quinta-feira, 31 de outubro de 2013

REPORTAGEM: Testes em animais

Assunto foi massificado nos últimos dias 

A invasão do Instituto Royal em São Paulo, que fazia testes em cachorros da raça Beagle, se tornou mais um assunto massificado nos últimos dias, levantando a polêmica sobre estes experimentos envolvendo os bichos. Afinal, é correto usar animais para este fim? No final de semana, o programa Fantástico, da rede Globo de televisão, pautou o tema e colocou todos os lados envolvidos na discussão, inclusive a questão além do território nacional, como a postura europeia, que proíbe experiências para cosméticos, mas reconhece como necessária para a produção de medicamentos.
Enquanto se formou nos últimos dias uma onda viral de discussão sobre o assunto, a mídia vem explorando o tema frequentemente. Não há consenso em torno do assunto, mas há sinais de projetos proibitivos começando a serem pensados em âmbito nacional por parte de alguns deputados, ainda que a legislação acerca do tema seja recente, de cinco anos somente.
LOCAL - Em Cachoeira do Sul, os animais são um tema recorrente em virtude da superpopulação nas ruas e também pelo trabalho dedicado desenvolvido pela Associação Cachoeirense de Proteção Animal (Acapa). A entidade abriga centenas de bichos no distrito de Três Vendas e conta com o apoio de voluntários e do poder público para se manter. Se as ruas de Cachoeira hoje não são tomadas por cães e gatos, como ocorria há cerca de 10 anos, essa realidade é fruto principalmente do trabalho desta associação.

O conflito dos profissionais da área

Trabalhando e amando os animais, os profissionais da área médica e veterinária são os que vivem mais diretamente uma relação de conflito com relação a este assunto. A definição inclusive foi usada pela veterinária Rosa Helena Bredow, formada há 27 anos. “Só de ver as imagens dos animais, já nos sentimos mal e nos posicionamos contra os testes. Mas dali mesmo é que saem os medicamentos que vamos usar”, comenta, detalhando essa relação.
Até mesmo para o aprendizado, os bichos precisam ser usados como cobaia. “Não sou a favor dos testes, mas muitas vezes o aprendizado é necessário, não somente em medicina”, diz ela, salientando ser esta uma relação bastante dúbia. “A gente jamais quer ver, mas muito do que aprendi foi com os animais, procedimentos que hoje me ajudam a salvar vidas”, relata.

BEAGLES – A médica explicou ainda que o uso dos cachorros da raça beagle ocorre porque estes possuem células muito similares às dos seres humanos. Segundo ela, algumas amostragens que os animais menores, como roedores, não apresentam, precisam ser testadas em bichos de maior porte, e os beagles se assemelham em “celularidade” aos humanos.


“Infelizmente, é necessário”

Um dos veterinários mais experientes de Cachoeira do Sul, Edson Salomão também aceitou falar sobre a polêmica que se intensificou nos últimos dias. “Infelizmente, é necessário ainda fazer os testes. Em primeiro lugar está a vida dos homens. As pesquisas são aprovadas, e no caso do instituto, dava para notar pelas imagens que era uma firma séria, que não havia nada de maus tratos”, comenta.
O veterinário ainda acrescenta que falta “bom senso” em casos como o que acabou ficando conhecido nacionalmente. “Invadir, quebrar um laboratório e destruir uma pesquisa de sabe-se lá quantos anos que pode salvar vidas. Me impressiono que não levaram ratos nem os cães vira-latas, somente os beagles”, comenta o profissional. Salomão comenta que o homem ainda não inventou a vida, e que não é possível testar de outra forma. “A medicina avançou graças aos sacrifícios dos animais”, completa.
DECISÃO – O profissional, declaradamente um apaixonado por bichos, comentou que recentemente em Santa Maria um juiz atendeu a um pedido de um grupo de ativistas e mandou cancelar o uso de animais no centro de cirurgia experimental da universidade de Santa Maria. “É um absurdo. Os bichos servem para os estudos e neste centro muitas vezes são adotados posteriormente pelos próprios acadêmicos e quando isso não ocorre, são encaminhados para adoção, tendo uma vida mais feliz do que aconteceria se estivessem nas ruas”, finalizou.

