segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Velho amigo, parceiro de martelinho.

Foi em um boteco que aprendi muitas coisas esse ano e agora percebo que o fim de ano vai ser dolorido pra mim, mais do que o normal, já que dezembro não é um mês de boas lembranças. Um senhor, que tomava uma cachaça, me chamou para conversar. "Tô trabalhando, tio, agora não posso", tentei, estranhando ver um cara bem trajado num lugar como aquele, aqui perto de casa. Que nada, o homem insistiu e me convenceu. "E quando tu estiveres morrendo, como eu, vítima de câncer agora, não vai querer que alguém te dê pelo menos atenção?". Como não parar e ouvir? Aceitei a cachaça, um martelinho que desceu queimando. 
O velho começou a me contar sobre sua vida e o trabalho, das coisas que conquistou. Me mostrou o carro, no lado de fora. Um Vectra GTX, bonitaço. "Fruto de anos de trabalho e dedicação que não sei pra que valeram", disse. "Mas é um belo carro, tio", comentei. Falou que era meu leitor assíduo, que admirava meu estilo e me deu os parabéns pelos programas de rádio. "Tu e o teu amigo, o Carlos Dickow Júnior, me divertem todos os dias à tarde, escuto vocês pela internet e passei a assinar o jornal que tu estás agora", comentou. Agora, no fim da vida, ele percebeu que nunca havia cumprido nem metade das promessas que fizera na adolescência, de aproveitar a vida, de fazer coisas das quais se orgulhasse. "Me dediquei a uma profissão para viver fazendo de conta", falou. Eu não entendia se aquilo era efeito da cachaça...
"Olha, guri, essa deve ser a quarta vez, desde os meus 18 anos, que bebo uma caninha. Não tenho esse costume embora eu lembre que isso era muito bacana com meus amigos, de faculdade. Bebíamos e jogávamos cartas... Eu preservei minha saúde esse tempo todo pra quê, esqueci meus amigos". O velho começou a me contar histórias de sua vida, de seus amores e coisas da política, porque na cabeça dele eu entendo do assunto. Me pediu que escrevesse qualquer coisa, em qualquer lugar sobre a conversa. E eu venho adiando isso faz alguns meses. Agora, que todo mundo faz promessas e comemora o ano acabando, me pareceu um momento interessante. Talvez não seja. Não sei. Na minha ignorância, falei para ele que ainda era tempo de viver, de fazer coisas novas e se divertir. Convidei a participar do programa que ele elogiou, pra rir e brincar com a gente. Soube hoje que meu companheiro de cachaças faleceu. Os familiares, lá de Candelária, me telefonaram dizendo que entre os pedidos que fez, há alguns dias, era que me agradecessem, mas não poderia ir no programa. "O seu Vasco disse que foi uma honra conversar contigo e desejou sucesso na sua vida. Pediu que o senhor não esquecesse da promessa de escrever algo sobre uma conversa que tiveram. E mandou para o senhor alguns recortes de jornais antigos que ele colecionava, reportagens históricas que gostaria que o senhor lesse". 
Último dia do ano e eu comecei chorando pela amizade que fiz em um boteco onde fiquei mais de hora conversando com um amigo com quem troquei telefone e prometi escrever sobre nosso papo que envolveu solidariedade, a escravidão do trabalho e até mulheres. Conversar com pessoas mais velhas ensina mais que ler um livro. Perdi um amigo, por mais que isso possa parecer exagerado já que só vi ele uma vez. Mas o fato de ele pedir pra uma das filhas me telefonar, e dizer que fui um dos amigos que ele citou dias antes de descansar mexeu comigo. Vou cumprir a minha promessa de continuar me dedicando à vida buscando a felicidade, como o senhor me pediu... Adeus, velho...


sábado, 29 de dezembro de 2012

A inocência perdida

Não, este artigo não é sobre a virgindade. Talvez possa ser. A perda da inocência não deixa de ser, de alguma forma figurativa, a perda da castidade, só que moral. Vivo, respiro e acompanho política há exatos sete anos. Ainda lembro o dia que meu antigo editor, o diretor do Jornal do Povo Liberato Dios, decidiu me colocar na cobertura da Câmara Municipal de Vereadores. “Tu vais assumir a Câmara. Eu quero isso”, disse ele. E eu perdi a minha inocência, aos poucos. Lembro de discutir de dedo em riste com vereador, de uma tentativa de humilhação de uma parlamentar, que disse que eu precisava “trabalhar de dia para me alimentar à noite” – o que é verdade, diga-se de passagem (isso quando dá tempo de se alimentar com a correria do trabalho). 

