quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Copeiro e com raça, Grêmio está na Libertadores

Não foi um jogo fácil, muito pelo contrário. O Grêmio foi superior, da mesma forma que havia sido na primeira partida no Equador. Arrastou a LDU, que teve como proposta de jogo fazer o tempo passar. Os jogadores de vermelho pareciam envergonhados em campo, não tinham nenhuma ambição ofensiva. A bola pune. 

O árbitro apareceu demais no jogo, deixou a partida correr demais - o que poderia ter feito a violência entrar nas quatro linhas. Ainda bem que não, pois estragaria um belo espetáculo. 

Dentre todas as afirmações da noite azul, uma é a que dá maiores esperanças ao time de Luxemburgo. Vargas é craque, veloz, liso e com raça. Não tem medo da trombada e conclui muito bem. Mais entrosado, vai incomodar os adversários. Outro nome, que cai nas graças da torcida, é o goleiro Grohe. Entrou na fogueira em Quito, tomou um gol, sem culpa no primeiro lance, e finaliza a partida com uma defesa de pênalti que garante a classificação. 

Luxemburgo precisa de material humano e de jogadas com capacidade para furar os bloqueios que terá em um campeonato como a Libertadores, copa mais peleada que qualquer outro torneio. 

A vitória veio graças a um chute de rara beleza, no ângulo, sem reação para qualquer goleiro. Essa é uma característica do jogador Elano, experiente e ousado durante toda a noite. Apesar de não ter a velocidade de Vargas, é técnico e fecha espaços no meio. Zé Roberto, que compõe o setor com ele, é um desses jogadores que fazem o futebol valer a pena. 

Nem tudo são rosas. Para ser campeão, o Grêmio precisa de grupo. Colocar a gurizada para jogar na Libertadores pode ser arriscado, mas no primeiro teste de fogo, se saíram bem. A vitória dessa noite não passa pela imortalidade, não era um jogo para ela entrar em campo. Mas o Grêmio venceu. Ponto 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Eu costumava ser romântico.

Lembro que num sábado o pai voltou para casa com uma garota de programa. Bêbado, pagou pela comida e não jantou. Como eu costumava ir à geladeira para ver sempre se tinha algo para devorar, acabei flagrando aquele monumento na cozinha. Ela vestia qualquer coisa extravagante e umas botas de canos compridos que parecia até ser uma das paquitas. Na época, a Xuxa ainda não era uma celebridade decadente. Não como parece hoje, enfim. 

Eu deveria ter ali uns 13, 14 anos. Ainda mal sabia o que eram aqueles filmes que passavam na sessão Privê, curiosamente o nome de um clube que frequentei há alguns anos. A garota de programa me perguntou se eu sabia dirigir, disse que era amiga do meu pai e queria ir embora. “Sei, sim”, respondi. E nem mencionei o fato de que era errado dirigir com a minha idade. Eu não conseguia pensar em nada além das botas que ela vestia. 

Em seguida, ela disse que poderia me dar um presente se a levasse para casa. Disse, com a maior safadeza do mundo, que gostava de guris mais novos. Estava chovendo aquele dia. Decidi me molhar. Ela largou a garrafinha d’água que havia pego na geladeira e veio em minha direção. Deve ter sido o meu primeiro beijo. Naquele momento, eu soube que não amava a namoradinha do colégio, que eu paquerava de longe com o olhar. Muito menos lembrava o nome da última menina a quem tinha me declarado. 

Minha cabeça somente pensava nas coxas fartas que minhas mãos lentamente começavam a apertar. Foi quando a garota passou sua língua nos meus ouvidos, provocando a revolta dos países baixos. Começava ali a primeira revolução sexual de minha vida. E eu costumava ser romântico, até ela abrir as minhas calças com a boca, retirando o botão lentamente. Uns 20 minutos, talvez menos depois eu a levava em casa, agora sem nenhuma curiosidade sobre suas botas. No dia seguinte, o pai pediu desculpas. “Não te trouxe janta ontem, desculpa, guri”.
“Que nada, pai. Comi tudo que tinha em casa”.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Corações feridos

Nossos corações foram feridos e estão sangrando. Não podem ser reanimados, muito menos substituídos. A dor que dilacera nossos corações é demasiadamente forte para que possamos suportar. E se nosso coração não for capaz de aguentar essa dor, como iremos continuar? Não sei responder. Pra dizer a verdade, nem sei se deveria escrever mais nada sobre isso. De alguma forma, é preciso olhar em frente. 