“Precisamos desta abordagem científica”

O colunista do jornal O Correio, médico oncologista Sören Sutmöller falou sobre o assunto polêmico e afirma que as experiências com os animais ainda são indispensáveis. “Do meu ponto de vista médico, certamente precisamos deste tipo de abordagem científica. Sou amante dos animais e por isso tenho opiniões conflitantes no meu foro íntimo”, cofessa. “Mas certamente experiências em animais são indispensáveis antes de serem feitas em humanos, em função de diversas convenções internacionais, como a Declaração de Helsinki, os GCP, Good Clinical Practice (boas práticas clínicas). Por este grupo de diretrizes, existe um respeito pelo uso de seres humanos no sentido amplo do que se refere a experimentação. Os animais não precisam dar consentimento informado e eles podem ser feridos durante os experimentos, o que não pode mais ser feito e nem cogitado em seres humanos, em função destes aspectos relativos às Boas Práticas Clínicas. desta forma, é sabido que experimentarmos em animais é necessário, na medida em que não temos como medir se determinada substância ou produto pode ser danosa ou prejudicial ao ser humano e pelas convenções internacionais isso é proibido”, explica.
O colunista ainda pondera sobre uma outra alternativa, para que os bichos não precisem ser utilizados. “Meu lado amante dos animais sofre ao vê-los sendo maltratados, porém não posso ter essa postura quando um bem maior, que é a vida humana, está em jogo constante”. Por isso, Sören entende que seria válido, e inclusive seria favorável, que criminosos reincidentes, em crimes bárbaros, por exemplo, podessem ter suas penas atenuadas se participassem de pesquisas primárias. “como estudos de fase pré-clínica e estudos de fase I. É uma ideia que poderia ser aplicada e oferecida a este tipo de ser humano que somente destrói a sociedade, mas é uma opinião muito pessoal e polêmica”, admite.

Voluntária é “totalmente contra os testes”

Se entre profissionais da área da saúde há dúvidas, o mesmo não ocorre em torno dos voluntários que atuam na causa animal. Um exemplo é a engajada Waldivia Toledo, a quem muitos cachoeirenses recorrem quase que diariamente encaminhando denúncias de maus tratos a animais.

Waldivia afirma que é “totalmente contra os testes”. Ela vai ainda mais adiante e comenta que está fazendo campanha para que os cidadãos deixem de comprar produtos das marcas que ainda fazem testes em animais. “Tenho uma filha que reside em Munique, na Alemanha, onde não é mais permitido testar cosméticos nos bichos. Inclusive enviei para ela algumas marcas que não são as que são testadas em animais”, disse. “E também, nada garante que um teste em animal terá o mesmo resultado numa pessoa, alguns especialistas afirmam isso, do que tenho lido sobre o assunto. Ninguém vai me convencer disso (dos testes com os bichos). 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Heróis cachoeirenses dos quadrinhos mostram superpoderes na capital





Desenhistas Jader Corrêa e Matias Streb participam do evento Mutação, especial para fãs de quadrinhos, na Feira do Livro de Porto Alegre

Por Vinícius Severo, reportagem publicada no jornal O Correio












Dois desenhistas cachoeirenses vão figurar na Feira do Livro de Porto Alegre, no próximo dia 2 de novembro. Em um espaço voltado especialmente, na Casa do Pensamento, junto ao Cais do Porto, Matias Streb, 27, e Jader Corrêa, 40, chargista do jornal O Correio, estarão na oitava edição do Mutação, um encontro de desenhistas e vão falar sobre sua experiência nos quadrinhos e sobre seu trabalho com as vendas de sketch cards para empresas de entretenimento como a Marvel e DC Comics, conhecidas por lançar os principais super-heróis do chamado “comics americano”.
Desenhistas desde pequenos, Jader inclusive brinca com a arte dizendo como enveredou para o caminho. “Na verdade, todo mundo nasce desenhando. O desenhista somente continua fazendo isso”, comentou. Formado em Artes, Jader lançou juntamente com Matias e Carlos Francisco Moraes, também colunista em O Correio, uma revista própria, Alexandria, que pode ser encontrada na Revistaria Nascente.
TRABALHOS – Hoje, os dois atuam com a venda de sketch cards, pequenos cartões de super-heróis, para os Estados Unidos, possibilidade que surgiu após passarem pelo curso da Dinamo Studio, de Porto Alegre. São de 50 a 150 cards em cada remessa, trabalho que leva de dois a três meses para ser concluído, feitos com aquarela e canetinha.