Eu tenho um perfil provocador quando o assunto é política. Beira o desaforo algumas vezes a forma como provoco os entrevistados sobre as negociatas políticas. Porque eu sei como elas são feitas. Eu sei que atalhos tomar para obter informação, a experiência nos dá essa possibilidade. Minha maior frustração é nunca ter conseguido provar nada do que normalmente se ouve em torno, por exemplo, dos bastidores de uma eleição para a Câmara de Vereadores. Nesta sexta-feira, me relataram que mais uma vez a negociata por cargos estava rolando à solta para cooptar um voto na eleição da próxima terça. Normal.

Haveria, até mesmo, uma cifra sendo negociada por apenas um voto. O valor que especularam seria de R$ 10 mil. Penso, que se isso for realmente verdade como me contam fontes fiéis de cinco anos, nós temos corruptos mais baratos que os de Brasília. Repito, frustra-me o fato de jamais conseguir provar algo assim. Desde que entrei para a política, sei que não há inocentes nesse mundo, muito menos entre empresários, comerciantes, jornalistas, enfim... Enquanto escrevemos uma reportagem, temos a obrigação ética de descrever os discursos oficiais dos engravatados do poder. Eu faço isso, procuro sempre pincelar as frases exatamente. Não quero deixar nenhum motivo para me condenarem no dia seguinte.

No exercício diário da profissão, a gente erra e precisa ter a humildade de reconhecer quando se equivoca. E eu sei bem a dificuldade que tenho em ser humilde, embora a todo final de mês esteja contando as moedas para saldar as dívidas. Enfim, buscar a verdade dos fatos é cansativo e hoje ainda há jornalistas como Vincent Glass, um americano que inventava reportagens em uma famosa revista política daquele país. A fraude foi descoberta pela Forbes, virou filme – “O preço de uma verdade”. E já que falei o termo verdade, permitam-me um desabafo: não há nada mais frustrante quando você confia em uma fonte e a flagra na mentira. Fica difícil crer novamente. Mas ninguém é inocente. Somos todos culpados, principalmente quando nos omitimos. Não vou provar nada do que especulei, eu sei, talvez seja irresponsabilidade. No entanto, não podia deixar esse sentimento passar batido. 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Sem garçonetes para se apaixonar

É difícil se apaixonar em Cachoeira do Sul. Vocês já notaram que nossa cidade não possui garçonetes? Pelo menos não muitas atendentes bonitas em barzinhos. Para piorar, quem nos serve a cerveja gelada são homens. Dá para acreditar? Será que as mulheres não se interessam por este emprego ou é um problema do nosso mercado? Só entro no assunto porque acredito que os estabelecimentos teriam maior retorno financeiro se as atendentes fossem lindas garotas (e a cidade está cheia de gurias bonitas desempregadas). Afirmo, estou deixando algumas vezes de curtir a boemia, e olha que a noite cachoeirense está forte, sinal de que a economia vai bem.

Garanto que ao menos eu e meus amigos iríamos gastar mais nos bares se fôssemos atendidos por meninas lindas. “Olá, querida, tudo bem? Pode me trazer mais uma cerveja? Obrigado”. Mais ou menos assim. Depois do oitavo drinque, viria a coragem e pediríamos assim: “Oi, meu benzinho. Que tal me dar o número do seu telefone?”. E elas anotariam na notinha, se já tivéssemos consumido bastante. É claro que nossas companheiras poderiam não gostar disso e provocar um barraco – talvez esse seja um ponto negativo.

Nós homens gostamos de nos apaixonar assim, saindo na noite e curtindo um sorriso. Fico até imaginando uma garçonete, morena, olhos verdes, cabelo preso e ela desfilando pelo barzinho com a minha cerveja nas mãos, unhas perfeitamente decoradas. Ou quem sabe mulata, pode ser loira de olhos azuis, ou ruiva com lindas sardinhas... Eu e meus amigos poderíamos falar de seus atributos físicos e disputar a atenção dela enquanto nos servisse. Fazendo piadinhas sem graça e machistas toda vez que a chamássemos.

Eu não entendo por que os barzinhos de Cachoeira não têm garçonetes. Queremos mulheres já, e bonitas, para nos atender. Mulheres simpáticas, com sorriso nos rostos. Que coloquem homens nos caixas dos mercados e mulheres nos barzinhos, não me importo. E que elas sejam valorizadas, sim! Que o salário seja bom, porque vai dar retorno. Vamos consumir mais, no bom sentido da palavra.