Todos nós perdemos alguém hoje, talvez até mesmo um pedaço de nós mesmos. Nada irá apagar de nossa lembrança este dia 27 de janeiro de 2013, o pior domingo de nossa história. 230 jovens foram mortos. No dia em que eu morrer, e encontrar essa garotada que Deus quis agora ao seu lado, quero ter certeza que aproveitei a minha vida e que me diverti. Pouco antes de nossos corações serem feridos, nossos amigos estavam se divertindo. Tento pensar nisso, mas não é a realidade.


Foram gritos de desespero, pedidos de socorro, últimos suspiros que agora ecoarão na eternidade da história. Os nossos corações foram feridos. A vida não será capaz de recuperá-los. Momentos como este, que nos provam a nossa fragilidade, provocam todo tipo de pensamento. De valorizar a vida a cada dia. Do privilégio que é acordar todos os dias e ver o sol brilhando, ou a chuva caindo, que seja. Das coisas que poderíamos ter feito de outra forma. 

Esta página negra de nossa história, manchada com o sangue de nossos filhos, amigos, irmãos, companheiros de estudos, de festas e de sonhos não pode passar em branco. E que Deus nos ajude com as feridas em nossos corações, para que eles aceitem o que não pode ser compreendido. Este não é o fim. Viveremos para honrar vocês, irmãos. Isto não é um adeus. Só um até breve. Aqui jaz nossa vida. Nossos corações insistem em continuar. Perdão a quem não compreende, mas hoje é impossível não chorar.


Em memória às vítimas da tragédia ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria, no dia 27/01/2013. Vinícius Severo

O sorriso de Paulinha


Foi no bar, não lembro o dia, mas a cerveja era bem gelada. Falávamos de coisas como a política e a sujeira da cidade. Ah, sim, eu estava acompanhado de um amigo. Ele era meu amigo, pelo menos. Até que ela apareceu. Morena e olhos verdes. Grande coisa, pois tinha as coxas mais sensuais que já havia visto. Olhei para outro ponto do corpo dela, mas não convém destacar, porque vou ficar com a pecha de machista.
Sentou-se próxima de nossa mesa, rodeada por outras amigas. Todas sem sal. Aliás, as mulheres precisam ter atenção ao sair com suas amigas. Cuidado com a princesa, o sapatinho de cristal dela sempre chama mais atenção do que as pernas das outras. Se a intenção for caçar (mulheres se pintam antes de sair), melhor telefonar apenas para as amigas de segunda linha – estou falando de beleza. O Vinícius mais famoso disse uma vez que beleza é fundamental, então quem são vocês para discordar.
Mas de repente, a nossa conversa acabou. Meu amigo só falava do corpo daquela morena, enquanto ela brincava com o canudinho do copo de caipirinha e ajeitava o cabelo. Táticas de sedução. Como se mulher linda precisasse disso para seduzir um homem. Basta existir e pronto, já seduz. Pedi outra cerveja. “Gelada, amigão, que nem a última”, falei para o garçom. Meu companheiro de mesa não notou que mandei anotar na comanda dele a bebida. Também não mandei não prestar atenção.
“Cara, eu preciso falar com essa mulher”, disse. “Vai ali e pede pra ela te pagar uma bebida”, brinquei, ironizando e achando que o assunto não era sério. Era. Que coisa. Ele queria a minha ajuda. Na guerra, às vezes os soldados começam a atirar para proteger o companheiro que vai invadir um ponto. Se chama dar cobertura. Quando você sai para beber com um amigo, pode ser preciso sacar as armas em um determinado momento. “Vou te ajudar”, falei, antes de vestir a farda da canalhice.
Fui até o balcão e ordenei que o garçom levasse uma rodada de caipirinhas para as garotas da mesa. Comprei a minha entrada. “Oi, gurias, estou em missão de reconhecimento”, falei.
Fui logo dizendo para elas que um amigo estava interessado numa delas e apontei quem era. Elas disseram ter percebido os olhares dele para a mesa. A morena ignorou solenemente. “Ele só quer um pouco do que move o mundo”, falei. Foi nesse instante que a dona das coxas perfeitas se manifestou “pra que ele quer dinheiro agora?”. Foi nesse momento que outra das meninas sorriu, e fez um sol nascer naquele início de madrugada. “Ele quis dizer que o amigo dele está buscando amor, amiga”. Conexão instantânea. Esqueci a morena, deixei meu amigo ali e convidei a dona do sorriso mais lindo da noite para conversar noutro lugar. Perguntei seu nome. Paula, ela respondeu, os lábios se mexendo em câmera lenta. Disse que os amigos a chamavam de Paulinha. “Perdão. Mas não pretendo ser teu amigo”. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Amo porque sim