Heróis de bengala
Se for levado em consideração a questão histórica, a maioria dos heróis que conhecemos dos quadrinhos e que acabam invadindo as telas do cinema, todos eles seriam idosos hoje. Os primeiros a fazer sucesso entre os fãs foram o Superman, Batman e a Mulher Maravilha, ainda no final da década de 1930. Estes são os chamados heróis da age of gold (era de ouro).
Após a segunda guerra mundial, começaram a surgir personagens como o Lanterna Verde e Flash, além de começar a ser formada a Liga da Justiça. Ainda entre a década de 1940 e 1960, surgiria o Capitão América. Jader explica que um dos heróis dos quadrinhos mais recente a ficar conhecido foi Wolverine, o mutante das garras afiadas, na década de 70.


OFICINAS
O desenhista Matias Streb dá oficinas de desenho gratuitas junto ao Círculo Operário Cachoeirense. O mesmo trabalho é desenvolvido no programa Mais Educação, da Escola Angelina Salzano Vieira da Cunha.








CURTIU
Para quem quiser encomendar quadrinhos, pôsteres ou contratar os desenhistas os contatos são matiasstreb@gmail.com e alexandriaquadrinhos@gmail.com.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O fim do ano colorado

O empate que culminou com a eliminação colorada na noite de hoje, contra o Atlético Paranaense, encerra o ano do Internacional. Outro ano sem um título de expressão, tornando nula a piada contra a década azul sem títulos. O jogo foi de muita marcação e o que se viu foi um Inter sem criatividade técnica e tática. Insistir em jogar com um centroavante que consegue ser pior que jogador varzeano, como se transformou Leandro Damião, é a nítida falta de trabalho. Parece uma heresia, mas ninguém cogita a hipótese de jogar com homens de movimentação na frente. Caio era o mais próximo de um centroavante de qualidade no Inter e teve poucas chances, nem foi colocado na partida. Otavinho, o craque que se salvou no ano, foi tirado no intervalo. Era o único capaz de fazer algo diferente. Dalessandro foi omisso, o que vem ocorrendo com alguma frequência desde a saída de Dunga. Mas não é por responsabilidade dos jogadores apenas a tragédia vermelha.
Há algum tempo, o Inter se tornou pequeno e comemorou empates contra seu maior adversário. Não pode ser assim. Nunca. Pior é que existe torcedor iludido que acha grande coisa não perder. Não se vence campeonato empatando...

Quando poderia ter vendido Damião, no auge de seu bom momento, a direção do Inter preferiu vender Oscar, hoje um jogador incontestável na Seleção Brasileira. Achou, em sua base, um substituto à altura, também vendido, Fred.
Vendeu o melhor zagueiro jovem que havia no Beira Rio, Moledo, e ficou com veteranos sem velocidade e apostas que não deram resposta positiva nunca.
O time é dependente de Dalessandro. Excelente jogador, se doa, mas sem ele, é preciso haver um padrão de desempenho.
Jogadores que deixaram o Inter se destacam noutros times. Walter, o gordinho goleador, Ricardo Goulart, um baita jogador que é cabeça tática no Cruzeiro que vencerá o Brasileirão, Gilberto, goleador na Lusa...
O time colorado precisa ser reinventado. Em peças, em tática, em ambição. E é preciso uma mudança de comando profunda. O torcedor inteligente precisa pensar assim. O pior tipo de torcedor é o fanático burro que ignora o fracasso. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Seu jeito verão

Era verão, e nessa época do ano é mais fácil se apaixonar. Não foi por causa do calor, foram os cabelos molhados. E o jeito que ela chegou, não, não. O jeito que ela olhou. E também a forma como deu oi, e chegou abraçando, e seus cabelos molhados encostaram em meu rosto, e pude sentir um perfume. Tentei adivinhar que xampu seria aquele, com cheiro doce.

Era verão, e nessa época do ano a gente costuma se apaixonar a cada mergulho no mar. E quando sai debaixo d’água, com gosto de sal na boca, e olha para o lado, procurando, mas ela não está ali. Há alguém abanando na beira do mar. Os cabelos estão soltos, ao vento, um óculos escuro esconde um sorriso de saudade, um sorriso delicado. Tentei adivinhar o que a faria sorrir, daquele jeito meigo.

Era verão, e nessa época do ano a gente gasta mais energia. E foi por isso que ela me fazia correr todas as manhãs no calçadão da cidade. Olhar vitrines, admirando paisagens. E foi o jeito que ela falou, não, não. Foi o jeito que me chamou, quando estava entediado. Foi como ela disse, de um jeito delicado, “ei, cara, vamos tomar um trago”. Acho que estava apaixonado, porque era verão. Tentei adivinhar por que.