Perdoem-me se pareço um cafajeste, mas alguns homens ainda conservam o romantismo, essa busca pelo flerte indiscriminado, ainda que sejamos comprometidos. Nós não prestamos - como elas insistem em dizer. Talvez elas tenham razão. Só estou defendendo nosso desejo de sermos atendidos por mulheres nos bares, simples assim. E quem sabe, de nos apaixonarmos por uma garçonete, ficar até tarde no barzinho e dar carona para ela no final do expediente. Uns beijos dentro do carro e perguntar para ela mais ou menos assim: “Como quer que te acorde? Te ligo, ou te cutuco?”. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Utopias


Desde que entrei nesse mundo apaixonante do jornalismo, há sete anos fui atingido por uma utopia de ver nossa Cachoeira do Sul um lugar melhor. Até para não precisar ir embora daqui, como muitos tiveram de fazer. Eu gosto daqui, fico irritado sempre que alguém reclama da cidade. Ainda alimento esse sentimento de ver Cachoeira crescer, apesar de ter acompanhado tantas iniciativas que não frutificaram e outras que deram certo. Lembro de ter abraçado, ainda que profissionalmente, o pleito pela UFSM. Até me orgulho por num momento de inspiração ter criado o slogan “VEM, UFSM”.
Eu tinha também uma utopia especial. Desde pequeno, quando ainda tinha a presença do meu pai em minha vida, gostava de ler e escrever. Essa paixão só cresceu com o passar dos anos. Sempre gosto de repetir que ainda não cursei nenhuma faculdade. É um projeto, assim que a vida e a correria do trabalho permitirem. Costumo comentar que sou formado nas ruas, com pós-graduação em política, já que acompanhei duas eleições e neste tempo me orgulho de ter conseguido a primeira entrevista com os últimos prefeitos eleitos.
Num ano ao lado do Robson Neves, um dos inúmeros amigos que deixei no Jornal do Povo, onde aprendi as primeiras lições sobre o jornalismo, e mais recentemente ao lado do Marcos Leal, colega de Sistema Fandango de Comunicação. Aqui também venho fazendo muitos amigos. É uma irmandade, deve ser por isso que o Pedrão chama a todos de “meu irmão”. Esse clima faz bem. Ao longo de minha vida, fui percebendo que o mais importante não é acumular riquezas, reconhecimento, mas amigos. Daquele tipo que você não precisa bajular.
Eu acho que deveria me apresentar nessa primeira coluna, mas prefiro falar destas utopias. Porque em todo esse tempo escrevendo reportagens, buscando informações, entrevistando autoridades políticas, empresariais, lideranças de bairros, enfim, nunca havia atingido um sonho. Enquanto escrevo isso, os colegas de redação não percebem que me emociono enquanto digito esse texto...

Porque este será o meu primeiro texto como colunista fixo de um jornal. E só eu sei há quanto tempo almejo isso. Pode parecer algo pequeno, sem importância. Mas a emoção transborda porque sei que em algum lugar meu coroa deve estar orgulhoso de mim e também minha mãe, com quem estupidamente muitas vezes acabo discutindo. O amor faz a gente brigar também, não é? (quero falar disso em outros momentos aqui).
Secaram as lágrimas, não desceram pelo rosto. Acredito que se conseguimos, cada um de nós realizar nossos sonhos, pequenos ou gigantes, também podemos, por que não, ajudar a nossa comunidade. Tento fazer isso através de minhas palestras, onde diversas vezes distribuí alguns de meus livros. É uma utopia de tentar fazer por mais jovens o que a leitura fez por mim, me deu um trabalho e condições de agora estar aqui, conversando com vocês. Espero que este espaço seja para vocês tão bom quanto o SFC vem sendo para mim. Que sirva para discutir nossa cidade, para refletir sobre a vida e suas surpresas e para fazer novos amigos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sem nexo, só amor, nada de sexo

Talvez a gente precise, eu não sei bem, sei lá. Esse lance de colocar o amor na vida das pessoas, ou de ter isso de forma permanente. Complicado, não?! O fato é que amar é importante e todas essas coisas complicadas aí nos fazem temer esse sentimento. Não existe relação sem temeridades, o que será que vai acontecer, será que está sendo bom, ela vai curtir, ele vai notar, to
do esse beabá da paixão. É como a primeira vez que tu se depara em um barranco, próximo do rio e tem medo de se atirar na água... E não imagina como é louco se atirar, e aí sente a brisa te puxar para a beirada. Respira fundo, provavelmente até fecha os olhos e vai. Não se trata de coragem, eu acho.