Amo porque é simples. Se fosse complicado, não teria graça. Amo o que me faz sorrir e só porque me diverte. Amo, sim! E amo porque sim. Sem necessidade de cobrança, sem planos de vingança, sem explicações ou discussões de relação. Amo porque sinto. Amo e ponto. Amo e continuo, e insisto e ligo de volta se preciso.
Amo porque aprendi, porque me ensinaram, porque quem me disse o que era certo não explicou se era errado amar demais. Quero porque amo, mas amo porque preciso. Não que não queira, e quero muito. Mais repetitivo impossível. Sem sentido, desnecessário. Como se amar não preenchesse vazios. Amo e ponto. Amo e escrevo, e não me envergonho. Amo e aceito, amo e divido.
Amo e percebo. Por onde ando, vejo como amei demais errando. E como errei pouco amando. E como devo amar acertando, tentando. Ao menos sabendo, que a dor de amor não se lamenta. Não se joga no baú de memórias. A sensação a gente inventa. Amo porque sim, não me pergunte se faz bem.
Amo porque me apego. Porque pegar não tem tanta graça. A menos que você perceba que amar é só isso. Não é tudo aquilo que dizem. Eles não entendem, perdem muito tempo pensando. Eles não amam, não sentem. Falam em desapego, mas choram sozinhos. Falam em ser fortes implorando por ajuda.
Amo porque inspira, porque transborda. Porque faz sentido amar. Por mais que tenha enchido o texto com o mesmo verbo. Por mais que tenha ficado cansativo. Amo porque não cansa, e não canso de contar. Que aproveitei a vida até aqui sentindo o amor de todas as formas. E vivi, eu sei que vivi. Porque sim. Porque sim...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Reflexões sobre o mundinho


O mundinho em que vivemos

Num instante, uma foto inundou as redes sociais condenando a maior empresa do mundinho. Todos aproveitaram para criticar, se revoltar, afinal se provou que os grandes maltratavam os pequenos. Não sei, todo mundo pode errar. Gigantes ou nanicos. No mundinho, os primeiros a defender os grandes foram aqueles que recebem as migalhas deles. Claro, os ratos sempre se contentam com um pedacinho de queijo deixado pelos cantos da casa depois do lanche do patrão. Normal até aí. É só uma situação. Muitos telefones tocaram no mundinho. Embora o fato tenha se tornado público com a força da internet, oficialmente ninguém falará. E no mundinho isso é aceito porque a pequenez já faz parte do lugar. Acostume-se. O dinheiro compra tudo. E se você falar que a mortadela do patrão não presta, amanhã não terá mortadela na mesa. Capiche?


A inveja no mundinho

No mesmo mundinho impera a inveja. É uma questão histórica que vem desde o índio que desejava receber mais espelhinhos dos portugueses do que o seu colega de oca, da zona norte. Os caciques de uma oca privilegiada garantiam remunerações altíssimas aos seus. O mesmo não ocorria com quem trabalhava para os burgueses comerciantes. E quem afinal representa os interesses de todos? Os burgueses não queriam que os caciques, escolhidos por eles, pagassem bem aos índios. Porque isso faria com que seus serviçais se revoltassem. Dizem que no mundinho, o representante dos serviçais é de confiança dos burgueses. Vive bem, garante o seu e não precisa brigar pelos seus representados. Os acordos não ocorrem nas reuniões às claras. Eram feitas em esconderijos, sempre. Um dia, alguém disse que quem fica de frente para o patrão, vira as costas para o povo. Alguém disse e morreu pobre.