Era verão, e todo mundo busca uma sombra para se refrescar. Só lembro mesmo de seu cabelo molhado, de como ela os segurava, de punho fechado, segurando uma espécie de escova, retirando o excesso de água, e de como torcia os cabelos, que pingavam. Era como se meu coração suasse. E eu precisava dizer algo. Era algo que ela fazia, não, não. Era algo que provocava. Porque era verão, porque era ela. Porque eu estava completamente alucinado. 

Era verão, e eu estava perdido no tempo. Queria voltar as horas, queria mais um momento. Queria um dia quente com ela, mas tinha receio de levar um gelo. Queria um lance de verão, algo corriqueiro. Queria ficar ao seu lado, ao menos no mês de janeiro. Queria passar o fim de tarde ao seu lado, ver o sol se mandando, ver seu bronzeado. Queria entender o que sentia, queria ser seu namorado. E no dia seguinte seria inverno, mas não importava. Seria verão para sempre, com ela ao meu lado. 

domingo, 20 de outubro de 2013

Grenal de encher os olhos - 2 a 2 no Centenário

Por Vinícius Severo, para o jornal O Correio
 

Pegado como todo Grenal, com muita marcação de lado a lado. Mas com boas jogadas, infiltrações, tabelas em velocidade e quatro gols, algo pouco comum para um clássico normalmente cercado de reclamações e lances polêmicos. Foi um belo Grenal para os fãs de futebol, jogo disputado, viradas de jogo e chances perdidas dos dois lados, no Centenário, em Caxias do Sul. O placar, um 2 a 2, não foi ruim nem para Grêmio, nem para Internacional, já que naturalmente quem perde o clássico leva bom tempo para se recuperar.
O desenho do jogo começou a se desenhar cedo, com o Internacional saindo na frente em chute de fora da área de Willians, no canto do goleiro Dida. A bola foi roubada no ataque pelo meia atacante Otavinho, que abriu a jogada para o chute certeiro. Foi o melhor início que o time de Clemer poderia imaginar. A partir daí, o jogo começou a ser dominado pelo Grêmio. A primeira chegada gremista não assustou, chute de longe de Vargas, no meio do gol, para defesa de Muriel aos sete minutos. Em jogadas de bola parada e fazendo marcação adiantada, o tricolor passou a encurralar o time do Inter, que não conseguia sair da marcação. Apesar do domínio de território, o time de Renato Portaluppi não conseguia invadir a área do Inter. Quando conseguiu, o passe para Alex Telles acabou sendo forte demais, dando tempo para a saída do goleiro colorado.

GOL CONTRA – O centroavante colorado Leandro Damião teve a chance de ampliar, mas não alcançou cruzamento quando estava na cara do goleiro Dida. Logo na jogada seguinte, a chance mais clara até então para o Grêmio. Uma falta na risca da grande área sobre o volante Ramiro. A cobrança ficou na barreira. O empate do Grêmio veio em um lance infeliz do zagueiro Jackson, ele que vinha dando segurança defensiva ao time colorado nas últimas partidas. A bola era fácil, vinha alta e ele era perseguido a um passo por Barcos. Na hora de tocar a bola, ele acabou jogando contra o próprio gol, encobrindo o goleiro. No final do primeiro tempo, Dalessandro soltou um foguete em cobrança de falta, e a bola raspou a trave de Dida.


Times insistiram na segunda etapa

O Internacional voltou com uma postura mais ofensiva no segundo tempo e quase conseguiu seu gol em falha do zagueiro Saimon. Otávio deu passe de calcanhar para Dalessandro dentro da pequena área, mas a zaga conseguiu abafar antes do chute do argentino. O colorado seguia pressionando. Em um escanteio, o Grêmio saiu em velocidade, Kleber teve tempo na frente do lateral Gabriel para organizar a jogada, tabelar com Ramiro e encontrar Vargas entrando em velocidade. O chileno driblou o goleiro colorado e tocou para o gol vazio no lance mais plástico do jogo.
O gol abalou a equipe do Internacional, que passou a errar lances fáceis. Por muito pouco, após cobrança de falta, Souza não ampliou, testando a bola que passou rente ao gol vermelho. Clemer notou que seu time estava mal e lançou o uruguaio Forlán no lugar de Jorge Henrique. Em duas jogadas, ele conseguiu vitória pessoal sobre os marcadores, abrindo espaço para quem vinha de trás. O gol de empate colorado saiu assim. Numa boa trama pelo meio de ataque, a bola sobrou para Gabriel, que viu Dalessandro invadindo a área.