Só imagino que talvez o mundo precise de um pouco de fantasia e até de ilusão, porque o choque com a realidade às vezes é brochante. Nada tem nexo, e o amor, me perdoem, não dá certo sem sexo. Soa feio, talvez, porque quando se fala de amor não há certeza de nada. Por isso tantos "eu acho" e "talvez" nas linhas de cima. Não faz sentido compreender o amor, ou talvez faça. Teorias dos dois lados e quem vence a batalha? Mas e viver? Amar é fantasiar? Aliás, como a gente sabe que já amou? Não é como a virgindade que tem aquela questão do hímen feminino, que na real me parece uma criação machista da natureza, se você for parar e analisar a virgindade por outra posição (sem brincadeira). Li algo parecido sobre o hímen escrito pelo Verissimo, e resolvi fazer a minha versão. É inspiração, diferente de copiar, enfim.
Talvez a gente precise mesmo de um pouco de espaço e diálogo, para colocar as ideias no lugar. Mas não há lugar para dialogar quando se deseja amar? E ainda dizem que as mulheres são complicadas. É engraçado como é barbada dar pitaco na relação dos outros quando a gente não olha pra dentro e não percebe que está tudo uma bagunça. Não é? Como diz uma amiga, afinal não tem uma hora exata em que tu acorda e percebe que está amando. É uma construção, um tijolo de cada dia. Foda é quando vem um sacana e derruba os muros que a gente constrói em torno do coração.
Talvez o ideal não seja blindar os sentimentos, mas colocá-los sob forte exposição. Para ver se resistem, se a gente insiste, se o amor persiste. Embora não exista um momento certo, chega uma hora que faz falta e que nem o SMS funciona... Nada, e nada mesmo tem nexo, talvez alguém devesse ser sincero de vez em quando e confessar: "o que eu quero é mais do que sexo". Isso foi só pra rimar, só pra terminar, e quem já amou sabe como é difícil isso, de terminar. Eu acho, sei lá, talvez...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Mulheres despeitadas

Sei que as mulheres são difíceis de serem agradadas, tive algumas namoradas que me provaram isso ao longo dos anos. Sei lá se essa discussão aqui é uma novidade, mas parece haver uma insatisfação maior atualmente delas com seu próprio corpo. Vamos ser diretos, não é?! Não sou político para ficar enrolando. As mulheres hoje não estão contentes com seus seios. 
O drama das mulheres despeitadas é tamanho que hoje um de seus sonhos de consumo ao começar em um trampo é juntar grana suficiente para turbinar os mamilos. E sejamos mais sinceros ainda. Nós damos muita atenção aos seios na teoria, mas na prática não é bem assim. Vejamos, atrai a atenção, mas o que eles ganham de atenção durante o ato sexual não passa de algumas alisadas, lambidas e talvez uma introdução em casais mais sexualmente liberais. 
O que eu quero dizer com isso, além de confessar que sou um bagaceiro? Dar uma mensagem linda de que as pessoas, principalmente as mulheres, deveriam se aceitar como elas são. Ou o objetivo é que todas fiquem iguais? Será que elas não percebem que ao encher as peitolas de silicone estão ficando todas idênticas umas às outras? Até porque até onde eu sabia, mulher detesta ficar parecida com as demais. Basta ver a reação delas ao perceber que a fulana da empresa apareceu na festa com o mesmo vestido da liquidação que ela. 
O drama das mulheres despeitadas incendiou o mercado da cirurgia plástica, que embora não esteja mais tanto na moda como há alguns anos, ainda produz desejos nas meninas. Tem casos de adolescentes colocando e de crianças sonhando com isso. 
Ao mesmo tempo em que admito que acho lindo um corpo delineado e tudo mais, preciso fazer um desabafo que provavelmente vai ofender meia dúzia de turbinadas e de suas torcidas. Se vocês continuarem enchendo o corpo de lipo isso e lipo aquilo, e de silicone, vão ficar parecendo com travestis. É isso mesmo. Eu sei que vocês vão argumentar que não ficam belas para nós, mas para vocês próprias, mas quer saber, vocês são lindas. Não estraguem a essência da beleza de vocês. A menos que isso seja uma necessidade muito grande por um defeito físico. Sei lá, olhem ali no espelho e acreditem no cara que diz pra vocês que vocês são lindas sem a intenção de comer vocês. Um beijo!