O poder no mundinho

A disputa pelos espaços de poder no mundinho também é altamente voraz. Há lobos vestidos em pele de cordeiro. Eles berram como bons cabritos de quatro em quatro anos para garantir o leitinho da família. Há lobos mais espertos, que sabem maltratar suas presas para arrancar delas a maior quantidade possível de seu sangue. Pelo poder vale tudo.


Como mudar o mundinho

Desista, se você acha que é possível. A minha melhor tese é de que a mudança do mundo só pode ser feita a conta-gotas. Pegue uma causa, não espere reconhecimento ou divulgação na mídia e seja feliz. Não promova reuniões onde seus amigos vão encher a cabeça de álcool. Eu decidi ouvir quem tem dificuldade, emprestar uma mão amiga dizendo “estou aqui se precisar”. Ponto final. De resto, sigo vivendo no mundinho. Um dia posso até sair de dentro dele. E com a certeza de que nunca pertenci a esse sistema. Ao menos até agora. 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Renascimento


Um dia a busca por dinheiro e poder irá acabar. Não vão mais ligar para status. Estender a mão será mais importante que meter a mão no sonho dos outros. Um dia, a ganância não irá acabar com os escrúpulos e a hipocrisia do mundo. Não precisaremos de líderes, porque haverá harmonia. Esse dia vai chegar, mas não agora. 

Ainda há uma etapa a ser cumprida, ainda há motivos pelos quais chorar e se machucar. Um dia será possível se libertar, mental e fisicamente, das exigências de um mundo consumista. Não será preciso mais usar máscaras, mentir, dissimular. Esse dia vai chegar, mas apenas para aqueles que sonharam com ele. E se permitiram realizar, todos os dias. Renascimento.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A gente deixa escapar quando se encanta

Não há como não entregar pistas, sinais, palavras, olhares. Tudo nos denuncia o tempo todo. Se você começa a se encantar por um sorriso, por desvendar alguns mistérios, por ir mais além na descoberta do desconhecido, isso transborda e você deixa escapar confissões despedaçadas sobre seus sentimentos. Saem como fragmentos do seu coração por aí e eles vão se perdendo em uma imensidão confusa do que você imagina que é felicidade. Entregando o que deveria ser um segredo apenas seu. É como se abrissem o seu diário e o achassem engraçado.

Sabe quando você solta um “lindo” que fica parecendo uma interjeição afeminada demais para um cara experiente? Rola esse preconceito pessoal, mas você prefere pensar que está agindo normalmente e se deixando levar. Mais ou menos isso. Essas coisas de encantamento que acontecem sob uma trilha sonora tranquila, ritmo lento, ideal para dançar de rosto colado, como quem flutua. O legal de gostar assim é que você ainda não pensa se a outra pessoa sente o mesmo, como nesses lances de paixão. Se você se apaixonar, parece haver uma obrigação em descobrir se é recíproco. E isso causa uma aflição sem tamanho. O lance de se encantar é só uma admiração que causa surpresa, e talvez uma felicidade sem explicação.

E o mais incrível de se encantar é que a mesma flor que você nem via no inverno agora é colorida e perfumada como jamais imaginou. Não consegue tirar os olhos dela, precisa sentir aquele cheiro todos os dias para lembrar do sabor da vida. É engraçada essa comparação porque fico pensando que as flores não deveriam representar nada parecido com o amor. Porque elas secam, morrem... Mesmo que cuidadas com carinho, regadas todos os dias. As flores secam, assim como as lágrimas. O encantamento não deixa de ser engraçado. Uma confissão de felicidade incompreensível.

Mas nada de falar em lágrimas, choro. Até porque ele não representa necessariamente apenas um estado de espírito de tristeza. Muito pelo contrário. Chorar pode ser de emoção, e ela nos denuncia sempre que aparece. Acredito que pessoas incapazes de se emocionar sentem mais dificuldade em expressar sentimentos. São desapegadas, como gostam de jogar aos quatro cantos para não confessar uma tristeza que incomoda. As aparências enganam, mas os sinais de que estamos gostando nos denunciam. E desapego me parece teoria de quem não tem amor no coração.