PÊNALTI – O argentino acabou derrubado, falta clara assinalada pelo árbitro que sequer foi protestada pelos jogadores gremistas. O próprio capitão do Inter bateu e fez o 2 a 2, aos 15 minutos. Dida se esticou, mas não alcançou a bola. Os dois times seguiam atacando e contragolpeando. Uma boa chance gremista foi aos 34, com Kleber obrigando Muriel a fazer boa defesa. Quatro minutos depois, Dida foi no cantinho buscar chute de Gabriel. Aos 46, sozinho na pequena área, Souza cabeceou para fora a melhor chance gremista de vencer a partida. O Inter ainda tentou dar o troco na sequência, mas não havia mais tempo.


FICHA TÉCNICA
INTER 2
Muriel; Gabriel, Jackson, Juan e Kleber; João Afonso, Willians, Otávio (Caio, 28"/2ºT), D'Alessandro e Jorge Henrique (Forlán, 12"/2ºT); Leandro Damião (Rafael Moura, 38"/2ºT). Técnico: Clemer

GRÊMIO 2
Dida; Pará, Werley (Saimon/intervalo), Bressan e Alex Telles; Souza, Riveros e Ramiro; Vargas (Wendell, 45"/2ºT), Kleber e Barcos (Yuri Mamute, 40"/2ºT). Técnico: Renato Portaluppi



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Cachoeira tem noite para todas as tribos

Da MPB, passando pelo pop, pagode até o rock

Por Vinícius Severo, reportagem publicada no jornal O Correio

A noite cachoeirense ganhou mais opções em barzinhos com música ao vivo nos últimos anos, criando uma cena cultural diferenciada e abrindo espaço para todos os estilos musicais se apresentarem. Tanto que, após muito tempo sem uma casa para o gênero, o rock tem seu ponto de encontro na cidade, no bar Porto 21 Pub. A variedade de opções beneficia não somente a população que curte o happy hour com um bom som de fundo aos finais de semana, mas abre as portas também para o trabalho de músicos cachoeirenses.
Apesar de terem espaço para o trabalho, os artistas ainda não são valorizados em sua terra-natal, tanto que a maioria dos profissionais que trabalha na noite cachoeirense precisa ter outra profissão para garantir sua renda. Há uma cultura de não valorização dos músicos que parte não diretamente dos proprietários de estabelecimentos, mas até da própria população, que em parte se recusa a pagar o couvert artístico cobrado pelas casas. Os valores variam de R$ 2,00 a R$ 5,00, dependendo do estabelecimento, mas muitas vezes não é pago – prejudicando o artista que tem inúmeros custos para se apresentar.
ROTEIRO DA NOITE – Aos finais de semana, os principais lugares em que há música ao vivo são em pontos como os barzinhos Bangalô e Bora Bora, os restaurantes El Fogón e Supremo, a pizzaria Ponto de Cinema, além do próprio Porto 21, todos eles concentrados na região central da cidade. Em comum, a mistura de ambientes agradáveis com gastronomia e petiscaria.

Diógenes, música pop na noite cachoeirense

O jornal O Correio conversou com dois músicos que seguidamente se apresentam na cidade. Diógenes Begnis, 35 anos, trabalha em um escritório durante o dia, e sua vida artística nos finais de semana é dividida com as apresentações ao estilo pop. Músico desde sempre, como gosta de dizer, ele começou a tocar à noite na década de 1990, mas comenta que intensificou as apresentações há cerca de quatro anos. Sobre a cena musical da cidade, ele afirma. “Melhorou em local para se apresentar”, diz, ele que roda por praticamente todos os pontos anteriormente citados. Diógenes lamenta que ainda alguns cachoeirenses não tenham a visão sobre o trabalho do músico, citando que é bastante comum alguns clientes se recusarem a contribuir com o couvért artístico.
“É praticamente impossível viver da música em Cachoeira. No inverno, diminui muito o público e o ganho varia de acordo com o valor cobrado pelo estabelecimento. O que muitos não percebem é que acontece uma troca entre o bar e o músico. Eles nos cedem o ambiente para tocar, e nós fazemos as pessoas ficarem ali, tanto que é comum os bares esvaziarem quando acaba a música ao vivo”, comenta.
CUSTOS – Muitos não têm noção dos custos que um músico tem para trabalhar, situação também comentada por ele. “Um violão bom custa entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. Só encordoamento sai por cerca de R$ 30,00, o que é considerável para quem faz shows todos os finais de semana”, explica. Além disso, há custos com som, microfone e cabos. Ou seja, o músico fez um investimento para levar entretenimento ao público, que às vezes acaba não pagando pelo que recebe. A falta de valorização entristece Diógenes. Ele inclusive lamenta uma apresentação recente, quando recebeu um bilhete em uma comanda. Estava escrito: “não gostei do estilo das músicas”. Quem não se chatearia?

