma opinião muito pessoal
e polêmica”, admite.
Voluntária é “totalmente contra os testes”
Se entre profissionais da área da saúde há dúvidas, o mesmo
não ocorre em torno dos voluntários que atuam na causa animal. Um exemplo é a
engajada Waldivia Toledo, a quem muitos cachoeirenses recorrem quase que diariamente
encaminhando denúncias de maus tratos a animais.
Waldivia afirma que é “totalmente contra os testes”. Ela vai
ainda mais adiante e comenta que está fazendo campanha para que os cidadãos
deixem de comprar produtos das marcas que ainda fazem testes em animais. “Tenho
uma filha que reside em Munique, na Alemanha, onde não é mais permitido testar
cosméticos nos bichos. Inclusive enviei para ela algumas marcas que não são as
que são testadas em animais”, disse. “E também, nada garante que um teste em
animal terá o mesmo resultado numa pessoa, alguns especialistas afirmam isso,
do que tenho lido sobre o assunto. Ninguém vai me convencer disso (dos testes
com os bichos).


