Daniel Gomes, filho de peixe roqueiro é

Com passagem como fotógrafo do jornal O Correio e hoje atuando no Instituto Geral de Perícias, o músico Daniel Gomes, 37 anos, começou a “carreira” logo cedo, na infância. A paixão pelo som veio de casa, já que foi o pai quem o ensinou a tocar violão, quando ele ainda tinha 12 anos. Entre o trabalho e a estadia em Cachoeira, Daniel encontrou no Porto 21 um local para apresentar a sua música, no projeto que tem em parceria com Diego Alemão, um som acústico rock and roll, com sons de bandas clássicas.
Sobre os espaços para se apresentar, até pelo estilo musical, Daniel tem mais dificuldades. “A música sempre foi complicada em espaço, é difícil ver uma melhora, só mudou de endereço. O rock agora conseguiu as portas abertas. Cachoeira nunca teve um bar de rock, apesar do público ser fiel porque o rock não é um modismo”, comenta.
“Cachoeira não aprendeu a valorizar a arte, a música. As pessoas vão ao cinema, pagam o ingresso e não reclamam”, disse, comparando com a valorização aos músicos. Daniel diz conhecer a cena em cidades universitárias como Santa Cruz do Sul e Santa Maria, e inclusive comenta que nestes municípios há artistas que conseguem tirar uma boa renda somente com as apresentações. Até mesmo por isso, ele vê com esperança que a transformação de Cachoeira em polo universitário possa ajudar a cena cultural a ter um salto de qualidade.

Aposta no rock dá certo

Sócia-proprietária do Porto 21 Pub, Ana Eliza Domingues comemora o resultado da aposta no estilo que ela e o marido curtem e que vem dando certo na cidade. O espaço abre nas quartas, sextas e sábados e nos últimos meses tem apostado em bandas e nomes do rock gaúcho, como Alemão Ronaldo e Tchê Gomes Trio, que estão assegurando a lotação da casa. Além da música, petiscaria como iscas de carne, frango e peixe, fritas e sanduíche aberto são oferecidos aos clientes. Dependendo do show, comenta Ana, são cobrados ou não ingressos. A cobrança ocorre normalmente quando há uma contratação prévia dos artistas, caso contrário os músicos são pagos pelo couvert.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Estragando planos

O plano era fazer festa, aproveitar a excursão com uma galera para tomar um trago, conhecer outros lugares. Mas bastou entrar no ônibus para vê-la mexendo no cabelo e tudo o que havia sido pensado ser esquecido. Olhou fixamente para a garota por algo em torno de 12 segundos, tempo suficiente para o amigo que vinha atrás protestar. "Vamos, cara, quero abrir uma latinha". 

Ela notou o interesse, claro, mas não demonstrou. Os óculos escuros ajudavam muito na estratégia de não revelar seu interesse. Ficou admirada com os olhares e imaginou que ele sentaria próximo dela. O plano então era fazer algo para se aproximar da garota. Aproveitou a presença dos amigos e bebeu umas cervejas para tomar coragem. A viagem seguia. As conversas ficavam mais animadas. Ele tentava reconhecer em meio as vozes qual era a dela. Foi quando ouviu, "ah, eu só quero fugir de casa por uns dias". E teve certeza que era ela. "Que coincidência, nem sei quem falou, mas esse também era minha ideia", disse, com uma entonação forte, para que ela pudesse ouvir. 
Ela virou-se, ficou de pé sobre o banco. "Ah, era? Legal", e voltou a sentar-se. Ele tinha a senha, mas não se aproximou. Só respondeu: "era sim". Mais uma hora de viagem, excursão para lugares distantes com quase um dia de estrada sempre é cansativa. Os amigos se divertiam, falavam de futebol, improvisavam jogos de cartas. As garotas falavam de roupas e algumas dormiam. 
Ela levantou para pegar uma roupa e no exato momento o ônibus dá uma freada forte. Ela se desequilibra e quase cai. Todos dão risada, somente ele pergunta se está tudo bem. "Tá, sim", ela responde, constrangida com as gargalhadas. Três horas se passaram adiante, e todo mundo adormeceu no meio tempo. Houve uma parada para o lanche. 
A garota estava na frente dele na fila, escolhendo um sanduíche. Quando ela pega o produto, faz um sinal e convida ele a sentar ao seu lado. 
"Então, seu plano ERA fugir. Desistiu por quê?". 
"Porque depois que entrei no ônibus, tudo que eu queria era sentar num lugar e ficar conversando contigo". 

E fugiram.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Naquela curva

Foi em um final de semana que virei estatística. Alguém tinha bebido, e dei o azar de cruzar o caminho dele. Eu tinha muito a fazer ainda, mas morri naquela curva. Morri sem culpa, porque tentei desviar, lutaram para me salvar. Fui mantido vivo em outras pessoas, partes de mim continuam por aí, literalmente. Continuei vivo, enfim.

Deixei marcas na pista, virei o assunto do dia. Colocaram minha foto no jornal e contaram parte da minha história. Não confirmaram, mas eu havia bebido. Bebi porque responsabilidade não rimava com minha personalidade, porque aquele dia queria me divertir. Mas na hora de voltar, não sei o que rolou. Deixei saudade entre pessoas que amava, tem gente que não aceita o que fiz, mas fui embora sozinho, ao menos isso. É o que me conforta.

Meus filhos foram acordados de madrugada com a notícia. Trabalhei a semana toda para vê-los, corri demais, fiquei dois dias sem dormir. E justo onde não podia, peguei no sono. Foi só por um segundo, agora não posso voltar. E machuca saber o quanto eles irão chorar. Minha presença, ainda que rara, era comemorada. Agora, sou só uma lembrança, uma tristeza. Morri na estrada para cumprir o horário, para voltar para casa e abraçar meus filhos, morri sem conseguir o carinho deles pela última vez.

Sempre gostei de correr, o pessoal todo me conhecia por isso. Turbinado, rebaixado, voava no asfalto. Naquele feriado de Páscoa, meia cidade estava me vendo quando parti. Minha última corrida, nem acredito que perdi. Mas não foi culpa minha, o pneu estourou, dizem que voei sobre o guard rail, não sei, meu mundo acabou. Os policiais me encontraram ainda vivo, prenderam alguns dos meus amigos. Não foi culpa deles, entrei naquele carro sozinho. Mas queria voltar, fazer diferente, tentar de novo. Se fosse um sonho, eu acordava. O sono é profundo demais, na beira do caixão, minha mãe chorava.

Nunca tive o cuidado de andar na faixa, diziam que era mais seguro. Mas não imaginei que me pegariam na calçada. Minha garota estava comigo, acabou traumatizada. Demorou anos para superar a dor da minha ida, eu ainda não sei como não senti nada. Foi tudo rápido demais, não tive como me defender. Eu era só um cara cheio de planos voltando da faculdade. Meus cadernos ficaram pelo chão, as lições que aprendi na classe de direito. Quem me matou não tinha habilitação, estava suspensa. A Justiça não achou nada demais. Viraram minha página, me tornei uma vítima comum de um mundo trágico.

Somos uma tragédia, vítimas de nós mesmos. De carros velozes demais, de irresponsáveis que deveriam estar presos. Somos o passado toda semana, morremos a cada feriado. Só o que fica de nós é história, contada por quem esteve do nosso lado. Sem contar nas feridas, nas pernas quebradas, nos danos irreversíveis, as cadeiras de rodas. Todos os dias, morremos, cada de um de nós, nas estradas. Não estamos fazendo nada para interromper isso, mesmo quando perdemos um conhecido, um amigo. Outro dia, nosso vizinho, daqui a pouco um irmão, um pai, um filho. Uma excursão sem volta. Campanhas publicitárias focadas em dinheiro não são solução, não vão trazer nossas vidas de volta nem evitar que outras se vão. Ou tiramos o pé do acelerador agora, ou não haverá amanhã.

Pelo fim da violência do trânsito, que dilacera milhares de famílias brasileiras todos os anos.